Bicos viram principal fonte de renda de professores estaduais.
Governo do RS promete 76% de aumento nos próximos dois anos.
Professores precisam trabalhar além das salas de aula para conseguir se sustentar (Foto: Reprodução/RBS TV)
Em um turno, eles se dedicam a ensinar matemática, artes, história. Em outro, professores do Rio Grande do Sul são obrigados a buscar atividades informais para complementar a renda e garantir o sustento. Entre os cerca de 75 mil professores da rede pública estadual, muitos ganham em torno de R$ 1,5 mil, um valor baixo para uma carreira que exige conhecimento e muita dedicação."Se exige cada vez mais aptidão das pessoas e tudo se aprende na escola, se delega à escola e o professor é o que é menos valorizado", lamenta o professor Carlos Alexandre Silva dos Santos.
Até o mês de abril, o Rio Grande do Sul ainda tinha professores ganhando abaixo de R$ 1.451, valor estabelecido como piso nacional do magistéiro. A lei fixa o valor como o básico, já que sobre ele devem ser incluídos benefícios, como o abono por tempo de serviço. O critério ainda não é adotado pelo governo do estado. Sem saída, os professores têm de se virar para pagar as contas.
O bico, em geral, não tem plano de carreira, nem 13º salário ou férias. Mesmo assim, aos poucos, se torna mais rentável do que a atividade de professor. Carlos Alexandre dá aula de matemática. Durante a semana, se dedica a ensinar alunos do ensino médio. Na sexta e no sábado, troca a sala de aula pelo bar, o dia pela noite e assume a função de barman. "Como barman eu ganho muito mais do que professor com uma carga horária bem menor", conta. "Hoje o que me mantém é o bico. É como se o salário de professor fosse o complemento da renda", diz Carlos Alexandre.
A necessidade de ter outro emprego e o baixo salário também fazem com que os professores deixem de se especializar. A professora Ivanir Pibernat Mustafá gostaria de fazer mestrado, mas usa seu tempo extra vendendo roupas. "Não tenho salário para isso", lamenta Ivanir, que leva as sacolas com mercadorias para a escola e oferece para as colegas. É o mesmo caso de Sônia Regina Prado Medeiros, de Santa Maria, que leciona há 32 anos e há 10 vende produtos de beleza entre os alunos e os colegas.
Em Passo Fundo, Luciane Ceolin Klann divide o dia em duas atividades. Em um turno dá aulas no quinto ano de uma escola municipal. No outro, é gerente de uma empresa de telefonia."Se tivesse a oportunidade de no magistério ter chance de ganhar o suficiente para trabalhar só com o magistério, com certeza eu ficaria com o magistério", garante.
A Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul reconhece o problema. "Constrange a nós. Acho que deve constranger toda a sociedade. O que precisamos é de pessoas dedicadas a uma carreira e uma carreira pressupõe um período de vida", admite a secretária-adjunta Maria Eulália Nascimento. Para tentar reverter o descompasso, o governo pretende conceder nos proximos dois anos 76% de aumento. "É carreira, é salário, são condições de trabalho e também a questão pedagógica porque se nós só discutirmos as condições materiais e não fizermos o debate pedagógico todo o resto se perde e acaba não repercutindo como nós queremos", conclui Maria Eulália.
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