Lia começou a coletar recicláveis, em Curitiba, aos 10 anos.
Hoje atividade é profissão: somos úteis para limpeza da cidade.
A série 'Protagonistas do Verde' conta com três reportagens e cada uma delas apresenta um personagem que desempenha uma atividade sustentável, ligada a preservação do meio ambiente e preocupada com o futuro da planeta, temas discutidos na Rio+20.
Integrante de uma das 13 cooperativas de separação de material reciclável de Curitiba, desde 2007, Lia comenta que aprendeu muito nos últimos seis anos -- desde que começou a participar de cursos e palestras sobre a importância da reciclagem, a destinação dos materiais e a consciência ecológica. Além disso, com a instrução, ela começou a pagar a contribuição ao INSS e a pensar no futuro.
A gente cata, recicla, recupera. Isso, é a mesma coisa que um diamante. No começo é aquela pedra feia e acaba deixando bonito"
Lia dos Santos, catadora em Curitiba
Lia chega a recolher 400 kg de lixo reciclável por dia. Material que depois é separado em até 26 tipos diferentes, entre papel branco, papelão, plástico, copo plástico, latinhas, e armazenado até a sexta-feira, quando tudo é pesado e vendido. Segundo ela, a separação é muito mais trabalhosa que a coleta dos materiais nas ruas.
“Por semana, eu tiro R$ 200 a R$ 250, depende do meu trabalho. Porque é assim, você não tem patrão, só que se você não trabalhar bastante, você não ganha também”, diz. Lia tem um ajudante que a acompanha na coleta e na separação dos recicláveis, todo o dinheiro que ela recebe é dividido entre os dois.
“Graças a Deus essa semana foi boa, vou tirar uns R$ 300”, conta para a reportagem do G1 que encontrou com ela em uma sexta-feira. A coletora estima que recolheu mais de duas toneladas de lixo reciclável em seis dias de trabalho – de sábado a sexta-feira, folgando apenas no domingo.
Lia chega a recolher 400 kg de material reciclável
por dia (Foto: Ariane Ducati/ G1)
Consciente e orgulhosa do que trabalho que faz, Lia não esconde que tem satisfação em separar aquilo que foi para a lixeira.por dia (Foto: Ariane Ducati/ G1)
“Eu acho o material reciclável uma obra de arte. Porque para o povo é lixo, pra sociedade a gente é catador. Que vai lá, cata, recicla, recupera. Isso, é a mesma coisa que um diamante. Que no começo é aquela pedra feia e a gente acaba deixando bonito. Então pra mim, a minha vida sem o reciclável, acho que acaba. Eu sempre digo que se morrer puxando o meu carrinho, eu vou morrer feliz”, relata com sorriso no rosto.
Mãe de três filhos, de 24, 19 e 15 anos, e avó de uma menina de seis anos, Lia sabe que o material que acaba indo para o aterro sanitário é dinheiro perdido para ela. “Todo esse material que é jogado no lixo, que a maioria vai até para o aterro sanitário, é revertido de novo pra gente, pra sociedade. Se ele vai para o aterro sanitário, ele é lixo lá. A vida útil do aterro vai ser menor. E é dinheiro que a gente podia estar ganhando, colocando na mesa”.
“O lixo da tua casa é teu. Você que produziu ele, não foi eu. Aí, o carrinheiro vai lá, pega o carrinho, sai embaixo de sol, chuva, para recolher esse material, esse lixo como a sociedade fala, e ainda tem pessoas que acham ruim”, relata.
“Muitas vezes a pessoa te humilha, mas nem sabe que você faz a diferença por estar catando aquele material na rua. Pensa, essa daí é uma coitada qualquer. Agora com todos esses problemas da natureza, quando ela vem devastando, mata rico, pobre, preto, branco, bonito... Não quer saber. Porque o próprio homem abusa, não cuida”, aponta.
Assim como Lia, 80 mil brasileiros trabalham como
catadores de recicláveis (Foto: Ariane Ducati/G1)
Em Curitiba, mais de 300 catadores fazem parte do projeto municipal EcoCidadão, que funciona desde 2007 e inclui 13 cooperativas. O objetivo é a inclusão socioambiental dos coletores informais, que no ano passado recolheram 4,7 mil toneladas de material reciclável. A Catamare, cooperativa em que a Lia é associada, tem outros 41 catadores.catadores de recicláveis (Foto: Ariane Ducati/G1)
Segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), 800 mil pessoas trabalham no Brasil como coletores.
Ao se despedir da equipe de reportagem, Lia deixa o recado: “Vamos separar o lixo, hein! É a única coisa que eu peço”.
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