MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Crise política gera incerteza entre empresários brasileiros no Paraguai


Cerca de 30 empresas do Brasil produzem no Paraguai para exportação.
Por enquanto, nada mudou após impeachment de Lugo, dizem empresários.

Darlan Alvarenga Do G1, em São Paulo

Empresários brasileiros que investiram nos últimos anos no Paraguai para baratear o custo de produção e enfrentar a concorrência chinesa temem que os desdobramentos da crise política que atingiu o país, após o impeachment do presidente Fernando Lugo, possam levar a um bloqueio econômico, o que afetaria diretamente as exportações do Paraguai.
“A preocupação existe porque o governo brasileiro ainda não formatou a sua posição”, afirmou ao G1 o diretor geral do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Weber.
Por enquanto, entretanto, nada mudou na rotina das empresas com capital brasileiro instaladas no Paraguai. “Tudo segue normal, as empresas continuam produzindo e exportando. O que existem são dúvidas, se as sanções por parte dos países do Mercosul irão afetar o comércio ou não”, disse Weber.
Linha de produção na Cortinerias del Paraguay, cujo dono é brasileiro (Foto: Divulgação)Linha de produção de fábrica da Cortinerias del Paraguay, de capital brasileiro (Foto: Divulgação)
O empresário brasileiro Alexandre Bazzan, dono da Cortinerias del Paraguay,  fabricante de cortinas e mantas de microfibra, disse ao G1 que, em relação à manutenção dos negócios no país dentro das regras atuais, não há, por enquanto, qualquer preocupação.
“Nos reunimos com o ministro de indústria e comércio, que continuou o mesmo, e ele reafirmou que o governo dará forte apoio à indústria. Estamos muito tranquilos nesse sentido”, disse Bazzan.
"Internamente, nada mudou para nós. Fiz hoje, inclusive, um processo de exportação de 13 mil mantas de microbfibra, normalmente, sem problema algum", contou o empresário, que instalou uma fábrica no Paraguai há 4 anos no país e emprega atualmente 250 funcionários. “Somos o segundo maior exportador têxtil do Paraguai. Enviamos para o Brasil, em 2011, US$ 10 milhões em exportações”, informou.
Segundo ele, a única preocupação é em relação a um possível bloqueio econômico por parte do Brasil e dos outros países do Mercosul. “A insegurança existe principalmente porque o Itamaraty ainda não tomou uma posição sobre isso, e ao que parece irá aguardar a reunião do Mercosul para tomar uma decisão conjunta com o bloco”, completou.
Para o diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai, a saída de Lugo não é vista pelos empresários como golpe ou rompimento democrático. “Tudo foi feito de acordo com a constituição paraguaia. A própria corte suprema rejeitou a inconstitucionalidade do processo”, disse Weber.
Sanções
O Itamaraty informou que não foi tomada nenhuma decisão até o momento além da suspensão do Paraguai da reunião de cúpula do Mercosul, que acontece nesta sexta-feira. Ainda segundo o Ministério das Relações Exteriores, não existe nenhuma outra medida além dessa, e só a partir da próxima reunião de cúpula do Mercosul eventuais novas medidas serão estudadas.

Apesar de expressarem preocupação, os empresários acreditam que as sanções devem se restringir ao campo político. “Países como Brasil e Argentina não tem interesse numa sanção comercial, uma vez que isso afetaria as próprias empresas brasileiras e argentinas instaladas no Paraguai”, avalia o diretor da Braspar. “O Brasil tem hoje superávit comercial de US$ 2,2 bilhões com o Paraguai e a Argentina superávit de US$ 1,5 bilhão”, observa.
Alexandre Bazzan, que instalou há 4 anos uma fábrica no Paraguai (Foto: Divulgação)Alexandre Bazzan, que instalou há 4 anos uma
fábrica no Paraguai (Foto: Divulgação)
30 brasileiras exportadoras
A Braspar admite, porém, que a instabilidade política no Paraguai deverá afetar o fluxo de investimentos brasileiros no país. Nos últimos anos, cerca de 30 empresas do Brasil se instalaram no Paraguai através de um programa que desonera a produção de companhias que instalam fábricas no país para exportação.

