MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 24 de junho de 2012

'Mochileiros' latinos monopolizam malabarismo em sinais de Brasília


Uruguaios, argentinos, chilenos e equatorianos ganham até R$ 50 por hora.
GDF diz que artistas de rua não têm autorização de trabalho na cidade.

Felipe Néri Do G1 DF

Viajantes estrangeiros de passagem por Brasília ganham até R$ 50 em uma hora de trabalho com malabarismo nos semáforos da área central do Plano Piloto. Eles escolhem a capital federal em sua passagem pelo Brasil por causa do alto poder aquisitivo dos moradores da cidade e da localização geográfica.
Artistas de rua se apresentam durante o dia em área central de Brasília (Foto: G1)Artistas de rua se apresentam durante o dia em área central de Brasília (Foto: Felipe Néri e Vianey Bentes/G1)
O argentino Pablo Solanou, que viaja por estradas da América do Sul há dez anos, chegou ao Distrito Federal depois de cruzar a fronteira com o Paraguai em Mato Grosso do Sul e entrar em Goiás. "Sem planos, saí para viajar e de repente me vi em Brasília", disse Solanou.
Malabarista, músico e pintor, Pablo afirmou que na cidade é possível ganhar R$ 100 em duas horas de trabalho. Assim como os demais entrevistados pelo G1, o argentino não trabalha com horário nem dia fixos. Para ele, o ideal é ficar nos semáforos cerca de uma hora durante a manhã e mais uma hora no fim da tarde, quando o sol não está forte.
"Pago R$ 25 por um quarto em uma pousada, R$ 10 pelo almoço e mais um pouco com alguns gastos do dia. O resto, eu guardo", afirmou o artista. Sem telefone e sem saber a quadra da pousada onde estava instalado, Pablo mantém fixo apenas um e-mail.
Pablo Solanou faz malabarismo com argola na avenida W3 Norte (Foto: Felipe Néri/ G1)Pablo Solanou faz malabarismo com argola na
avenida W3 Norte (Foto: Felipe Néri/ G1)
Em Brasília por dois meses, o argentino de Mendoza comprou uma bicicleta por R$ 100 para circular entre os semáforos da Asa Norte, onde faz malabarismo com argola. Segundo ele, entre os latino-americanos de passagem por Brasília, não há disputa pelo ponto onde cada um trabalha. "Quando viajamos, temos um código de vida simples. Nós, viajantes, nos entendemos."
A uruguaia Sabina Sabu, de 21 anos, largou a faculdade ciências sociais em Montevidéu, entrou numa escola de circo e foi praticar arte circense nas ruas da Argentina.
No Brasil, Sabina passou por cidades do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe. "Brasília é um bom lugar para trabalhar. Aqui chego a ganhar entre R$ 30 e R$ 40 em uma hora nos semáforos", afirmou.
Em Salvador, Sabina recebia cerca de R$ 30 por três horas de trabalho com malabares."Viajar é a escola da vida. Aqui no semáforo, eu tenho contato com a tia que vende panos, com as pessoas que atravessam a rua, aprendo outras culturas, outras realidades", declarou a jovem, dias antes de pegar um voo com destino à capital uruguaia para visitar a família.
De acordo com a Administração Regional de Brasília, os artistas de rua não têm licença ou autorização para trabalhar e também não passam por quaquer tipo de fiscalização. A administração informou que apenas a Secretaria de Ordem Pública pode barrar o trabalho desses artistas, caso seja acionada.
Não deveria existir fronteiras. A terra é de todo mundo. Não me importa ser clandestina em um país"
Almendra Brick, chilena
Clandestina
O equatoriano José Ricardo Oña, 21 anos, e a chilena Almendra Brick, 22, viajam juntos há oito meses. Os dois se conheceram em uma convenção de circo na Argentina e não se separaram mais. "Viemos passar um tempo aqui porque dizem que Brasília tem uma cultura de circo forte e que a cidade movimenta muito dinheiro", disse José.
O equatoriano começou a viajar há dois anos e meio, depois de ter conhecido todo o seu país e ficar curioso para explorar outras fronteiras. Por hora, ele recebe nos semáforos de Brasília entre R$ 35 e R$ 45. "A minha vida é como um jogo. Não faço as coisas que me obrigam a fazer, mas sim o que eu gosto. Tudo depende do meu esforço e da minha busca", afirmou.

A namorada de José se mudou da capital chilena em 2007 para fazer intercâmbio nos Estados Unidos e nunca mais se fixou na casa dos pais. Para Almendra, seu estilo de vida é uma espécie de adaptação a um "sistema" com o qual ela não concorda. "Uso este sistema para me aproveitar. Ele não me suga", disse Almendra.
A jovem afirmou que o melhor horário para trabalhar nos semáforos é durante a manhã. "É nesta hora que mais ganhamos dinheiro. Parece que as pessoas valorizam mais quem trabalha cedo, eles veem que a gente se esforça", disse a chilena, despreocupada com a condição de clandestina no Brasil. "Não deveria existir fronteiras. A terra é de todo mundo. Não me importa ser clandestina em um país."
Caminho inverso
O músico pernambucano André Vasconcelos, de 25 anos, chegou a Brasília depois de largar o trabalho de ilustrador em um escritório no Recife e passar oito meses "mochilando" na Bahia. Percussionista, ele decidiu parar na capital federal por duas semanas para juntar dinheiro tocando nos semáforos antes de partir para a Bolívia.
"Aqui em Brasília as pessoas pagam bem, mas ainda existe muito preconceito. Muitos acham que sou ladrão, fecham o vidro quando passo perto dos carros. Somos artistas, não bandidos", declarou. Mas para o músico, ganhar dinheiro na capital não é tão simples. O máximo que ele já conseguiu juntar ao longo de um dia de trabalho foram R$ 100.
O uruguaio Andrés Riviero, de 34 anos, é artista de circo há 13 e também não acha fácil faturar com arte circense em Brasília. Por dia, ele afirma que ganha entre R$ 20 e R$ 80, o que considera suficiente para viver. Em breve, Andrés pretende ir para o Tocantins.
A chilena Almendra quer visitar a família em Santiago, no Chile, depois de legalizar o visto brasileiro. Em seguida, encontrará novamente José Ricardo, que também partirá de Brasília em breve para fazer arte nas ruas do Peru. O argentino Pablo não tinha planos quando foi entrevistado pelo G1. Para ele, "o caminho se conhece ao caminhar".
Chilena e equatoriano praticam malabarismo em área comercial de Brasília (Foto: Felipe Néri/ G1)Chilena e equatoriano praticam malabarismo em área comercial de Brasília (Foto: Felipe Néri/ G1)

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