MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Festa de boi tagarela celebra em tom pitoresco feriado santo em Campinas


Festejos de o 'Boi Falô' chegam à 17ª edição no distrito de Barão Geraldo.
Além de atividades artísticas, evento conta com distribuição de macarrão.

Tiago Gonçalves Do G1 Camipnas e Região

Edição 2012 da Festa do 'Boi Falô' no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (Foto: Tiago Gonçalves/G1)Marcela de Andrade levou o filho Marcelo Augusto
à festa popular (Foto: Tiago Gonçalves/G1)
Espanto guardado como segredo: o boi voltou a falar. Dessa vez, ao garotinho Marcelo Augusto. Afinal, o menino jura de pés juntos que, no exato momento em que cutucou o focinho da réplica de o 'Boi Falô', o animal desabou em bronca. "Sai de perto de mim...", imita Marcelo a voz pomposa de boi. Cai na gargalhada, acompanhado pela mãe, Marcela de Andrade.

Crendices à parte, o distrito de Barão Geraldo, em Campinas, serviu de cena para a realização da 17ª edição da tradicional Festa do 'Boi Falô'. O evento, que tem por meta celebrar a Sexta-Feira da Paixão em tom pitoresco, reuniu em 2012 aproximadamente 1,5 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar.

Apesar de morar em Barão, Marcelo Augusto, de 6 anos, desembarcou na festa pela primeira vez. Chegou ressabiado, feito passarinho quando cai em alçapão. Aos poucos, criou intimidade com a réplica do boi. É sempre assim com as crianças. "Achei que ele estava enterrado nas flores. Depois, vi que era só a cabeça. Não fiquei mais com medo", conta o menino. Para provar a valentia, desferiu petelecos no chifre do boi. Tornaram-se amigos. "Achei ele legal e até simpático". O fascínio beirou até a vontade de levar o animal empalhado para casa. Elegeu o quarto para guardar a relíquia. "Colocaria ele em cima da cadeira". Marcela, a mãe, reprovou de imediato: "Afff!".
Edição 2012 da Festa do 'Boi Falô' no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (Foto: Tiago Gonçalves/G1)Edição 2012 da Festa do 'Boi Falô' no distrito de Barão
Geraldo, em Campinas (Foto: Tiago Gonçalves/G1)
Acompanhando as peripécias do filho com o boi, Marcela contou que já participou de outras edições da festa. Natural de Pernambuco, mora há 18 anos em Campinas. Tomou a tradição para si. "É legal. Esta festa quebra um pouco da tristeza da Sexta-feira da Paixão...", explica a mãe. Não foi sempre assim. Quando participou do evento pela primeira vez, estranhou. "Onde eu morava antes era muito católico. Uma festa desta não aconteceria". Arrastar o pequeno Marcelo Augusto à festa tem razão concreta. Deseja perpetuar a tradição. "Não sei se quando ele crescer a festa continuará, né?". Ao contrário de os anos anteriores, neste ano Marcela degustou o macarrão oferecido gratuitamente.

Enquanto os adultos domavam a vergonha para aproximar do boi enfeitado, colocado em ponto estratégico da festa; os cozinheiros de plantão misturavam o molho ao macarrão. Em 2012, 700 quilos de massa e 80 litros de molho foram preparados. O público esperado seria de 2,5 mil pessoas. "Sabe como é, né? Italiano sempre faz a mais. Essa festa foi fundada por três italianos, que já faleceram", conta Zuleica Cabedio, uma das organizadoras. A fim de apaziguar o tom profano do festejo, uma vez que se faz embalado por música caipira e fanfarra, um padre foi incumbido de benzer o macarrão.
Ao final da reza, o padre José Luis Araújo, responsável pela Paróquia Santa Isabel, em Barão Geraldo; aspergiu água benta no macarrão e nos cozinheiros. Não encontra nenhum pecado de confessionário na festa. Pelo contrário, aprova a tradição popular. "Não estamos em um dia de luto e tristeza. A sexta é de alegria, porque a morte de Cristo não foi em vão. Foi por nós", ressalta o padre. Há dez anos participa do evento. Coloca sob a distribuição do macarrão, o ponto forte do festejo. "A partilha. Jesus compartilhou. Morreu pela partilha para nos garantir uma vida melhor".
Edição 2012 da Festa do 'Boi Falô' no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (Foto: Tiago Gonçalves/G1)De acordo com a PM, festa popular reuniu 1,5 mil pessoas em Barão Geraldo (Foto: Tiago Gonçalves/G1)
Ajuda?
A bênção do macarrão foi acompanhada por Pedro Serafim Jr. (PDT), prefeito em exercício de Campinas. Detalhe: em 2012, a quantidade de macarrão preparada diminuiu por falta de contribuição. Até porque o alimento vem de doações de empresários do distrito. Caiu de 900 quilos para 700. Interrogado pelo G1 sobre o distanciamento do poder público na realização do almoço da festa, Serafim Jr. afirmou que "não recebemos nenhum pedido de ajuda neste sentido. Estamos à disposição", explica o prefeito. Como de praxe, a prefeitura auxiliou apenas na preparação da estrutura da festa.
Edição 2012 da Festa do 'Boi Falô' no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (Foto: Tiago Gonçalves/G1) Família Silva desembarcou pela primeira vez na
Festa do Boi 'Falô' (Foto: Tiago Gonçalves/G1)
EstreiaSeu Paulo Luiz da Silva, de 59 anos, sempre ouviu falar bem do macarrão. Por essas e outras, resolveu pela primeira vez reunir a família e levá-la à festa. Dito e feito: foi o primeiro a receber o prato do almoço. Deu o braço a torcer aos comentários. "Achei o macarrão maravilhoso...", avalia Luiz.

Ao lado do marido, dona Maria Madalena, de 49 anos, ficou numa saia justa quando foi instigada a eleger qual o melhor macarrão: o da festa ou o do marido? Respondeu em tom diplomático: "Os dois, né? Não dá para escolher...", conta a mulher. Após o almoço em família, a dupla antecipou o programa da noite. "Vamos à procissão...!".
Mensagem
Apesar de profana, a Festa do 'Boi Falô' tem caráter solidário. Afinal, "tem muita gente que não tem o que comer neste dia...", lembra a organizadora. Noutro ponto, destaca Zuleica, os festejos propõem o encontro íntimo entre os moradores. "Vira uma grande família. Sou de Barão Geraldo e venho nesta festa desde pequena". Por fim, reaviva na cabeça dos mais jovens a tradição peculiar do distrito. Mesmo, um tanto sobrenatural. Se acredita na tagarelice do boi, Zuleica diz que sim. "Escuto esta história há 48 anos. Acredito".
Lenda
A lenda é ligeira. Contam que, numa Sexta-Feira Santa, o escravo Toninho foi trabalhar, sob ordens do capataz. Detalhe: a seu contragosto. Dito e feito: no meio do pasto, após encarar um boi, o animal resolveu conversar com o trabalhador. Na conversa, o boi ressaltava que o dia não era nada propício para a labuta na roça. O animal teria dito: 'Hoje é dia santo, é dia do Senhor, não é dia de trabalho'. Um espanto. Daí, "o Toninho foi até a casa grande gritando ao coronel: 'O boi falô, o boi falô...", completa Zuleica.

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