MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 3 de julho de 2012

Abrigo no Entorno do DF tem onça 'atriz' e felino criado como bebê


Instituto foi fundado após resgate de suçuarana que vivia em pequena jaula.
Entidade gasta cerca de 45 kg de carne por dia para alimentar 28 animais.

Do G1 DF
Um criadouro de felinos localizado a 80 quilômetros de Brasília abriga desde animais que foram cuidados como filhos, dormindo em camas de casal e subindo em sofás, a estrelas de filmes nacionais. Fundado em 2001, após a chegada da suçuarana Pacato, o Instituto NEX tem atualmente 28 mamíferos e ocupa cerca de 30% de uma fazenda de 279 hectares.
Xingu, uma das 22 onças-pintadas do Instituto NEX (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Uma das 22 onças do Instituto NEX, Xingu foi resgatado no Pará (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
Segundo a presidente e fundadora da organização, Cristina Gianni, a maioria deles chegou ao local com história semelhante. “Dizem que acharam na estrada e ficaram com dó, que apareceu, que a mãe morreu. O que acontece é que as pessoas pegam sem autorização e não imaginam que os felinos vão ficar grandes ou demandar tanto. Há sempre furos nos relatos que nos passam.”
Independentemente do histórico, o gerente do NEX, Rogério Silva, diz que o objetivo é dar qualidade de vida a essas “onças-problema”. “Elas passaram por algo, um trauma, que torna impossível a reintegração à natureza. E muitas não seriam interessantes em zoológico, não são tão bonitas assim. Tem umas que nem têm mais garras, têm marcas de coleira”, explica.
Na lista de animais que os cuidadores sabem que viviam acorrentados antes de chegar ao local, a onça pintada Gavião nunca mais vai ter pelos no pescoço. Ela foi resgatada em 2005 da fazenda de um veterinário localizada no Mato Grosso, com idade estimada em 11 anos. O mamífero ficava exposto na varanda.
O gerente da organização, Rogério Silva, brinca com onça-pintada Shamã (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Gerente da organização, Rogério Silva brinca com
onça Xamã (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
“Esse cara promovia diversas caçadas, inclusive com gente de fora do país. Em uma delas, abateu a mãe do Gavião e fez o parto ali mesmo”, conta o gerente e tratador. “Ele cresceu nessa coleira, foi castrado e teve as garras tiradas. Ficava à mostra, como um troféu. Chegou aqui meio assustado, mas bastante dócil.”
Com uma história bastante diferente, a também onça-pintada Brutus ficou cega pela falta de uma proteína que ela não teve acesso ao ser desmamada da mãe quando muito filhote. O animal, segundo Cristina, foi alimentada por uma mulher, moradora de Goiânia (GO).
“Ela tinha tido uma menininha e o Brutus pegou o peito também. O problema é que, na cabeça dele, ele era irmão de ninhada da criança, então só queria dormir no berço com ela. Mas, como ele começou a crescer, o pai ficou com medo de deixá-los juntos. E aí deu no que deu. Ele tinha entre dois e três meses”, lembra.
O instituto tem ainda dois felinos que se destacaram em produções nacionais: a jaguatirica Beca e a onça-pintada Catarina. A última foi tirada já adulta de um traficante de Manaus (AM). De acordo com a presidente, o resgate foi possibilitado pela produção do filme "Tainá 3", que ainda não foi lançado, que se interessou em pagar o transporte do animal até o Pará, para as gravações, e depois para o NEX.
“Quem vê até pensa que eu conhecia a Catarina, mas eu nunca tinha visto ela na vida. Acharam que ia chegar uma domadora de onça, mas eu não sabia o que fazer”, diz Cristina. “Aí comprei mamadeira e leite. Pensei: ‘se ela vier na tela e mamar, é porque foi humanizada e não vai me comer’. Dito e feito. Quando coloquei a mamadeira, ela correu e mamou. Aí o colega entrou e já rolou com ela no chão.”
Elas passaram por algo, um trauma, que torna impossível a reintegração à natureza. E muitas não seriam interessantes em zoológico, não são tão bonitas assim. Tem umas que nem têm mais garras, têm marcas de coleira"
Rogério Silva, gerente do NEX
Cuidados
Para manter as 22 onças e os seis pequenos felinos, entre jaguatiricas, maracajás e jaguarundis, são gastos cerca de 45 quilos de carne todos os dias. “Somos três servidores e vários voluntários. E tem também várias parcerias que ajudam a manter o NEX, como um açougue”, conta o gerente Silva.
Dentro de um mês, segundo a presidente Cristina, quatro onças-pintadas (Catarina; Chico, que vivia como filho do gerente de uma fazenda e foi encontrado brincando com uma boneca, e os irmãos Xamã e Pajé; que nasceram em cativeiro quando os pais, Xingu e Airumã foram resgatados) serão transferidas para uma filial do NEX que será inaugurada em São Paulo.
Com a expansão, a presidente disse acreditar na continuidade da instituição. “O dinheiro acaba, mas a parceria não. Enquanto tem muita gente que destrói, tem que ter quem construa. A gente tem que ter essa consciência. O bicho não precisa estar aqui. Ele precisa estar na floresta.”
Cristina disse esperar, por meio da instituição, espalhar a ideia de que é essencial preservar a natureza e evitar o desmatamento. A presidente afirma não se considerar a “escolhida” para realizar uma missão e diz que a fundação do NEX não era um projeto.
“Não foi planejado. Foi aquilo da pessoa certa, no lugar certo, na hora certa”, explica Cristina. “Estava visitando um zoológico e vi uma jaula no chão, muito pequena e coberta com uma lona suja. Perguntei se havia algum animal, esperando ouvir que não, mas falaram que tinha uma onça.”
Suçuarana que divide recinto com Pacato, primeira onça levada ao Instituto NEX (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Suçuarana que divide recinto com Pacato, primeira onça levada ao instituto (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
Os responsáveis pelo bicho, segundo Cristina, informaram que Pacato não saía da jaula nem caminhava. Acostumado a estar próximo às pessoas e receber carinho, ele não se via como onça e brigou com as outras suçuaranas quando foi colocado dentro do recinto de visitação. “O animal que é muito humanizado não se reconhece no outro”, explica.
Mesmo dizendo preferir cachorros a gatos, a então proprietária de uma loja de produtos esotéricos em um shopping de Brasília decidiu pedir autorização ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. O NEX é o único criadouro conservacionista especializado em felinos no Brasil.
Visitação
De acordo com a presidente, as primeiras visitas ao NEX foram de embaixadas, sempre em grupos monitorados. “Antes eu não recebia, mas aí fiquei incomodada de ninguém ver isso. Essas onças são tão maravilhosas”, disse. Interessados em conhecer a organização devem agendar por telefone (61 9223-4141) ou email (cristina@nex.org.br)

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