MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 13 de maio de 2012

Deficiente visual diz que maternidade foi seu maior desafio


Mulher parou de trabalhar quando teve filha com síndrome de Down.
Depois de criar os filhos, ela fez faculdade e passou em concurso público.

Ricardo Campos Jr. Do G1 MS
Áurea com as filhas Alice (esquerda) e Jécyka (direita) (Foto: Helder Rafael/G1 MS)Áurea com as filhas Alice (esquerda) e Jécyka (direita) (Foto: Helder Rafael/G1 MS)
A administradora Áurea Sena da Silva, 46 anos, não enxerga desde que nasceu. A deficiência visual fez com que a experiência ser mãe se tornasse o maior desafio que ela teve de enfrentar junto com o marido, que também é cego. E Áurea ainda conseguiu conciliar o casamento, com estudo, trabalho e - o mais importante - a criação das meninas.
“Mãe é sinônimo de coragem, amor e fé. Se você tiver esses três pensamentos na vida e conseguir colocá-los como meta, você consegue superar qualquer coisa”, disse ao G1.
Apesar de planejar a primeira gravidez, há 17 anos, o casal temia que a criança também nascesse com problemas na visão. Foi uma surpresa quando os dois descobriram que a filha, Alice, nasceu com síndrome de Down.

“Foi uma gravidez saudável. Quando nasceu, os médicos não falaram nada. Para mim, a criança estava normal. Com oito dias, o pediatra pediu que a levasse ao consultório. Ele detectou que ela tinha um batimento cardíaco anormal”, conta. “Quando veio o resultado do exame, foi descoberto que tinha um problema muito sério no coração. Nós fomos no consultório de um especialista e ele disse que a minha filha tinha síndrome de Down, e que o problema cardíaco era característico da doença”.
Áurea disse que saber sobre a deficiência da filha foi um “choque” para toda a família. “Jamais imaginava que poderíamos ter uma filha com a síndrome. Algumas pessoas da família falaram que ela não tinha condições de viver e iria atrapalhar a nossa vida, mas nós assumimos essa luta”, conta a administradora.
Não enxergar tornou as coisas mais difíceis para Áurea. Segunda ela, várias vezes teve que acordar vizinhos na madrugada para ajudá-los a levar a criança ao hospital quando ela passava mal por conta da doença. A mãe diz ter percebido que precisava estar ao lado da filha durante todo o tempo e resolveu largar o emprego.
Ser mãe foi sinônimo de superação para deficiente visual (Foto: Helder Rafael/G1 MS)Ser mãe foi sinônimo de superação para
deficiente visual (Foto: Helder Rafael/G1 MS)
“Eu sempre trabalhei. Na época, eu era concursada e deixei tudo para trás. Ela [filha] precisava de cuidados de mãe”, relata.
Foram três anos, segundo ela, dedicando-se totalmente à menina. “Eu não deixei de atendê-la em nenhum momento”, conta.
Ela retomou a carreira somente quando a criança já estava mais crescida e podia ficar com uma babá. “Foi assim que me superei. Eu tinha perdido toda a minha empregabilidade. Tive que voltar à estaca zero. Juntei meus materiais, voltei a estudar”, diz.
Ela conta que na época tinha somente o ensino médio. Então, decidiu fazer faculdade de administração e, depois de quatro anos e com o diploma na mão, passou a se preparar para concurso público.
Áurea conta que passou na prova para trabalhar na antiga concessionária de água de Mato Grosso do Sul, que na época era estatal. “Tudo foi superação. Fui trabalhar num local perto de uma rodovia e eu tinha que atravessá-la todos os dias para pegar um ônibus e voltar para casa”. Ela afirma que conseguiu subir de função na companhia com muito esforço. “Cheguei ao ponto de ser responsável pelo sistema de gestão da qualidade daquela empresa”.
Há oito anos, ela sentiu vontade de ser mãe novamente. Na época, a empresa foi privatizada e Áurea conta que foi demitida junto com outros funcionários. Foi esse o momento que ela encontrou para prosseguir com o sonho de ter outra filha.
“Várias pessoas falaram que eu estava fazendo uma loucura. Falaram que eu estava cometendo uma erro. Graças a Deus, minha segunda filha hoje tem oito anos e também é muito estudiosa”, relata.
Áurea diz encarar com naturalidade o fato de ser deficiente, mas diz que a sociedade não aprendeu ainda a aceitar as pessoas que têm esse tipo de problema. “O mundo ainda não cresceu o suficiente para viver a diversidade humana. Nós ainda estamos na época do salve-se quem puder”, afirma.

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