Festas de rodeio e exposições também 'ditam' o público sertanejo.
Grupo procura divulgar outras manifestações culturais em Bauru.
Dupla Fernando e Sorocaba é uma das mais
tocadas nas baladas sertanejas (Foto: Divulgação)
Artistas da nova 'moda sertaneja' estão cada vez mais em ascensão pelo país e o cenário não seria diferente no interior paulista. De acordo com o ranking do Ecad, das 10 letras mais tocadas neste ano, nove são de compositores sertanejos.tocadas nas baladas sertanejas (Foto: Divulgação)
Esse ritmo, adaptado para 'universitário', foi adotado pelos jovens interioranos e as baladas se resumem na repercussão de músicas de artistas como Jorge e Mateus, Michel Teló, Luan Santana, Fernando e Sorocaba, Victor e Léo, Gusttavo Lima, João Bosco e Vinícius, João Neto e Frederico e a sensação do momento João Lucas e Marcelo, responsáveis pelo sucesso 'Eu quero tchu, eu quero tcha'.
A cidade de Bauru (SP) foi uma das pioneiras nesse quesito. Na cidade até as casas noturnas que não tinham o perfil do sertanejo estão se rendendo a onda do ritmo universitário. O proprietário de um desses locais na zona sul da cidade, João Henrique Ferreira, acredita que as grandes casas noturnas têm que seguir o gosto do público, e hoje o sertanejo é o que está comandando. “Nós temos que dar espaço ao ritmo que o público está curtindo, e agora é a vez do sertanejo. É comum ver as casas de música eletrônica em São Paulo tocando o sertanejo, e o interior segue essa tendência”, destaca.
A temática da casa noturna foi inspirada na geração beat dos anos 50 e 60 nos Estados Unidos, jovens que colocaram o ‘pé na estrada’ para fazer uma revolução cultural por meio da literatura e no ritmo do jazz. Por isso, no início a casa era mais caracterizada por ritmos como rock e pop-rock.
Casa surgiu inspirada no movimento beats e atualmente cede espaço ao sertanejo (Foto: Divulgação)
João Henrique percebe que o mesmo perfil de público que frequentava o local para curtir essas músicas acabou se rendendo ao universo sertanejo. “O público está mais eclético hoje. Nós percebemos que mesmo jovem que curte pop, rock, também ouve sertanejo. Tem uma grande influência da mídia também, que passou a dar espaço essas duplas do sertanejo universitário, as pessoas passaram a ouvir mais e acabam gostando”, completa.em shows com cantores famosos como Gusttavo
Lima. (Foto: Divulgação)
“Antigamente existia uma rejeição do público jovem, universitário, ao sertanejo em Bauru. Só tocava nas casas específicas para esse público porque a maioria via como aquela música caipira, do jeca, as duplas eram mais tradicionais. Hoje existe esse movimento do sertanejo universitário, as duplas são mais jovens, muitas vezes se formam nesse ambiente, da universidade”, afirma.
A tendência não é diferente em Itapetininga (SP). Na cidade, cerca de 90% do público prefere shows sertanejos, pelo menos, é o que aponta pesquisa feita pelos organizadores da ExpoAgro. A assessoria de imprensa da festa informou que todos os anos faz um levantamento para saber quem o público quer ver se apresentando na exposição e distribui um formulário para preenchimento em pontos de grande circulação da cidade indicando os artistas preferidos. A partir disso, os organizadores da festa contratam os shows.
Michel Teló é um dos nomes mais requisitados em
shows de exposições e rodeios do interior paulista
(Foto: Divulgação)
Como informa a assessoria, em 2011 cerca de 20 mil pessoas compareceram ao show do Michel Teló e, na época, o grande sucesso do cantor, “Aí se eu te pego”, que foi exaustivamente tocada no país e no exterior, nem havia estourado. Já no show da badalada cantora de axé, Claudia Leitte, o público presente foi de 13 mil pessoas.shows de exposições e rodeios do interior paulista
(Foto: Divulgação)
Como conta um dos responsáveis pela organização da festa, apenas 10% do público prefere outros estilos, como rock, samba e pagode, MPB e axé. A justificativa pela escolha sertaneja é que os moradores do interior paulista tem características parecidas com os artistas e acabam se identificando com eles, como o uso de chápeus e botinas, a linguagem e a simplicidade e indicam que o estilo de vida do interior paulista é como o do interior de outras regiões do país, como Goiás, berço do sertanejo. Outro ponto que pesa na escolha sertaneja são as músicas com refrões curtos e repetitivos, que acabam criando jargões e caindo no gosto popular.
“As casas de musica eletrônica que abriram no Centro da cidade, duraram muito pouco tempo abertas, menos de seis meses a um ano já fechavam suas portas, mostrando a resistência do publico em aderir novos estilos musicais”, completa. A jovem se encontrou mesmo na cidade pelas festas universitárias, que apesar de terem um pouco mais de 'liberdade rítmica', também tinha lá seu lados para o sertanejo.
