Município do arquipélago do Marajó precisa de profissional qualificado.
Na ausência de um especialista, enfermeiro assume o papel de médico.
Anajás, no arquipélago do Marajó, não tem pediatra para cuidar das crianças (Foto: Ary Souza/ O Liberal)
A secretária de Saúde de Anajás, no Marajó (PA), Dilma Soares, confirmou neste sábado, 26, que o município continua sem médico pediatra para atender a população que procura o hospital local. A falta do profissional para cuidar da saúde das crianças já dura há mais de quatro meses.Há três meses, uma criança morreu com diarreia, sem atendimento adequado. O diretor do hospital municipal, Claudionor Assis de Vasconcelos, disse que a prefeitura oferece diária de R$ 800 a R$ 1.200 para pediatras que aceitem trabalhar na cidade.
Mas até agora, nenhum profissional aceitou a proposta. Anajás é um dos municípios mais pobres do arquipélago do Marajó, com cerca de 25 mil habitantes. De Belém até a sede do município são mais de 24 horas de viagem de barco.
A falta de um especialista em pediatria deixa o atendimento às crianças deficiente. Na ausência do profissional qualificado, um enfermeiro experiente assume o papel do pediatra em Anajás. “Enfermeiro não é médico. Se a gente tivesse (um pediatra), muitos casos (de doenças) seriam resolvidos aqui”, disse o administrador do hospital.
Assis de Vasconcelos considerou que a malária desmotiva muitos médicos a trabalhar no município marajoara. Dados da Secretaria de Saúde do Pará mostram que de janeiro a abril, deste ano, a doença já contaminou mais de 10 mil pessoas. Além disso, a cidade não possui nenhum tipo de saneamento básico.
A inexistência de um sistema de esgotamento sanitário e a própria falta de tratamento de água têm causado vários tipos de doença na população como verminoses e diarreias. Diante da realidade, alguns médicos se recusam a trabalhar na cidade, disse Claudionor.
A secretária de Saúde de Anajás disse, neste sábado, à reportagem do G1 que o hospital municipal não pode pagar mais de R$ 800 a um pediatra. Embora reconheça que o valor é baixo, Dilma acha que, “para 15 dias (o valor da diária), está bom”.
Ela explicou que o aumento do valor da remuneração dos médicos que trabalham em Anajás depende do aumento do número de leitos no hospital. Atualmente, a unidade conta com 21 leitos. A previsão é de que em breve, após reforma no prédio, o espaço passará a ter mais 15 leitos. Mas isso vai depender da avaliação dos engenheiros da obra.
Dificuldade
Não é fácil trabalhar como médico numa região do tamanho de Anajás, um município cortado por muitos braços de rios, cheio de matas, e com dezenas de comunidades ribeirinhas que precisam de assistência. A secretária de Saúde do município diz que está a procura de um “médico do povão”, ou seja, capaz de atender até dentro de um restaurante, na hora do almoço.
O apelo da secretária expressa o estilo de vida do anajaense, que não se preocupa com horários nem protocolos quando o assunto é cuidar da saúde. Muitos viajam a manhã toda pelos rios da região em busca de atendimento na cidade. E quando chegam, querem ser atendidos na hora.
Para trabalhar em Anajás, o médico precisa ter disposição e amor aos pacientes pobres. Não bastasse a dificuldade de acesso e a falta de infraestrutura da cidade, o hospital municipal sempre tem um problema para resolver. Na semana passada, as lâmpadas de foco da sala de cirurgia estavam queimadas.
O dano no aparelho suspendeu alguns trabalhos, como a realização de partos cesarianos, temporariamente. Mas a secretaria de Saúde disse que as lâmpadas danificadas já foram substituídas.
As dificuldades no trabalho em uma região castigadas por doenças são tantas que chegam a desanimar o cirurgião Edgar Hidalgo, um peruano naturalizado brasileiro, que passa 15 dias em Anajás e recebe uma diária de R$ 1.200. “A gente só trabalha aqui porque é uma necessidade, não porque a gente gosta”, desabafou o médico.
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