MEDIÇÃO DE TERRA

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domingo, 26 de agosto de 2012

Pastoral estima que 1.800 haitianos estejam refugiados em Manaus


Neste ano cerca de 1.900 haitianos migraram para Região Sul do Brasil.
Mulheres sofrem com maior dificuldade para conseguir empregos formais.

Adneison Severiano Do G1 AM

Haitianos em Manaus (Foto: Adneison Severiano G1/AM)Dificuldades com idoma é apontado como barreira na busca dos haitianos em Manaus por emprego (Foto: Adneison Severiano G1/AM)
De janeiro a agosto deste ano, cerca de 1.900 haitianos que estavam refugiados em Manaus migraram para estados da Região Sul do Brasil. A mudança de parte desse grupo de imigrantes ocorreu em virtude da contratação formal junto às empresas do sul do país. Entretanto, a situação dos aproximadamente 1.800 haitianos que permanecem na capital do Amazonas não é plenamente favorável. Muitos refugiados ainda não conseguiram ingressar no mercado de trabalho manauense. A barreira é ainda maior para as mulheres imigrantes, que para sobreviverem em Manaus estão atuando no mercado informal de trabalho.
Padre Valdeci Molinari, pároco da Paróquia São Geraldo e membro da Pastoral dos Migrantes – grupo da Igreja católica que oferece assistência aos haitianos, explicou que apesar do levantamento do quantitativo de haitianos não ser totalmente preciso, a estimativa é de que 1.100 pessoas imigrantes do Haiti deixaram Manaus com contrato de trabalho firmado com empresas que arcariam inclusive com a moradia do trabalhador haitiano. "Mas ainda tem aqueles que saíram da capital por conta própria, sem ser através do trabalho da Pastoral e esse grupo é de cerca de 800 haitianos. Hoje acredito, permaneceram na capital entorno de 1.800 imigrantes haitianos", revelou o padre.
O sacerdote disse que a maior demanda de mão de obra dos refugiados do Haiti em Manaus está sendo absorvida por empresas dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Como pouco aqui para mandar algum dinheiro para meus filhos no Haiti"
haitiana Viliana Durandise
Padre Valdeci Molinari afirmou que mais da metade do grupo de refugiados que permaneceu na capital amazonense conseguiu emprego formal. Porém, a alta frequência de rotatividade no quadro de funcionários das empresas manauenses, tem afetado a permanência dos trabalhadores haitianos nos postos de trabalho.
"Tem uma faixa de trabalhadores haitianos que sofre com a rotatividade. Começam a trabalhar e passam dois ou três meses, sendo dispensados em seguida. Não sei que mal existe nas empresas de Manaus que o trabalhador não consegue se firmar no trabalho", destacou o religioso.
Segundo dados da Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Amazonas (SRTE-AM), de janeiro à primeira quinzena de agosto de 2012 foram emitidas 1.878 carteiras de trabalho haitianos em Manaus, sendo 339 de imigrantes do sexo feminino e 1.539 do sexo masculino.
Mesmo possuindo Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), a estimativa da Pastoral do Migrante é de que 200 haitianos ainda não conseguiram emprego no mercado formal. A contratação de trabalho torna-se ainda mais difícil para as mulheres haitianas.
"As mulheres estão tendo muita dificuldade de conseguir emprego. Do grupo requisitados pelas empresas de fora não teve solicitação para contratação de haitianas. Também em Manaus não há procura pela mão de obra das mulheres, a que tinha antes era para a área do trabalho doméstico, mas em virtude das dificuldades com o idioma e os costumes, não houve absorção no mercado. Por isso, cerca de 180 haitianas desempregadas atualmente", ressaltou padre Valdeci Molinari.
Haitiana em Manaus (Foto: Adneison Severiano G1/AM)Imigrante haitiana comercializa balas e doces nas ruas para sobreviver (Foto: Adneison Severiano G1/AM)

Da miséria no Haiti às dificuldades no Brasil
Residindo na humilde casa alugada no bairro Lagoa Verde, Zona Sul de Manaus, a haitiana Viliana Durandise é um exemplo de refugiado que está no mercado informal de trabalho da capital.
Após perder o marido durante o terremoto que atingiu o Haiti em 2010, ter a casa e o comércio familiar - única fonte de renda- destruídos na capital Porto Príncipe, a haitiana de 46 anos veio para o Brasil na tentativa reconstruir a vida e tirar do estado de miséria a família composta por quatro filhos, com idades entre 2 e 19 anos, que permaneceram em solo haitiano.
Ao chegar em Manaus em setembro do ano passado, juntamente com dois primos Nesley Cxantus e Rhina, a refugiada não esperava que a motivação de retirar da miséria os filhos fosse esbarrar nas dificuldades com o idioma português. Apesar de falar espanhol, francês e o crioulo, a comunicação na língua portuguesa é principal barreia dos haitianos na busca por emprego.
Haitiana desempregada em Manaus (Foto: Adneison Severiano G1/AM)Com CPTS haitiana permanece desempregada
em Manaus (Foto: Adneison Severiano G1/AM)
Embora tenha carteira de trabalho do Brasil, a documentação da haitiana jamais foi utilizada. Sem emprego e com quatro filhos para ajudar no Haiti, Viliana teve que conseguir uma alternativa para se manter no país e enviar dinheiro para as necessidades mínimas de alimentação dos filhos na cidade natal.
"Eu e minha prima vendemos doces nas ruas e nos ônibus. Meu primo vende picolé nas ruas. E dividimos o aluguel e conta da luz da casa que dá uns R$ 300. Foi o único trabalho que consegui. Como pouco aqui para mandar algum dinheiro para meus filhos no Haiti. A situação não é fácil e saudade deles é muito grande", contou a haitiana.
Haitiano em Manaus (Foto: Adneison Severiano G1/AM)Haitiano mostra as marcas de ferimentos do
terremoto (Foto: Adneison Severiano G1/AM)
Marcas da tragédia
Depois de dois anos do desastre natural que vitimou milhares de pessoas no Haiti, além da dor da perda dos parentes e amigos, alguns refugiados no Brasil ainda sofrem com as sequelas deixadas pelo terremoto.
O haitiano Nesley Cxantus durante o abalo sísmico teve o crânio perfurado por uma barra de ferro e o membros inferiores soterrados pelos escombros. Ainda quando se recuperava dos ferimentos ele teve o quadro de saúde agravado por uma infecção. Atualmente, as marcas pelo corpo e as dores mantém viva a tragédia do terremoto.
"Hoje em dia ainda sinto dores e tem dia que não consigo trabalhar na rua. Quando como, a comida não digere direito e tenho dores de cabeça. O médico daqui passou dois medicamentos, mas não tenho como comprar porque são caros. Preciso de ajuda para comprá-los", declarou o imigrante.

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