MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fabricante de telhas cresce com foco no mercado interno e diversificação


Faturamento da Eternit cresceu 8% em 2011 ante avanço de 2,9% do setor. Em 5 anos, participação dos novos negócios saltou de 5% para quase 20%.

Darlan Alvarenga Do G1, em São Paulo

Selo Eternit (Foto: Editoria de Arte/G1)
Com alta de 8% no faturamento em 2011 e crescimento acima do PIB (Produto Interno Bruto) do país e da construção civil nos últimos 10 anos, a Eternit tem apostado na expansão do mercado interno e na diversificação do portifólio para driblar a crise de competitividade que atinge a indústria brasileira e para crescer sem depender de exportações.
(Prejudicada pela crise na Europa, pelo câmbio e pela concorrência chinesa, a indústria brasileira, sobretudo a de transformação, perde dinamismo e peso na economia. O G1 publica nesta semana série sobre as estratégias de empresas que se renovaram e se mantêm competitivas.)
As fábricas da empresa iniciaram o segundo trimestre operando no mesmo nível do ano passado, acima de 85% da capacidade, e segundo o presidente da companhia, Élio Martins, está mantida a previsão de investimentos da ordem de R$ 45 milhões para 2012, entre manutenção e modernização das instalações do grupo, que atua nos mercados de telhas, sistemas construtivos, louças. A empresa também acaba de ingressar no segmento de metais sanitários.
“O setor de materiais de construção é o que menos sofre com as crises porque as pessoas vão estar sempre construindo, reformando, ampliando”, diz o presidente da Eternit. “Temos o privilégio de estar num segmento onde o que não é consumido hoje, é consumido amanhã. Diferente, por exemplo, do que ocorre no ramo de alimentação. Mesmo com todas as dúvidas por conta da crise internacional, ainda estamos num ritmo de demanda muito bom. E ainda que este nível venha sofrer alguma variação, temos a certeza de que o que estará havendo será um represamento de demanda”, acrescenta.
Em 5 anos, a participação dos novos negócios no faturamento da companhia saltou de 5% para quase 20%. No mesmo período, a receita líquida da companhia praticamente dobrou, chegando a R$ 820,2 milhões em 2011.
As telhas de cimento com amianto ainda respondem por 55% do negócio da Eternit, que está no mercado brasileiro há 72 anos. Os outros 25% do faturamento do grupo vem das operações da Sama, mineradora de amianto crisotila situada em Minaçu (GO). A meta de longo prazo é que os novos negócios representem até 50% da receita do grupo.
           RAIO-X DA ETERNIT
2.500 funcionários, 11 fábricas e uma mina de amianto crisotila
Faturamento de R$ 820,2 milhões em 2011. Em 5 anos, participação dos novos negócios saltou de 5% para 20%
Diferenciais de mercado: foco no mercado interno, investimento em expansão e modernização das instalações; diversificação de portifólio via aquisições e parcerias; logística de entrega em qualquer ponto do país em até 72h.
"Diversificação para nós é tudo que não contém amianto, porque o DNA da empresa é amianto. Tudo que fizemos até 2007 estava calcado em fibra de amianto e fibrocimento”, explica Martins. "Partimos agora para um segundo ciclo, que é transformar a Eternit em uma empresa diversificada com atuação do piso ao teto".
Exportações do setor recuam
Enfrentando uma menor concorrência de importados, e favorecido pelo crescimento da demanda no mercado interno, o setor de materiais de construção têm conseguido manter um desempenho superior ao da média da indústria nacional. O faturamento das indústrias do setor cresceu 2,9% no ano passado, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Em 2011, o crescimento do PIB da construção civil foi de 3,6% e da indústria foi de 1,6%, de acordo com o IBGE. Já a indústria da transformação cresceu apenas 0,1%.
Para 2012, a Abramat prevê um crescimento de 5% para a indústria de materiais de construção. Mas, segundo o presidente da Abramat, Walter Cover, os importados já respondem por 10% das vendas, e esse avanço começa a preocupar, uma vez que o Brasil passou a ter déficit na balança comercial.
"No período de 2002 a 2006, tivemos um crescimento vigoroso nas exportações. Depois estacionou, e agora voltamos aos níveis de 2004. Temos um setor pujante, com condições de competir internacionalmente em termos de qualidade, que estava começando a ganhar mercado na América Latina, Ásia e Oriente Médio, que passou a sofrer por questões macroeconômicas", diz Cover.
Élio Martins, presidente da Eternit, que acaba de lançar uma linha de metais (Foto: Darlan Alvarenga/G1)Élio Martins, presidente da Eternit, que entrou neste ano no mercado de metais (Foto: Darlan Alvarenga/G1)
Em 2010, o setor registrou déficit na balança comercial de US$ 1,6 bilhão, após 10 anos seguidos no positivo. As exportações, que chegaram a somar US$ 5,3 bilhões em 2008, caíram para o patamar de US$ 4,3 milhões em 2010. Já as importações saltaram de US$ 4,8 bilhões para US$ 6 bilhões no período. A Abramat estima que, em 2011, o défit tenha ultrapassado os US$ 2 bilhões.
Empresa exporta só o excedente
A Eternit está entre as empresas que ainda não conquistaram mercados no exterior. A companhia chegou a exportar telhas para Angola no passado, mas as encomendas deixaram de ser feitas após a instalação de fábricas chinesas no continente africano.

