MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 14 de julho de 2012

'Manaus é uma cidade que não foi feita para todos', lamenta deficiente físico


Calçadas e transporte coletivo são os maiores problemas de acessibilidade.
Para associação, deficientes físicos estão à margem da sociedade no AM.

Girlene Medeiros Do G1 AM

Falta de rampas em calçadas ainda é um problema (Foto: Girlene Medeiros/G1 AM)Falta de rampas em calçadas ainda é um problema (Foto: Girlene Medeiros/G1 AM)
"Uma cidade que não foi feita para todos". É assim que o paraatleta James Cardoso Souza define Manaus. O bicampeão brasileiro na modalidade tênis de mesa acredita que a capital amazonense ainda tem muito para evoluir em relação à acessibilidade. "Viajo por outras cidades e vejo ainda há o que melhorar", afirmou.
A deficiência física é decorrente de uma paralisia infantil que teve quando tinha uma ano e oito meses de idade. De acordo com o paratleta, a principal dificuldade ainda é a falta de rampas nas calçadas. "Uma ou outra calçada tem rampa. As que não tem, a gente tem que dar um jeitinho", disse.
O mesatenista, de 39 anos, mora no bairro Grande Vitória, Zona Leste, e de segunda a sexta treina na Vila Olímpica, Zona Oeste, por quatro horas. A reportagem do G1 o acompanhou  durante o trajeto que dura 1h40. O treino inicia às nove horas, mas James tem que sair de casa às 7h30. "Prefiro pegar ônibus sempre nos mesmos horários porque os motoristas já me conhecem e sabem que é preciso parar perto da calçada", explicou.
James Cardoso é bicampeão brasileiro em tenis de mesa (Foto: Girlene Medeiros/G1 AM)James Cardoso é bicampeão brasileiro em tenis de mesa (Foto: Girlene Medeiros/G1 AM)
Por causa da paralisia, James perdeu os movimentos da perna direita, mas ainda consegue se apoiar na perna esquerda por alguns minutos. Para ele, 80% dos motoristas tem boa vontade para ajudar, mas não sabem como mexer no elevador. "Teve uma vez que o motorista acionou o elevador do ônibus e quase me derrubou. Se eu não tivesse segurado, eu teria caído", lembrou o atleta ao ressaltar que prefere subir nas escadas devido ao ocorrido.
O esporte tem papel fundamental na vida do paraatleta. Dez anos de experiência na modalidade tênis de mesa o ajudam a ter o fôlego sempre em dia para enfrentar o trajeto diário. Na opinião de James, os governantes escolhem pessoas erradas para coordenar ações e melhorias para os deficientes físicos da cidade. "Viajo por tantos lugares nas competições e vejo que cidades com Maceió e Belém são bem melhores na questão da acessibilidade", afirmou.
Sobre preconceito, o bicampeão explicou ao G1 que muitos amigos deficientes já quiseram cometer suicídio por não se sentir parte da sociedade. Durante o trajeto até a Vila Olímpica, o atleta era cumprimentado por dezenas de pessoas e até o parabenizavam pela recente conquista do bicampeonato. "Por causa do esporte, eu tenho bastante amigos e pessoas que me ajudam quando preciso", ressaltou.

James tornou-se popular, é casado, tem três filhos e se mostra feliz, mas ele faz parte da minoria. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são aproximadamente 210 mil deficientes físicos no Amazonas, sendo destes 108 mil só em Manaus. "São muitos deficientes que acabam se trancando em casa porque não conseguem nem atravessar uma rua direito", disse o mesatenista.
Nem todos os ônibus são adaptados para deficientes físicos (Foto: Girlene Medeiros/G1 AM)Nem todos os ônibus da capital são adaptados para deficientes físicos (Foto: Girlene Medeiros/G1 AM)
Para o presidente da Associação de Deficientes Físicos do Amazonas (Adefa), Isaac Benayon, é importante parar de tratar a pessoa com deficiência como alguém à margem da sociedade. "Estamos cansados de pensarem que estão fazendo um favor ao construir uma rampa na calçada ou fazer uma passarela adaptada. Nós temos direito e não precisa o governante soltar foguete porque um ônibus está adaptado", ressaltou.
Ainda segundo Benayon, as dificuldades estruturais são as mesmas que os deficientes físicos enfrentavam há 30 anos. "Bueiro aberto, calçadas cheias de buraco, lixeira inapropriada, postes do semáforo em locais que cadeirantes não alcançam. É uma coisa estúpida, mas nós vamos lutar para fazer nossos direitos valerem", desabafou.

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