Segundo a Braspar, oito empresas brasileiras estão sendo instaladas neste ano no país. “A nossa previsão era chegar a 25 até o final do ano. Agora talvez não se chegue a isso. O risco existe”, afirma Weber.

Novo governo tenta tranquilizar empresas
O novo governo paraguaio tenta tranquilizar os empresários brasileiros que negociam a instalação de fábricas no país, reafirmando que todas as garantias e benefícios fiscais serão mantidos.
“É natural que exista alguma incerteza e preocupação. Mas acreditamos que as sanções serão mais políticas que econômicas e que nos próximos dias isso ficará mais claro para todos”, disse ao G1 Oscar Stark, diretor da Rede de Inversiones y Exportaciones (Rede de Investimentos e Exportações – Rediex), órgão ligado ao Ministério de Indústria e Comércio do Paraguai.

Ele admite, porém, que o governo paraguaio deverá rever a meta de reunir 50 empresas brasileiras investindo no Paraguai até o final do ano. “É provável que não atinjamos esse número este ano. Mas esperamos que todas, ainda que esperem um tempo, possam retomar os investimentos e confirmar os investimentos”, disse.
Roberto Kaefer, diretor presidente da Globo Aves: 9 mil empregos no Paraná, 2 mil no Paraguai. (Foto: Ligia Guimarães/G1)Roberto Kaefer, diretor presidente da Globo Aves
(Foto: Ligia Guimarães/G1)
Investimentos suspensos
A Globo Aves, produtora de pintos e de ração, está entre as empresas que pretendem manter em suspenso os negócios no Paraguai. O diretor-presidente, Roberto Kaefer, disse ao G1 que o plano de abertura de uma unidade no país vizinho foi suspenso no início do ano por conta da análise de instabilidade política.

A empresas tem 7 frigoríficos e 14 fábricas de ração pelo Brasil e elaborou um projeto para gerar 2 mil empregos em uma unidade em Santa Rita, a 90 km de Ciudad del Este.
“Tínhamos um projeto aprovado dentro do BNDES, mas não fomos realizá-lo agora porque não sentimos firmeza no processo político. O que prevíamos que poderia acontecer foi exatamente o que aconteceu. Agora vamos adiar o projeto por tempo indeterminado”, afirmou o empresário.
Crise no Paraguai
Federico Franco assumiu o governo do Paraguai na sexta-feira (22), após o impeachment de Fernando Lugo. O processo contra Lugo foi iniciado por conta do conflito agrário que terminou com 17 mortos no interior do país.
A oposição acusou Lugo de ter agido mal no caso e de estar governando de maneira "imprópria, negligente e irresponsável".
Ele também foi acusado por outros incidentes ocorridos durante o seu governo, como ter apoiado um motim de jovens socialistas em um complexo das Forças Armadas e não ter atuado de forma decisiva no combate ao pequeno grupo armado Exército do Povo Paraguaio, responsável por assassinatos e sequestros durante a última década, a maior partes deles antes mesmo de Lugo tomar posse.
O processo de impeachment aconteceu rapidamente, depois que o Partido Liberal Radical Autêntico, do então vice-presidente Franco, retirou seu apoio à coalizão do presidente socialista.
A votação, na Câmara, aconteceu no dia 21 de junho, resultando na aprovação por 76 votos a 1 – até mesmo parlamentares que integravam partidos da coalizão do governo votaram contra Lugo. No mesmo dia, à tarde, o Senado definiu as regras do processo.
Na sexta, o Senado do Paraguai afastou Fernando Lugo da presidência. O placar pela condenação e pelo impeachment do socialista foi de 39 senadores contra 4, com 2 abstenções. Federico Franco assumiu a presidência pouco mais de uma hora e meia depois do impeachment de Lugo.
Após a destituição, o Paraguai foi excluído da reunião de cúpula do Mercosul, que acontece nesta sexta-feira. Na reunião, os países membros do bloco poderão definir sanções ao país. Entre as possíveis penalidades está desde a suspensão de projetos de investimentos no Paraguai até o fechamento de fronteiras em torno do país.
O Paraguai também poderia ser expulso do Mercosul, já que o chamado Protocolo de Ushuaia, assinado em 1998, obriga os integrantes do bloco a manterem governos democráticos.

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