Atualmente, a empresa exporta apenas o mineral crisolita. Em 2011, as exportações da companhia somaram R$ 100 milhões, um recuo de 10% em relação ao ano anterior. A Eternit atribui a queda ao efeitos de câmbio, uma vez que os volumes vendidos foram praticamente os mesmos. Mas, segundo o presidente do grupo, o impacto foi pequeno, uma vez que a empresa não vende para o exterior produtos acabados. "Exportamos apenas o excedente, o nosso foco, mesmo para a Sama, é o mercado interno", explica Martins.
Para a Eternit, investir no Brasil com foco na exportação continua sendo um negócio de risco. "A exportação não é um negócio confiável para o nosso setor. É diferente de exportar soja e minério de ferro, onde não tem erro porque nem todo mundo produz. É um mercado cujas variáveis você não controla. Pode haver uma virada no câmbio, barreiras alfandegárias, e de um dia para o outro você não ter mais o negócio na mão”, diz o executivo.
Estratégias de expansão
Todo o foco da Eternit está nas oportunidades do mercado interno. Para acelerar o processo de diversificação dos negócios, a companhia adotou a estratégia de entrada em novos segmentos via aquisições, terceirização e parcerias com fabricantes estrangeiros. “Quando se fala de expansão e diversificação, o mercado sempre reage com alguma preocupação. Para ficar com os pés no chão, decidimos não sair do setor de materiais, e optamos por começar utilizando capacidade de terceiros para poder entender o mercado, a necessidade do cliente, o que ele compra, em quem que região, o design que ele busca. Com isso, quando se vai para uma industrialização, o risco de erro é quase zero”, explica.
Eternit (Foto: Divulgação)Telhas de fibrocimento respondem por mais de 50% do negócios da Eternit (Foto: Divulgação)
Os principais movimentos da Eternit nos últimos anos incluem a compra da Tégula, marca líder no segmento de telhas de concreto, a entrada no mercado de louças, assentos sanitários e caixas d'água de polietileno, e o anúncio de uma parceria com a colombiana Corona para a construção de uma nova fábrica em Caucaia (CE), com investimento total de R$ 97 milhões.
Com a nova unidade, a companhia prevê reduzir para 10% o volume de louças importadas. “Essa fábrica, na sua fase inicial, vai representar 90% do negócio da Eternit em louças. Essa fábrica terá capacidade de 1,5 milhão de peças ano e imaginamos que iremos inaugurar essa planta já iniciando um processo de duplicação, porque pelas nossas projeções vamos chegar na inauguração já vendendo o equivalente à capacidade instalada”, diz o executivo.

