MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 17 de julho de 2012

Comissão vai investigar impactos da ditadura na Universidade de Brasília


Projeto foi criado por professores e alunos de direito e história.
Objetivo é investigar desaparecimentos e efeitos do regime na UnB.

Do G1 DF

Professores da Universidade de Brasília (UnB) esperam para esta semana o ato da reitoria que cria a Comissão da Verdade dentro da instituição, informa reportagem do Bom Dia DF. O grupo vai investigar o desaparecimento de estudantes durante a ditadura militar e o impacto do regime na UnB.
A criação da comissão foi uma ideia de professores e alunos das faculdades de história e direito. O professor Cristiano Paixão, um dos autores da proposta, explica por que a ditadura teve reflexos dentro da universidade.
“A Universidade de Brasília foi muito afetada pela ditadura. Nós estamos no centro do poder, a UnB é um projeto vanguardista, à frente do seu tempo. Então, os militares perceberam que ela seria muito desafiadora ao regime”, afirma.
Paixão explicou que a comissão terá a tarefa de recolher informações, ouvir testemunhos, descobrir documentos e unir as peças da história para produzir um texto que sirva para a Comissão Nacional da Verdade, para a sociedade e para a comunidade acadêmica. Ele calcula que a comissão vai funcionar na Universidade de Brasília por um ano e meio.
Desaparecidos
Em frente ao Restaurante Universitário (RU), mosaicos homenageiam os ex-estudantes da UnB e desparecidos políticos Ieda Delgado, Paulo de Tarso e Honestino Guimarães - este último, o mais conhecido dos três.
Aluno do curso de geologia, Honestino foi perseguido e preso várias vezes por divulgar ideias consideradas contra o regime militar. O nome dele aparece em pelo menos 12 dossiês do Serviço Nacional de Inteligência, o SNI, entre os anos de 1966 e 1968.
Contemporâneo, amigo e companheiro de Honestino, o advogado Cláudio Almeida, lembra com clareza do dia 29 de agosto de 1968, quando a polícia e o exército invadiram a universidade. Na quadra de basquete, em que ele e centenas de estudantes foram detidos, as lembranças vêm à tona.
“A polícia ia fazendo a triagem por meio de documentos. Mas alguns já eram muito conhecidos das polícias Militar e Civil”, fala. “Havia necessidade de um pretexto para se implementar o AI5, com isso a Universidade de Brasília era chamada de foco de subversão, foco de comunistas.”
Cláudio Almeida foi um dos presos. Quando chegou ao quartel general do exército, encontrou Honestino Guimarães.
“Fomos encaminhados para o exército e ali eu presenciei as cenas mais bárbaras. Lá dentro, depois de alguns momentos de tortura, de vários colegas, trouxeram o Honestino para que pudesse me acusar. Ele não falava nada, permaneceu calado o tempo todo. Neste momento, eles faziam afogamento no tambor que tinha lá, por diversas vezes, ele ficou um mulambo”, lembra.
Depois de solto, Honestino Guimarães passou a viver na clandestinidade. Em 1973, foi descoberto pelo Centro de Informação da Marinha, no Rio de Janeiro. Nunca mais foi visto. O ex-estudante foi reconhecido como morto pelo Estado, em 1996. Para a família, porém, é preciso saber o que realmente aconteceu.
“A gente busca uma justiça por etapas, A primeira é fundamental, que é esse direito à verdade, à informação. A gente precisa saber o que aconteceu, isso não é só para minha família, isso não é só pra UnB, isso é para a sociedade brasileira como um todo”, fala Mateus Guimarães, sobrinho de Honestino.
Demissão em massa
Outro acontecimento histórico no período da ditadura na universidade foi o pedido de demissão em massa, em outubro de 1965, de 223 professores - um protesto contra a repressão. Naquela época, nem o conhecido prédio do Minhocão estava pronto e a UnB perdia 79% do corpo docente. Entre os professores que saíram estavam o físico internacionalmente conhecido Roberto Salmeron e o artista plástico Athos Bulcão.
Esses e outros fatos do período da ditadura militar também deverão ser abordados pela Comissão da Verdade.
“Uma das tarefas da comissão da UnB, por exemplo é ir atrás dessas trajetórias interrompidas, o que aconteceu com esses professores e famílias, que, de uma hora para outra, tiveram suas trajetória interrompidas, seus projetos completamente desarticulados. Material não falta”, afirma o professor José Otávio Noronha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário