MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Família Amado tenta transformar casa do escritor em memorial


Imóvel que guarda cinzas de Jorge e Zélia é mantida fechada em Salvador.
Casa onde escritor morou na infância hoje é ponto turístico no sul da Bahia.

Ingrid Maria Machado Do G1 BA
Jorge Amado (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)Cinzas de Jorge Amado e Zélia Gattai estão guardadas no imóvel (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
"Em vida, meu avô sempre dizia: 'Quando eu morrer, eu quero que esta casa se torne um memorial'". A lembrança é de João Jorge Amado, neto do escritor baiano Jorge Amado sobre a casa do Rio Vermelho, imóvel que simboliza grande parte da memória da família e o amor ente Jorge Amado e sua esposa, a também escritora Zélia Gattai, que faleceu em 2008.

(De segunda-feira (6) a sexta-feira (10), o G1 publica uma série de matérias em homenagem ao centenário de Jorge Amado)
"Meu avó morreu em 2001. Depois disso decidimos ir morar em um apartamento, e a partir daí, começamos a tentar transformar a casa em memorial. Montamos um projeto para entregar na Lei Rouanet, mas nunca foi aprovado. Eu não vejo outra função para esta casa do que receber as pessoas e contar a história de Jorge Amado e Zélia Gattai", diz o neto.
O governador da Bahia, Jaques Wagner participou juntamente com o secretário de Cultura do estado, de uma sessão solene em homenagem ao escritor no Senado, na segunda-feira (6).

O evento contou com a participação da família Amado e após a ação festiva, Wagner anunciou através de nota oficial que irá transformar a casa do escritor em memorial. A Secretaria de Cultura informou que ainda não sabeo projeto será viabilizado.
A assessoria de imprensa da instituição disse que foi realizada na manhã de terça-feira (7) uma reunião com a famíllia de Jorge Amado, que apresentou um projeto arquitetônico feito pelo Governo Português para transformar a casa em memorial. Não está definido o uso de verbas públicas no projeto, ainda sem data para ser implantado. Segundo a Secult, esse mesmo projeto será apresentado ao diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), Frederico Mendonça na sexta-feira (10) para análise.
João Jorge relata que há alguns anos, o Ministério da Cultura de Portugal entrou em contato com a família e solicitou a um arquiteto do país a criação de um projeto que poderá ser utilizado caso a residência seja transformada em memorial. Este projeto foi doado à família do escritor e está previsto para ser apresentado a empresários e a representantes do governo na sexta-feira (10), dia que comemora-se o centenário do nascimento de Jorge Amado na tentativa de conseguir aportes financeiros e enfim, tornar a casa um memorial.
Tombamento
Em 2003, Zélia Gattai solicitou o tombamento da casa para o Conselho de Cultura do Estado. O Conselho solicitou ao Insituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado (Ipac) a realização de um dossiê, que foi feito e devolvido para a instituição com um despacho favorável ao tombamento do imóvel. Enquanto o dossiê é realizado e o processo continua aberto, a casa fica tombada provisoriamente.

O trâmite legal indica que, após a recomendação do Ipac, o Conselho envie à Secretaria de Cultura do Estado (Secult-BA) a aprovação do tombamento e a Secult-BA encaminha ao governador para assinatura e tombamento definitivo do imóvel. Os trâmites permanecem em andamento desde maio de 2011.
casa de jorge amado; centenário do escritor (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)Placa localizada no jardim da casa.
(Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
João Jorge disse que durante a realização do dossiê, uma arquiteta do Ipac esteve na casa para a análise do espaço e disse à família que, como o imóvel estava em processo de tombamento, nao poderia sofrer alterações em sua estrutura.

"Ela nos disse que nós não tínhamos como fazer a modificação da estrutura da casa. Nós queríamos fazer uma rampa na entrada para facilitar o acesso a portadores de necessidades especiais, assim como outras pequenas modificações. Como ela disse que nós éramos proibidos de realizar essa modificação, nossa família pediu a retirada do tombamento da unidade. Assim, acho que todo esse processo de tombamento foi uma grande falta de comunicação entre nós da família e o governo", disse João Jorge.
A Secult afirma que há um pedido em nome da família e assinado por Paloma Amado solicitando a retirada do pedido de tombamento, porém, de acordo com a Lei nº 8.895 que regulamenta o  Patrimônio no estado, a casa poderia ter sido tombada mesmo sem a autorização da família, já que o bem simbólico é mais importante.

A casa
No imóvel com mais de dois mil metros quadrados de área, histórias são lembradas pelo neto que também já morou no local. "Muitas histórias boas aconteceram aqui. O ator Jack Nicholson esteve aqui em casa junto com o diretor Roman Polanski. Meu avô trouxe eles até o quintal e sentaram embaixo de uma jaqueira para experimentar algumas frutas. Por sorte, o pior não aconteceu porque uma jaca caiu ao lado de Nicholson", conta o neto.
jorge amado (Foto: Zélia Gattai/Acervo Fotográfico Zéllia Gattai)Jorge Amado em Salvador.
(Foto: Zélia Gattai/Acervo Fotográfico Zéllia Gattai)
A residência fica localizada na rua Alagoinhas, nº 33, no boêmio bairro do Rio Vermelho, na capital baiana. A casa de fachada simples e recheada de símbolos do Candomblé foi onde o escritor e sua esposa residiram durante muito tempo.

Ela foi comprada com o dinheiro que Jorge Amado recebeu após vender os direitos autorais de "Gabriela" para uma produtora de Hollywood no final da década de 50. Foi lá que o casal criou os filhos João Jorge e Paloma. Foi lá também que Jorge Amado escreveu diversos livros, entre eles "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Quincas Berro D'Água". Após a morte de ambos, a família enterrou as cinzas do casal no quintal da residência e tenta tranformar a casa em memorial aberto, onde parte da história da família Amado e seu acervo estarão disponíveis ao público.
Atualmente, a casa encontra-se vazia, sem as obras artísticas e sem os pertences pessoais. De acordo com a família, a proposta é de que o memorial irá abrigar uma loja onde o público terá acesso às obras do escritor e de sua mulher, além de uma cafeteria. O memorial irá contar com todo acervo do artista e de Zélia, além de obras de outros artistas que foram doadas à família e outras compradas pelo escritor.

Casa de Ilhéus
Construída pelo pai do romancista em 1926, a casa onde Jorge Amado morou quando criança e passou suas férias na adolescência funciona hoje em dia, o Centro de Cultura de Ilhéus, no sul da Bahia. A casa pertencia ao Estado e foi doada ao município com a condição de ser transformada em uma casa de cultura. A sede foi restaurada pelo município e tombada como Patrimônio Cultural em agosto de 1989 através da Lei de nº 2314.

Atualmente, a instituição oferece à comunidade o acesso a livros, fotos, esculturas, roupas e curiosidades a respeito da cultura e formação do escritor. Para entrar, é preciso pagar a quantia simbólica de R$ 4 (inteira), sendo que, crianças até 10 anos e idosos acima de 60 não pagam. Nos meses de julho e janeiro, o espaço não fecha durante o horário de almoço, permitindo maior acesso de turistas.
jorge amado e zelia gattai (Foto: Reprodução/TV Globo)Jorge Amado e Zélia Gattai (Foto: Reprodução/TV Globo)

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