A entrada no mercado de metais, anunciada em abril, acabou sendo um desdobramento natural, já que esse tipo de produto costuma ser vendido junto com as louças. O modelo de negócio também é praticamente o mesmo: produtos com a marca Eternit, mas fabricados por terceiros no Brasil e também no exterior, em países vizinhos, na China e até na Europa. “Os resultados dos próximos meses irão apontar as parcerias mais vantajosas e estão abertos a construir joint ventures de produção no Brasil com grandes players internacionais”, afirma o presidente do grupo.
Embora não divulgue o percentual de produtos importados, a Eternit garante que a produção própria em território nacional continua sendo estratégica para o grupo. “Não somos uma indústria com perfil de importação, estamos começando o negócio e para isso optamos por utilizar a capacidade de terceiros para entender melhor o mercado. E a maior prova que não é só discurso, em menos de dois anos na operação de louças, já iniciamos a construção da nossa fábrica”, diz o executivo.
A nova fábrica no Ceará, prevista para ser concluída no final de 2013, será a 12º da companhia no país, e a previsão é criação de 320 novos empregos.
Após dois anos no mercado de louças, Eternit decidiu abrir fábrica própria (Foto: Darlan Alvarenga/G1)Após 2 anos no mercado de louças, Eternit decidiu
abrir fábrica própria (Foto: Darlan Alvarenga/G1)
'Tem muito espaço para crescer aqui'
A Eternit também afirma que não está nos planos da companhia neste momento a abertura de fábricas em outros países, a exemplo do que tem sido feito por diversas indústrias em razão do custo da mão de obra.
Segundo o executivo, mesmo pagando um custo mais alto, a produção local garanta a “perenidade do negócio”, sobretudo quando o foco é o abastecimento do mercado interno. “O Brasil, apesar da falta de infraestrutura, do alto custo, ainda é um país de grandes oportunidades, o mercado interno é pujante. Não vamos ainda fazer movimentos internacionais enquanto nós não esgotarmos todas as possibilidades de crescer aqui e acreditamos que tem muito espaço para crescer aqui”, diz. “Mas nós também esperamos, como toda a indústria espera, que essa questão do avanço da importação não seja algo duradouro porque isso pode matar a indústria brasileira”, ressalva.
Na avaliação da Eternit, o maior estímulo que o governo poderia dar ao setor seria aumentar a oferta de crédito e linhas de financiamento para construções e reformas. “Quando se tem geração de emprego, distribuição de renda e crédito, a construção civil pega outro ritmo”, diz. “O financiamento no Brasil ainda é muito baixo, o que faz com que a construção civil ainda tire muito do salário da população”.
A Abramat estima que as reformas e ampliações, o chamado "consumo formiguinha", feito diretamente pelas famílias, e portanto sem associação direta a grandes investimentos ou crédito, já responda atualmente por 55% do total das vendas do setor.
A cadeia produtiva da construção responde por  8,3% do PIB brasileiro, empregando mais de 11 milhões de pessoas. Segundo a Abramat, o setor de materiais de construção representa 15,5% dessa cadeia, empregando cerca de 700 mil trabalhadores em suas indústrias de materiais de base e de acabamento.
Marmore sintético como nova aposta
A próxima aposta da Eternit é o mármore sintético. Os primeiros produtos estão sendo desenvolvidos numa fábrica de Goiás e o plano inicial prevê lançar a nova linha de cubas, pias e tanques em 2013. O produto já existe no mercado e está hoje associado à moradia popular. A idéia da empresa é adicionar valor e marca ao produto.
"A filosofia da Eternit é oferecer do standard ao premium em todos os segmento", diz Martins. "O mármore sintético é o produto das construções econômicas, mas ele pode ganhar status e ir para o campo do design porque dá para fazer coisas coloridas e maravilhosas com o produto", opina.
Para presidente da companhia, entretanto, mais do que a diversificação ou a ampliação do portifólio, o maior diferencial da Eternit ainda está na logística de distribuição para mais de 15 mil pontos de venda. "Entregamos em qualquer estado, para qualquer cliente num tempo médio 72h. Temos estoque em todas as fábricas, então quando um cliente coloca um pedido de telhas e pede só dois vasos sanitários, a Eternit também entrega".
Linha de produção da Eternit em Simões Filho  (BA) (Foto: Divulgação)Linha de produção da Eternit em Simões Filho, Bahia (Foto: Divulgação)
Polêmica do amianto
Embora a diversificação faça parte da estratégia de crescimento da empresa, a Eternit admite que a discussão em torno do banimento do uso do amianto no país devido a riscos de doenças pulmonares contribuiu para que a empresa buscasse a entrada em novos nichos.
“Não posso dizer que isso não impulsionou este projeto. Essa preocupação acelerou o processo, mas nós já vínhamos discutindo a partir do momento em que a empresa se tornou genuinamente brasileira em 2004”, diz Martins. Hoje apenas 8% das ações pertencem a investidores estrangeiros e a empresa não possui mais vínculo com a Eternit de outros países.
O uso de produtos com amianto ainda é um tema controverso. Em 1995, o Congresso Nacional aprovou uma lei que regulamenta o uso do amianto, mas a legislação foi questionada no Supremo Tribunal Federal, que ainda não julgou o caso.
A Eternit afirma que segue padrões de segurança que superam as exigências legais, que atua neste mercado com total transparência  e que não há registro de casos de pessoas que tenham contraído doenças por viverem em casas cobertas com telhas de amianto.
Segundo o Instituto Brasileiro do Crisotila, que representa o setor, são 11 as empresas que utilizam hoje o amianto, num total de 16 fábricas de fibrocimento. A Sama, do grupo Eternit, é a única mineradora de crisotila que opera no país. A maior concorrente da Eternit no Brasil, a Brasilit, do grupo francês Sanit-Gobain, desenvolveu uma tecnologia exclusiva de cimento reforçado com fios sintéticos e desde 2001 deixou de usar o amianto em seus produtos.
"É uma disputa comercial,  esse é o ponto. Tem 50 países que dizem que não querem mais usar [o amianto], mas tem 160 países que estão usando, e o Brasil é referência. Se nós não tivéssemos conseguido chegar no nível de segurança que hoje temos, já teríamos saído”, diz o presidente da companhia.
Se o futuro do negócio ainda é uma incógnita, a polêmica em torno do uso do amianto não parece ter afetado até agora as vendas da Eternit.  “É um mercado que cresce mês a mês. Uso o rico, o pobre e a classe média. Saíamos de uma produção 650 mil toneladas de telhas de fibrocimento para 900 mil em três anos", diz o presidente da empresa, que informa deter 32% do mercado de telhas de fibrocimento no país. "Estamos crescendo nas duas pontas. Se não fosse isso, a diversificação já seria superior a 30%”, completa.

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