MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 21 de abril de 2012

Para analistas, candidatos franceses têm propostas irreais sobre imigração


Sarkozy mudou discurso; Hollande não se posiciona claramente.
Tema foi um dos principais neste turno, que ocorre neste domingo (22).

Ana Carolina Peliz Especial para o G1, em Paris

A imigração está sendo um dos temas centrais da campanha presidencial francesa, cujo primeiro turno ocorre neste domingo (22). Os dois principais candidatos, o atual presidente Nicolas Sarkozy e o deputado François Hollande, do Partido Socialista, estão de acordo em que é necessário um maior controle da imigração clandestina. Mas, em outros pontos, as propostas de esquerda e direita se diferenciam.
Ciclista passa em frente a painel com cartazes de candidatos à presidência da França,perto de Lille, neste sábado (21) (Foto: Reuters)Ciclista passa em frente a painel com cartazes de candidatos à presidência da França, perto de Lille, neste sábado (21) (Foto: Reuters)
Uma das propostas de Sarkozy é diminuir de maneira importante a imigração. O candidato chegou a falar em reduzi-la pela metade. Para isso, ele pretende endurecer as regras de reagrupamento familiar, aumentando as exigências para a concessão de vistos para cônjuges e filhos de pessoas que já moram na França de maneira legal. As famílias teriam que provar, por exemplo, que têm recursos financeiros e espaço em casa para acolher um novo membro.

Para a pesquisadora Mirna Safi, especialista em sociologia da imigração da Science Po, se eleito, Sarkozy deve impor regras dissuasivas. "Medidas de tipo simbólico, para dificultar a vida dos imigrantes e fazer com que eles desistam de viver na França." Dificultar ainda mais a concessão de visto para estudantes e pessoas casadas com franceses poderia fazer parte destas medidas.

"Ele diz que deve dificultar o acesso ao visto para estrangeiros casados com franceses, o que já acontece com os estudantes de outros países." Em maio do ano passado, Sarkozy limitou a concessão de vistos de trabalho para estudantes estrangeiros diplomados na França. A lei foi revista em janeiro deste ano, mas continua sendo questionada por organizações de estudantes.
Sarkozy também ameaça suspender a participação da França nos acordos de Schengen, se até o ano que vem não existirem progressos em matéria de limitação do fluxo imigratório entre os países que fazem parte. O acordo, feito entre países europeus sobre uma política de abertura das fronteiras, permite a livre circulação de pessoas entre os países signatários.

Para Riva Kastoryano, pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais de Sciences Po, esta é uma proposição irrealista e impossível de ser realizada a curto prazo. "Os outros países não aceitariam e não seria positivo para a França. Para sair do acordo de Schengen, a França precisaria do acordo dos 27 estados membros. Isso é praticamente impossível". Sarkozy também pretende pressionar os outros Estados europeus para dificultar a entrada de pessoas dentro das fronteiras do espaço Schengen.
Propostas da esquerdaA esquerda não se posiciona de maneira tão clara quanto a direita em relação à política de imigração. A principal proposta de François Hollande é a de sancionar a lei que dá aos estrangeiros que vivem há mais de cinco anos de maneira legal na França o direito de votar nas eleições municipais. Esta lei já foi votada no Parlamento em dezembro de 2011, mas Sarkozy disse que não vai aprová-la. Para ele o direito ao voto deve ser reservado aos cidadãos europeus, que já podem votar nas eleições municipais, e franceses.

Safi diz que a esquerda se preocupa com a imigração porque é uma questão sensível e sabe que com ela pode perder ou ganhar o eleitorado. "Então eles apelam um pouco para os sentimentos das pessoas sobre a questão", diz a pesquisadora.

Talvez por isso, as medidas de Hollande tratem de pontos sensíveis para as comunidades africanas que representam a grande maioria da população estrangeira e imigrante na França.
O candidato de esquerda promete, por exemplo, mudar os procedimentos da polícia para evitar que pessoas sejam consideradas suspeitas somente por parecerem estrangeiros. Ele também quer acabar com todo preconceito sofrido por pessoas de outros países no mercado de trabalho e para encontrar moradia, promessas que, segundo Safi, são difíceis de serem cumpridas.
Os dois candidatos também prometem lutar contra a imigração ilegal e o trabalho clandestino. Hollande também deve manter o Contrato de Acolhida e Integração lançado por Sarkozy quando ainda era ministro do Interior de Jacques Chirac. O documento exige que os imigrantes, antes de terem o visto de trabalho, participem de um curso de cidadania, provem que sabem falar francês e assinem um documento se comprometendo a respeitar as leis francesas.
Mudanças no discurso de SarkozyOutra medida proposta por Sarkozy é a de controlar o acesso de estrangeiros em situação irregular à saúde pública. Além disso, para o candidato-presidente, a concessão de vistos e também a cooperação para o desenvolvimento devem ser condicionados à colaboração do país em questão, para o retorno de imigrantes ilegais.

Mirna Safi lembra que o discurso de Sarkozy mudou muito. "Na eleição de 2007 ele falava de imigração selecionada e medidas de discriminação positiva. Tinha um discurso atípico sobre a imigração para um candidato liberal. Atualmente ele voltou para sua base de direita."

Para ela, a direita e a extrema-direita têm o direito de debater sobre o assunto. "Mas é necessário um contra-discurso da esquerda. A imigração é um tema político," afirma. "A esquerda também tem que falar desse assunto sem tanto paternalismo. Porque a verdade é que não existem só pessoas pobres ou perseguidas em seus países de origem que vêm para a França. Existem pessoas diplomadas e capacitadas que procuram emprego aqui."

Segundo ela, a imigração é sempre um tema polêmico. "Na Europa as pessoas são normalmente hostis em relação a este assunto. Em todo o mundo desde que existe crise econômica ou problemas de violência, a população reage contra os imigrantes."
Para ela, "a responsabilidade dos homens políticos é falar sobre o assunto, sem manipulação".
arte - frança - perfil candidatos (Foto: Arte/G1)

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