Davi Lemos A TARDE
A documentação contida nos Livros do Tombo do Mosteiro de São Bento traz registros do patrimônio dos beneditinos nos primeiros séculos do Brasil colonial na Bahia e Pernambuco. Eles têm ainda a documentação notarial referente a grandes personalidades da história do Brasil, como Catarina Paraguaçu e Garcia D'Ávila. Há registro de territórios pertencentes a D'Ávila na Bahia ao extremo norte da região Nordeste, além de um documento que registra a doação feita por Catarina Paraguaçu de uma sesmaria ao Mosteiro de São Bento.
Os registros, segundo a responsável pelo acervo de quase 300 mil obras da biblioteca beneditina, Alícia Duhá Lose, são referência a um momento em que a Igreja Católica exercia funções hoje realizadas pelo Estado, como fazer o registro de posse de terrenos e imóveis. E a documentação dá mostras de que, além de ser um patrimônio, continua útil. O registro da doação da sesmaria de Catarina Paraguaçu aos beneditinos, por exemplo, serviu para que, em 2009, o mosteiro provasse ao Ministério da Educação (MEC) que tem a posse de onde hoje funciona a Faculdade São Bento (FSB).
"Estes registros trazem também o retrato do comportamento de uma época", diz a pesquisadora Alícia Lose, especialista em paleografia e diplomática e pós-doutora em letras pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), além de coordenadora-geral da FSB. Ela conta que há no registro histórias curiosas, como a doação feita por Garcia D'Ávila de imóveis para empregados e apenas duas vacas para as noras.
Patrimônio - O Programa Memória do Mundo, da Unesco, reconhece patrimônios documentais de significância internacional, nacional e regional, que se encontram em bibliotecas, arquivos e museus. Em Salvador, têm esta distinção o Arquivo do Tribunal da Relação do Brasil e da Bahia; Atas da Câmara Municipal da Cidade de Salvador (1625-1763); e Registros de entrada de passageiros no Porto de Salvador (1855-1964).
A pesquisadora Alícia Lose aponta que a iniciativa do Mosteiro de São Bento desconstrói o velho mito de que as instituições católicas desejam manter para si toda fonte de conhecimento. "A Igreja quer divulgar tudo isso. O que falta é pessoal capacitado para fazer a catalogação de todo este material. Aqui no mosteiro, a orientação é divulgar tudo", diz Alícia, cuja sala de trabalho no mosteiro é localizada ao lado do claustro onde ficam os monges da ordem.
O Mosteiro de São Bento possui o Laboratório de Restauro de Livros Raros, que conserva obras dos séculos XVI, XVII e XVIII. Mais de 200 livros já foram restaurados em parcerias com CNPq, Fapesb e Fundo de Cultura.
Todo o setor fica sob a responsabilidade de dom Ângelo Oliveira. "Embora se pense que cuidar desse patrimônio seja só depositar os livros, o trabalho não se resume a isso. Tem que se conservar este acervo da ação do tempo, clima e biologia", diz.
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