MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Amazonas registra mais de 3 mil casos de malária em áreas indígenas


Isolamento geográfico e diferenças culturais dificultam o diagnóstico.
Instalação de mosqueteiros e diagnósticos nas aldeias são feitos pela FVS.

Girlene Medeiros Do G1 AM

Índios acreditam que a doença é introduzida pelo branco (Foto: Antonio Cruz/ABr/Agência Brasil)Índios acreditam que a doença é introduzida pelo branco (Foto: Antonio Cruz/ABr/Agência Brasil)
Dos quase 16 mil casos de malária no Amazonas após a subida do nível dos rios, 3.200 são diagnosticados em áreas indígenas. O número representa 20% do total de pacientes em todo o Estado. Comunidades de índios, localizadas nas proximidades dos municípios com alto número de casos detectados, são as que mais apresentam o alto índice. As informações são da Fundação Vigilância em Saúde (FVS), que mapeia os números da doença no Amazonas.
O programa de controle da malária identificou que os altos índices entre indígenas estão localizados nas cidades de Atalaia do Norte, Tabatinga, São Paulo de Olivença e São Gabriel da Cachoeira. O órgão age em parceria com Distritos Especiais Sanitários Indígenas (DSEIs), mas de acordo com o chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS, Romeo Rodrigues Sialho, a tarefa de diagnosticar os casos é desafiadora. O isolamento geográfico das aldeias é apontado como uma das características que atrapalha o controle, prevenção, diagnóstico e tratamento da patologia.
Alguns índios acham que a malária é introduzida pelo branco e através do material usado para fazer o diagnóstico"
Romeo Rodrigues Sialho
"Esses casos não querem dizer que são em indígenas, mas são detectados em áreas indígenas. Há comunidades de índios mais isolados em que a maioria não fala português e a gente sempre leva um tradutor, mantemos um índio conosco para ajudar a traduzir ou um funcionário dos DSEIs, mas é uma situação difícil", afirmou ao G1.
Outro impedimento para as equipes são as diferenças culturais. Uma das medidas do órgão é a instalação de mosqueteiros com inseticidas e essa medida do Ministério da Saúde, segundo o coordenador, encontra dificuldades para ser implementada. "Estava em uma comunidade de índios Matis iniciando a distribuição dos mosqueteiros, mas encontramos muita dificuldade nessa atividade. Eles não acreditam que a malária é transmitida pelo mosquito. Eles acham que a doença é introduzida pelo branco e através da lanceta que a gente usa para colher o sangue e fazer o diagnóstico. Muitos preferem usar o método de cura tradicional, do pajé", disse Romeo.

Ainda de acordo com ele, a reação aos mosqueteiros varia de acordo com a etnia. "Na comunidade dos Marubo, nós ficamos surpresos. Eles nem falavam português e já utilizavam os mosqueteiros. Houve reuniões e boa participação com perguntas e fácil aceitação ao tratamento", explicou o chefe da FVS.

O tratamento para o paciente com malária tem que ser feito em horário regrado e o acompanhamento desse processo é feito, muitas vezes, em laboratórios instalados nas comunidades e com índios capacitados mas, de acordo com a FVS, as diferenças na cultura atrapalham o andamento da recuperação do indígena que contraiu a doença.
"O medicamento tem que ser ingerido no horário certo, mas se o índio percebe que já melhorou um pouco, interrompe o tratamento e vai caçar, pescar e ir a festas da tribo. Ele já não acreditam muito na doença e quando não estão sentindo nada já acham que estão bem, que estão curados. Eles devem pensar 'para que vou tomar esse monte de coisa?' É complicado e temos que passar por este tipo de barreira", finalizou.
Segundo a FVS, 28 laboratórios foram instalados em áreas indígenas e 80% desses locais são visitados trimestralmente.

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