MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 10 de novembro de 2012

Corrupção capitalista, a nova praga do comunismo chinês


Ranulfo Bocayuva A TARDE

  • Diego Azubel | Agência EFE
    Assembleia Nacional Popular está reunida entre os dias 8 e 14 de novembro
Enriquecimento bilionário ilícito gerado por atos de corrupção praticados pelas famílias do primeiro-ministro Wen Jiabo (denunciados pelo "New York Times" e "Financial Times") e do vice-presidente Xi Zinping, que deverá ser nomeado presidente, além de fortes desigualdades sociais, restrito acesso a serviços públicos de qualidade, crescimento econômico mais baixo dos últimos três anos (7,6%), graves problemas ambientais, falta absoluta de liberdades políticas transformam a atual transição de poder na China em sérios desafios para seus líderes comunistas nos próximos cinco anos.
Reunida entre os dias 8 e 14 de novembro, a Assembleia Nacional Popular, com quase três mil deputados eleitos ou designados pelo Partido Comunista por cinco anos, elege formalmente o presidente, vice e premiê, que deverá ser Li Keqiang. Capitalismo de Estado, economia de mercado, socialismo. Como definir este complexo sistema político que caminha para se tornar a mais importante economia do mundo?
Apesar de suas boas intenções, os artigos 1 e 2 da Constituição deixam dúvidas ("A China é um Estado socialista de ditadura democrática popular. Todo poder pertence ao povo. O povo administra o Estado, economia, cultura e questões sociais"). Na prática, o partido é o povo, que, numa ideologia fechada e autoritária como a chinesa, não é mais representado em termos éticos e democráticos.
Ou seja, cai cada vez mais a confiança popular nos dirigentes, em consequência de evasão de recursos públicos e de má gestão na questão dos transportes, saúde e habitação. Acusado de má gestão e corrupção, o ex-ministro dos Transportes Liu Zhijun foi afastado do cargo em julho, após a colisão de trens que resultou na morte de 72 pessoas.
Uma classe média capitalista prospera graças às ligações privilegiadas entre partido e empresas estatais. Com base numa investigação da ONG Global Financial Integrity, estima-se que o equivalente a mais de R$ 6 bilhões tenha sido retirado, no ano passado, da China, pelos "novos ricos". Entre eles, estão parentes de Jiabo.
Existem dados financeiros de empresas e seus acionistas mostrando o patrimônio da sua família, incluindo a mulher Zhang Beili (responsável por importantes operações no setor de joias e gemas) e o filho, Wen Yungsong, atual presidente da estatal de comunicações na China, que deverá se tornar a maior operadora de satélites na Ásia, em 2015. Nada disso seria ilegal se os próprios dirigentes chineses não tivessem admitido que a "corrupção é o principal perigo para o partido".
Em função da concentração de grandes conglomerados estatais, principalmente nos setores de bancos e empresas de telecomunicações e energia, o Estado praticamente domina a economia e a política, por meio dos líderes, suas famílias e apadrinhados.
Embora acenasse para menor intervenção do Estado na economia, limitando o outrora generoso financiamento bancário estatal às empresas consideradas vitais para a segurança nacional, o atual presidente e secretário-geral do PCC, Hu Jintao, descartou categoricamente qualquer abertura ou reforma políticas, enfatizando que o partido não deve seguir modelos ocidentais. É bom lembrar que nove integrantes, inclusive Hu, formam o Comitê Permanente do Birô Político, o centro do poder comunista.
Uma crise de identidade e legitimidade aflora nesta China capitalista e comunista. Entre os amigos e parentes dos líderes comunistas e funcionários do partido, há clara ascensão social e boas oportunidades econômicas.
A partir das rivalidades internas, podem surgir disputas e divergências, mas é difícil imaginar que esta cúpula de poder de origem gerontocrática fortemente enraizada desde os tempos da abertura econômica preconizada por Deng Xiaoping, em 1979, e com ramificações poderosas em setores-chave da economia, venha a sofrer mudanças significativas. Só movimentos separatistas ou regionais poderiam ameaçar o poder central.

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