“As festas universitárias, que já estiveram mais em alta, são eventos temporários, mas que tornam opção, não pelo estilo de musica que tocam, mas por aglomeração de pessoas. Nessas festas universitárias, nota-se um ambiente mais aberto, livre, as pessoas descontraídas e os estilos musicais são amplos, na tentativa de agradar a diversidade das pessoas que ali frequentam. Porem, as raízes não negam e o sertanejo predomina. Talvez, não por uma paixão maior pela musica sertaneja, mas por falta de opção”, finaliza.
Universitários reunidos para uma festa a fantasia
(Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal Camilo Leles)
Camilo Leles tem 21 anos e é adepto a um novo estilo de festas universitárias. Em entrevista ao G1, ele, que está no 4° ano de Comunicação Social, diz que junta toda sua turma da faculdade e promove festas nas casas dos pais em Sorocaba (SP) quando eles estão viajando, com o total consentimento deles. “Em geral, são organizadas pelas redes sociais, com a criação de eventos no facebook, postamos flyer de divulgação. A ideia surgiu com a intenção de realizar algo diferente, divertido, criativo, para bebermos e nos divertimos”, relata.(Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal Camilo Leles)
O jovem também destaca a vantagem da responsabilidade com a bebida – “Podemos beber sem preocupação em quem vai dirigir, porque dormimos na casa não precisando retornar após o consumo de álcool, fato impossível em baladas e bares que quem dirige não pode beber, e aproveitamos para arrumar e limpar tudo no dia seguinte” finalizou. O estudante comenta que as músicas são bem ecléticas, dependendo da festa, algumas que são mais estilo balada, possuem mais músicas eletrônicas, mas as sertanejas estão em todas – “elas não podem faltar!”, salienta.
A criatividade dos jovens é tanta que todas as festas são personalizadas, com nomes próprios. “Realizamos uma festa que está em sua sexta versão, sempre na mesma casa quando os pais viajam, a festa é baseada em energéticos, possui o nome de Sextaurina, pois taurina é a substância principal do energético e é sempre realizada em sextas-feiras. Essa festa que é quase balada, já possui temas como a fantasia, a fantasia com base em música, a última foi tema xadrez. Também temos um amigo com o apelido de Bodão e mora em um apartamento - lá realizamos a festa Sabodão, sempre aos sábados. Outra festa é o Paulingo, em um sítio de um amigo chamado Paulo aos domingos - esta festa é geralmente numa tarde, bem sertaneja. Também já realizamos Iperalcool que foi em Iperó (SP), Japapê que foi com comida japonesa, Carnativoli no carnaval”, comenta.
Festa 'Sabodão' já é tradicional no calendário das aulas (Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal Camilo Leles)
A nomeação dessas festas, segundo Camilo, surgiu através de uma brincadeira de misturar os nomes e atrair a galera. “Foi meio do nada, para diferenciar, fugir do tradicional e como o pessoal aderiu, a gente passou a utilizar sempre”, completa.Na contramão
Mudando de cenário, Bauru também se destaca por ser uma cidade universitária que a cada início de ano letivo conta aproximadamente 26 mil universitários. Muitos deles frequentam o circuito de casas noturnas da cidade, onde o ritmo sertanejo impera. Mas, por outro lado, é também no ambiente das universidades que surgem movimentos culturais alternativos que buscam divulgar outros tipos de estilos musicais e atrações. Um dos exemplos é Enxame Coletivo, que é uma “célula” do Circuito Fora do Eixo, uma rede nacional de promoção e divulgação da cultura livre.
Enxame promove eventos como Festival Canja, que incentiva outros estilos musicais. (Foto: Divulgação)
“O coletivo atua como disseminador do trabalho coletivo e integrado praticado pelo Circuito. Enxergamos nosso papel muito mais como articuladores e fomentadores dessas conexões, para que a cadeia da cultura cresça de forma integral e plural, abarcando os diversos movimentos existentes”, explica Lucas Grilli Maia, um dos integrantes do Enxame. Dentro desse objetivo, o grupo promove eventos de divulgação da cultura local e regional, como o Festival Canja, evento anual que reúne e integra manifestações artísticas, como teatro, circo, música, dança, fotografia, entre outros; Noite Fora do Eixo, realizada todo mês com participação de artistas locais e de todo país; Grito do Rock, entre outros eventos culturais, que tem atraído cada vez mais o público.“A resposta do público é sempre positiva, não necessariamente pelo estilo da música que está tocando, ou o grupo de teatro se apresentando, ou o filme exibido, mas por haver essa movimentação positiva da cultura. Desde o início das atividades, o público que acompanha as atividades do Coletivo cresceu bastante”, afirma Lucas.
Apesar desse aumento do público que acompanha o Enxame Coletivo, ele destaca que atrair mais pessoas para outros tipos de culturas, mais alternativas é um trabalho constante. “A formação de público é um trabalho a longo prazo e não é fácil, ainda existe bastante pré-conceitos e uma comodidade quanto ao que já existe. A cultura de se deslocar para acompanhar um show de música cover ainda é muito forte, muitas pessoas ainda tem um pouco de dificuldade para prestigiar sons próprios, muitas vezes pelo simples fato de nunca terem ouvido a música”, completa.
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