MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 26 de maio de 2012

Falta de pediatra em Anajás, no Pará, deixa crianças desamparadas


Município do arquipélago do Marajó precisa de profissional qualificado.
Na ausência de um especialista, enfermeiro assume o papel de médico.

Evandro Santos Do G1 PA

Anajás, no arquiélago do Marajó, não tem pediatra para cuidar das crianças (Foto: Ary Souza/ O Liberal)Anajás, no arquipélago do Marajó, não tem pediatra para cuidar das crianças (Foto: Ary Souza/ O Liberal)
A secretária de Saúde de Anajás, no Marajó (PA), Dilma Soares, confirmou neste sábado, 26, que o município continua sem médico pediatra para atender a população que procura o hospital local. A falta do profissional para cuidar da saúde das crianças já dura há mais de quatro meses.
Há três meses, uma criança morreu com diarreia, sem atendimento adequado. O diretor do hospital municipal, Claudionor Assis de Vasconcelos, disse que a prefeitura oferece diária de R$ 800 a R$ 1.200 para pediatras que aceitem trabalhar na cidade.
Mas até agora, nenhum profissional aceitou a proposta. Anajás é um dos municípios mais pobres do arquipélago do Marajó, com cerca de 25 mil habitantes. De Belém até a sede do município são mais de 24 horas de viagem de barco.

Atualmente, apenas quatros médicos, entre clínicos e cirurgiões, se reversam durante o mês para atender os pacientes na principal unidade hospitalar de Anajás. Por dia, o hospital distribui 64 fichas para o atendimento geral. Mas o atendimento varia, de acordo com o dia e a hora em que os pacientes chegam a procura de ajuda.
A falta de um especialista em pediatria deixa o atendimento às crianças deficiente. Na ausência do profissional qualificado, um enfermeiro experiente assume o papel do pediatra em Anajás. “Enfermeiro não é médico. Se a gente tivesse (um pediatra), muitos casos (de doenças) seriam resolvidos aqui”, disse o administrador do hospital.
Assis de Vasconcelos considerou que a malária desmotiva muitos médicos a trabalhar no município marajoara. Dados da Secretaria de Saúde do Pará mostram que de janeiro a abril, deste ano, a doença já contaminou mais de 10 mil pessoas. Além disso, a cidade não possui nenhum tipo de saneamento básico.
A inexistência de um sistema de esgotamento sanitário e a própria falta de tratamento de água têm causado vários tipos de doença na população como verminoses e diarreias. Diante da realidade, alguns médicos se recusam a trabalhar na cidade, disse Claudionor.
A secretária de Saúde de Anajás disse, neste sábado, à reportagem do G1 que o hospital municipal não pode pagar mais de R$ 800 a um pediatra. Embora reconheça que o valor é baixo, Dilma acha que, “para 15 dias (o valor da diária), está bom”.
Ela explicou que o aumento do valor da remuneração dos médicos que trabalham em Anajás depende do aumento do número de leitos no hospital. Atualmente, a unidade conta com 21 leitos. A previsão é de que em breve, após reforma no prédio, o espaço passará a ter mais 15 leitos. Mas isso vai depender da avaliação dos engenheiros da obra.
Dificuldade
Não é fácil trabalhar como médico numa região do tamanho de Anajás, um município cortado por muitos braços de rios, cheio de matas, e com dezenas de comunidades ribeirinhas que precisam de assistência. A secretária de Saúde do município diz que está a procura de um “médico do povão”, ou seja, capaz de atender até dentro de um restaurante, na hora do almoço.
O apelo da secretária expressa o estilo de vida do anajaense, que não se preocupa com horários nem protocolos quando o assunto é cuidar da saúde. Muitos viajam a manhã toda pelos rios da região em busca de atendimento na cidade. E quando chegam, querem ser atendidos na hora.
Para trabalhar em Anajás, o médico precisa ter disposição e amor aos pacientes pobres. Não bastasse a dificuldade de acesso e a falta de infraestrutura da cidade, o hospital municipal sempre tem um problema para resolver. Na semana passada, as lâmpadas de foco da sala de cirurgia estavam queimadas.
O dano no aparelho suspendeu alguns trabalhos, como a realização de partos cesarianos, temporariamente. Mas a secretaria de Saúde disse que as lâmpadas danificadas já foram substituídas.
As dificuldades no trabalho em uma região castigadas por doenças são tantas que chegam a desanimar o cirurgião Edgar Hidalgo, um peruano naturalizado brasileiro, que passa 15 dias em Anajás e recebe uma diária de R$ 1.200. “A gente só trabalha aqui porque é uma necessidade, não porque a gente gosta”, desabafou o médico.

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