MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Estoque alto de laranja dá prejuízo de R$ 1,2 bilhões


Frutas apodrecem em pomares no estado de São Paulo.
Brasil é o maior produtor de suco de laranja do mundo.

Da Agência Estado

Produtores de laranja de São Paulo – estado que concentra 85% da produção nacional – estão com as frutas apodrecendo nos pomares. Estima-se que pelo menos 5 milhões de caixas de 40,8 quilos da fruta já tenham estragado, na pior crise do setor dos últimos anos.
Até fevereiro de 2013, as previsões são de que 83 milhões de caixas podem deixar de ser processadas pela indústria de suco de laranja do país, mesmo com uma safra 5% inferior a do ano passado. Um prejuízo avaliado em mais de R$ 1,2 bilhão.
O Brasil é o maior produtor de suco de laranja do mundo, respondendo por metade da produção global. O negócio movimenta US$ 6,5 bilhões brutos, e emprega cerca de 300 mil pessoas.
A crise não é de hoje, mas este ano tomou proporções alarmantes. Indústria, produtores, governo e especialistas atribuem o cenário negativo a uma série de fatores. Entre eles, os estoques elevados de suco no país, após a supersafra de 2011, a redução do consumo de suco no mundo e a proibição de exportação para os Estados Unidos em razão do uso no Brasil do fungicida carbendazim, que foi banido no mercado americano.
Com 600 mil toneladas de suco estocadas e previsão de mais uma safra cheia neste ano (com 365 milhões de caixas de laranja produzidas), as indústrias pararam de comprar dos citricultores, que estão com os pomares carregados. O prejuízo maior é com a espécie hamlin, cuja colheita é feita precocemente e deveria ter começado em maio.
Estima-se que 40 mil empregos (de catadores e motoristas) tenham deixado de ser gerados até agora. Sem serem colhidas, as frutas apodrecem nos pomares. É o que ocorre na propriedade de Aldo Della Coleta, que tem mais de 500 mil pés de laranja e calcula um prejuízo de pelo menos 120 mil caixas. "Não vendi nada até agora. Em 50 anos produzindo e vendendo laranja nunca vi uma situação como essa", diz o produtor, que vende diretamente para a indústria com contrato fechado.
Para evitar que a fruta de colheita precoce apodreça nos pomares e traga mais doenças para a lavoura, Coleta vendeu as laranjas diretamente para colhedores que vão pagar R$ 1 a caixa e depois negociar o produto.
"Isso é para retirar as frutas do pé e evitar que atrapalhem a próxima florada", explica o produtor. Em duas de suas fazendas, onde eram cultivadas exclusivamente laranja, ele já trocou metade de uma delas para o cultivo de cana-de-açúcar e vai introduzir o cultivo na segunda, diante da queda nas vendas.
Embate
Produtores e indústria processadora trocam acusações quando o assunto é a explicação dos motivos que levaram à crise. As entidades de citricultores (são 12 mil no Brasil) acusam as empresas de fabricarem o problema. Ao reduzir compras e assumir o plantio das laranjas em lavouras próprias, elas estariam jogando os preços do produto para baixo, eliminando a lucratividade do negócio e criando esse excedente recorde.
"Três grandes grupos concentram toda a indústria de processamento no país. Eles atuam em cartel, assumindo os plantios de laranja e ditando os preços do produto, eliminando os pequenos produtores", afirma José Eduardo Lelis, da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e membro da Comissão Especial de Citricultura, vinculada ao Ministério da Agricultura.
Segundo a Faesp, o número de citricultores no Brasil batia a casa dos 20 mil, em 2005. Hoje, são 12 mil. Lelis explica que mais da metade das laranjas plantadas é produção própria das indústrias. "O restante são contratos fechados diretamente com o produtor no preço estabelecido por eles e só 40 milhões de caixas vão ser vendidas in natura para o consumidor", afirma Lelis. "É um problema de concentração do poder econômico e o governo tem que intervir."
O presidente da Associação Brasileira de Citricultores, Flávio Viegas, faz coro e diz que a atuação das indústrias é predatória. "Essa é uma crise fabricada. As indústrias vêm desenhando um cenário de queda de demanda, de queda de mercado, mas investem cada vez mais em plantio próprio", afirma.
Com os estoques em alta e mais uma safra elevada neste ano, a Associação Brasileira dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) prevê que vai processar 247 milhões de caixas, das 365 milhões que serão produzidas, totalizando 1,2 milhão de toneladas de suco. No ano passado, a supersafra de 428 milhões de caixas rendeu 1,4 milhão de toneladas de suco processado.
Consumo
O presidente da CitrusBR, Christian Lohbauer, afirma que essa é uma crise estrutural de toda cadeia produtiva citrícola, não apenas dos produtores. "Não é algo momentâneo. O consumo de suco no mundo caiu. As pessoas estão deixando de tomar suco de laranja, tomando outras bebidas, outros sabores", diz.
Segundo a entidade, o consumo de suco de laranja no mundo em sete anos (de 2003 a 2010) caiu de 2,7 milhões de toneladas para 2,1 milhões de toneladas. "Só nos Estados Unidos, que são os maiores bebedores de suco de laranja do mundo, o consumo caiu 25%", informa Lohbauer.
O representante das indústrias explica que as empresas de fato estão comprando lavouras para fazer as próprias produções por economia. "É verdade que estamos investindo em produção de laranja e isso ocorre porque conseguimos produzir a um custo mais baixo."
Segundo Lohbauer, se o preço da venda do suco não aumenta, é preciso reduzir os custos da matéria-prima. Para o presidente da CitrusBR, os citricultores precisam aceitar a redução dos preços da laranja nos anos em que a safra é alta. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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