MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Apenas 1,2 % dos usuários de droga conseguem tratamento, diz MP-GO


No estado, são 50 mil dependentes para um total de 610 vagas disponíveis.
Apenas cinco casas especializadas são destinadas a mulheres em Goiás.

Carolina Simiema Do G1 GO
O abismo existente entre os dependentes químicos e a falta de leitos suficientes para internação e tratamento dos pacientes é um obstáculo a ser superado no estado de Goiás. Segundo dados do Ministério Público (MP), no estado existem cerca de 50 mil usuários de drogas e apenas 230 leitos da chamada dependência álcool e droga e outros 380 leitos de psiquiatria, que estão sendo usados para o tratamento dos viciados. No total, são 610 vagas que conseguem atender apenas 1,2% dos usuários. Segundo o MP, todas essas vagas são conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O problema de tamanha preocupação voltou à tona após um do jovem de 27 anos, usuário de crack, ter subido pelado em uma torre de igreja e ameaçado pular na última segunda-feira (11).
Como tentativa melhorar esta realidade, foram surgindo, nos últimos anos, as chamadas comunidades terapêuticas, entidades financiadas por Organizações Sociais, igrejas, empresários e pela comunidade em geral. A estimativa é de que existam em Goiás cerca de 35 comunidades como estas e aproximadamente nove na capital.
Os números são pequenos se comparados à quantidade de gente que todos os dias procuram por internação em alguma dessas unidades. “Cerca de mil pessoas procuram por tratamento todos os dias nas comunidades. Algumas chegam a ficar 15 dias na fila. Nós não conseguimos atender a toda essa demanda”, revela o psicólogo Márcio Ferreira de Freitas, coordenador de uma comunidade terapêutica vinculada a uma igreja católica, no Recreio dos Bandeirantes, em Goiânia.
O psicólogo também é responsável pela construção de uma clínica, no mesmo local, que terá capacidade para 320 leitos para dependentes, destes, 20 são para Unidades de Terapia Intensiva (UTI) especializada nestes casos. O local está sendo erguido com dinheiro de colaboradores da sociedade e deve ficar pronto em dois anos.
O coordenador do projeto diz que o atendimento será direcionado para usuários de crack. O tratamento passará por duas fases. A primeira será com acompanhamento médico e, após o período de desintoxicação, o dependente passará pela fase de recuperação, onde os medicamentos serão retirados com a evolução do paciente. Para conseguir a internação, basta que a família entre em contato com a comunidade.
Para o coordenador Márcio Ferreira, a iniciativa é para mostrar aos governantes e à sociedade que a população pede socorro: “Isso é um grito, um apelo para que todos vejam a dificuldade de conseguir vaga para os dependentes químicos. Os hospitais não têm estrutura para toda essa gente que precisa. O SUS não consegue financiar todo mundo pelo tempo necessário e, então, a pessoa tem que continuar o tratamento sozinha, o que faz com que muitas voltem ao vício”.
Obras comunidade terapêutica Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Obras de construção da comunidade terapêutica
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
Alto Custo
Somente 21 dias do tratamento são pagos pelo SUS, tempo bastante reduzido, tendo em vista que o ideal deve ser de, no mínimo, nove meses. Portanto, para continuar o tratamento, o paciente dever recorrer à rede particular de saúde, o que complica ainda mais a situação. Em Goiás, por exemplo, cerca de 12 clínicas particulares fazem as internações e, para isso, é necessário que a família gaste, com todo o tratamento, cerca de R$ 7 mil. Só para se ter uma ideia, em algumas, a diária pode custar R$ 300.
O pai do jovem dependente de crack que ficou na torre da igreja, Cláudio Barbosa, é um dos colaboradores na construção da comunidade no Recreio dos Bandeirantes e conta que o drama que vive com o filho há nove anos é difícil de ser solucionado. O jovem já passou por 17 locais de tratamento e, após o episódio no início desta semana, conseguiu tratamento em uma clínica conveniada pelo SUS. “O problema é que o SUS não paga todo o tratamento e eu não sei o que vou fazer com ele depois”, reclama Cláudio.
O pai do rapaz afirmou que há um ano não consegue a internação para o filho. “Nós já o internamos diversas vezes e outras não conseguimos. Uma vez, ele passou por uma clínica e o mandaram de volta para aguardar uma vaga. Isso já tem um ano”, lembra Cláudio.
Dificuldades para mulheres
As mulheres que precisam de tratamento para curar o vício enfrentam ainda mais dificuldades. Em Goiânia, são cinco casas de recuperação especializadas no tratamento de mulheres dependentes. O coordenador de uma delas, Emivaldo Rodrigues da Cruz, situada no Setor Novo Horizonte, em Goiânia, conta que a rejeição das unidades pelas mulheres ultrapassa a questão das vagas.
“É claro que não temos lugares suficientes, mas a grande dificuldade é porque a mulher tem fatores externos que a impedem de querer se internar. Família, marido e filhos, por exemplo, contam muito na decisão dela. Fora isso, a mulher pode usar o corpo para conseguir a droga, o que é um facilitador para manter o vício”, explica Emivaldo.
A comunidade coordenada por Emivaldo é mantida por uma igreja evangélica e por doações da população. O local tem capacidade para atender 12 mulheres, mas, atualmente, sete passam pelo processo de recuperação. O dia a dia delas é cheio de atividades que incluem cursos, terapia ocupacional e apoio espiritual. Todo o tratamento é feito sem o uso de medicamentos e o tempo de permanência vai de nove meses a um ano.
Por dois anos, uma das internas, de 26 anos, que não quis ser identificada, foi usuária de crack. Há três meses, ela saiu de Niquelândia, a 377 km de Goiânia, à procura de tratamento e disse que pretende ficar o tempo que for necessário na comunidade. “Eu cheguei até aqui por indicação de uma pessoa que me passou o telefone. Foi por força de vontade, porque eu tenho dois filhos e sinto muita saudade deles, mas agora me sinto muito melhor”, diz.
Segundo ela, muitas mulheres que passam pelo local acabam desistindo, principalmente no início, onde o período de abstinência dificilmente é superado. “No início eu sonhava que estava usando a droga e queria ir embora. Por várias vezes eu arrumei minha mala, mas parece que foi Deus que veio e me libertou. Hoje não sinto vontade mais”, conta, aliviada.
usuárias de crack em recuperação na comunidade (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Usuárias de crack em recuperação na comunidade passam por diversas atividades
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)

O promotor Marcelo Celestino afirmou que o problema da dependência química atinge boa parcela da população e a procura por internações é muito grande: “É uma situação muito difícil. A política do Ministério da Saúde é de não ter leitos de internação porque há um sufoco financeiro junto aos hospitais e é um leito caro. Então, não há um consenso entre aqueles que entendem da necessidade do leito e os que acreditam que a internação não deve ser feita”.
De acordo com o promotor, o Ministério Público está com ações judiciais para ter aumento no número de leitos. “Nós estamos com uma ação civil pública e vamos discutindo junto aos gestores para que tenha este aumento. Então, é necessário uma política pública para cautelar esses interesses”, defende o promotor.
Marcelo Celestino ressalta que o tratamento sem internação não é suficiente para deixar o usuário curado. Além disso, outro agravante é a despesa que um leito para este tipo de paciente tem. “Manter esses leitos é muito mais caro. Os profissionais também são mal remunerados. Precisaríamos dobrar o valor pago aos hospitais para que eles aumentassem o número de leitos. O poder público tem o dinheiro, o que falta é determinação administrativa”, enfatiza.

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