Juarez Machado monta exposição 'Soixante-dix' em Florianópolis

A mostra, realizada em Paris no ano passado, celebra os 70 anos do artista.
Entre as obras, há pinturas inéditas que contam a vida do catarinense.

Do G1 SC

"Uma bicicleta de rodas quadradas para andar em cidade de buracos redondos"
(Foto: Luísa Konescki/G1 SC)

O artista plástico Juarez Machado está em Florianópolis esta semana motando a exposição 'Soixante-dix' ['Setenta', em francês]. A mostra, que ocorreu em Paris no ano passado, será repetida no Museu de Arte de Santa Catarina, o MASC, entre 19 de julho e 5 de agosto, e celebra os 70 anos do catarinense. De acordo com o artista, a ideia do conjunto das obras é fazer uma brincadeira. "Como eu não queria rir de outra pessoa com a minha idade, a exposição acabou se tornando autobiográfica. É um culto de amor a mim mesmo", afirma.
Esta é a primeira mostra do artista no estado em 14 anos e reúne quadros pintados especilamente para a 'Soixante-dix', fotos e textos dos ateliês que ele já teve pelo mundo, roupas que mandou fazer para usar em suas exposições e uma bicicleta de rodas quadradas - sua marca registrada. "Uma bicicleta de rodas quadradas para andar em uma cidade cheia de buracos redondos. E eu me refiro a Florianópolis e a Joinville", argumenta ele.

Juarez Machado (Foto: Luísa Konescki/G1 SC)

Juarez Machado nasceu em Joinville no mês de março de 1941. Por meio dos quadros expostos na mostra, ele vai narrando um pouco de sua vida para o público. As pinturas possuem um ar extravagante - que é marca do artista - e têm personagens em preto e branco. A pessoa que aparece colorida na tela é sempre a representação dele mesmo e um ponto em comum pode ser percebido em todas as obras da exposição - a ironia. Em um dos quadros, por exemplo, o Juarez está repleto de símbolos pelo corpo. "Nos anos 1960, a gente podia fazer o que quisesse. Hoje, tudo é politicamente incorreto. E isso é muito chato. Tudo tem um nome - a criança, o velho, o deficiente", diz. Ele também não hesita em soltar palavrões a todo momento.
O artista explica que aprendeu o que é ironia ao chegar no Rio de Janeiro, nos anos 1960. Lá, morou em Ipanema e conheceu os fundadores do jornal 'O Pasquim'. "Foi com eles que entendi o que é o humor gráfico. Na faculdade, aprendi que podíamos desenhar uma maçã. No Rio, vi que também era possível contar a história daquela maçã", afirma.
Ainda na capital fluminense, Juarez trabalhou na TV Globo como roteirista e montava cenários para quadros do Fantástico. Ainda no programa ele foi mímico. Assim como as roupas confeccionadas para as exposições, o figurino usado pelo artista nesta época também ficará exposto. Para Juarez, a vestimenta é uma forma de comunicação. "Não se trata de esconder minha nudez. Na Europa, mulheres tiram a roupa para se expressar, não tiram? Eu me visto para me expressar, para provocar", ressalta.
Ao contrário do que se vê em um de seus quadros, em que ele usa um macacão para pintar, Juarez conta que manda fazer roupas especialmente para pintar e embaixo dele fica um tapete "sem uma gota de tinta". A história dos ateliês onde trabalhou também está narrada na exposição. Hoje, Juarez possui ateliês em Paris, Florianópolis, Joinville e no Rio de Janeiro. Segundo ele, não há distinção entre o local de trabalho e sua casa. "Meu ateliê é minha pátria, não importa em que parte do mundo." A capital francesa, no entanto, é o lugar que escolheu para morar. "Paris é especial. É uma das sete cidades do mundo". Juarez define que "tudo são sete". "Não importa se é o melhor ou o maior. Copacabana pode não ser a maior ou a melhor, mas é uma das sete praias do mundo. Por isso que meu ateliê também está lá", diz.
Juarez terminará de montar a 'Soixante-dix' com suas mais de 50 obras inéditas ainda nesta semana. A partir do dia 19, a mostra será aberta ao público com entrada gratuita.