Testemunha Jaílson de Oliveira foi ouvido pela acusação nesta terça (20).
Ele disse que foi ameaçado por policial e que corre risco de vida na cadeia.
Em depoimento prestado à polícia, lido na íntegra durante a sessão, Oliveira diz ter ouvido a confissão de Bola sobre o crime. A testemunha disse ter sido ameaçado por um policial para retirar seu depoimento. "Sei de toda sua família", teria sido a ameaça. O detento afirmou para a juíza que está preso na Penitenciária Nelson Hungria, recolhido na enfermaria por medida de segurança. "Disseram que sou cagueta. Corro risco de vida".
A Promotoria acusa o jogador, que era titular do Flamengo, de ter arquitetado o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. Bruno e os demais acusados negam o crime.
'Amarrada e chutada'
A primeira testemunha a ser ouvida pelo júri popular em Contagem foi João Batista, citado no depoimento de Cleiton Gonçalves, ex-motorista de Bruno. Batista disse que Gonçalves estava "com as mãos livres, sem algemas, bem à vontade" quando prestou depoimento para a polícia e que, perguntado se estava bêbado ou lúcido, respondeu "lúcido". Ele disse ainda que o ex-motorista do jogador não aparentava nenhum temor.
Na segunda-feira, Cleiton Gonçalves disse que prestou depoimento à polícia sob pressão. Em sua fala, o ex-motorista afirmou ter ouvido o primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales, dizer que Eliza "já era". Ele ficou retido desde ontem para uma possível acareação com Batista, mas a juíza julgou o encontro desnecessário e dispensou as duas testemunhas.
Depois disso, a delegada Ana Maria Santos prestou esclarecimentos e deu detalhes sobre o depoimento dado à polícia por Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro Bruno Fernandes, em 2010. Segundo ela, Rosa disse que Eliza Samudio foi amarrada e chutada antes de ser morta.
"Deu uma gravata e durante o tempo em que era apertada, apertada, ela foi perdendo fôlego, foi virando os olhos, a língua dela foi indo para fora, saiu espuma da boca dela e ela caiu ao chão e depois de poucos movimentos, ficou lá, morta", disse a delegada, referindo-se ao depoimento do primo de Bruno.
Rosa, que era adolescente à época dos fatos, disse à polícia que o homem que matou Eliza tinha o apelido de Neném, também conhecido como Bola, que era grisalho e apresentava um problema no dente. Ele disse ainda que Eliza dormiu trancada em um quarto quando estava sob cárcere privado no Rio de Janeiro e que o filho da ex-amante de Bruno foi mantido com a ex-namorada do goleiro, Fernanda Gomes de Castro, também ré no processo.
Questionada pelo promotor Henry Castro, a delegada afirmou que o depoimento do primo do goleiro dado à polícia transmitiu confiança. "Sem dúvida nenhuma, pela riqueza de detalhes, pelo modo como ele fez aquela narrativa". Atualmente, Jorge Luiz Rosa está inserido no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, de acordo com o Ministério Público.
O goleiro Bruno Fernandes de Souza pediu a destituição de seus advogados Rui Pimenta e Francisco Simim durante o segundo dia de julgamento. Logo ao início da sessão, o jogador afirmou que não se sentia seguro para continuar com Rui Pimenta e pediu tempo para achar outro advogado. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, no entanto, lembrou que ele ainda possuía outro defensor, Francisco Simim.
Depois de alguns minutos, o goleiro pediu a palavra novamente e disse à juíza que estava destituindo também Simim, que representa a sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues, ré na ação. A magistrada entendeu que o goleiro pretendia adiar seu julgamento e negou a solicitação, mas Bruno negou esse objetivo e alegou que não queria prejudicar a defesa de Dayanne.
O promotor do caso pediu para que Dayanne, que responde à ação em liberdade, tivesse mais tempo para ser defendida por outro advogado. Bruno, réu preso, tem preferência de julgamento. A juíza seguiu este entendimento e determinou que Dayanne seja julgada em outra data, possivelmente junto com Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que conseguiu o desmembramento do júri.
Rui Pimenta, destituído da defesa por Bruno, disse que foi "pego de surpresa" com a decisão do cliente. "O Bruno agradeceu o trabalho feito, mas disse que queria mudar de estratégia", explicou o advogado, que diz torcer para que ele seja absolvido. "Faço votos que isso [a destituição] seja bom para ele".
Novo advogado do goleiro Bruno, Tiago Lenoir fala
sobre o caso (Foto: Cristina Moreno de Castro/G1)
Novo defensorsobre o caso (Foto: Cristina Moreno de Castro/G1)
Após pedir para que Rui Pimenta fosse afastado do caso, o goleiro Bruno apresentou Tiago Lenoir como novo advogado de sua equipe de defesa, que será conduzida por Francisco Simim. Lenoir, que é advogado da Federação Mineira de Futebol, disse que vai seguir o trabalho realizado até agora. "A gente está preparado para fazer uma boa defesa para ele".
O advogado disse conhecer o processo e afirmou que estava "prevendo" sua nomeação. "Eu trabalho com ele [Simim] já há bastante tempo", ressaltou. "Minha entrada no caso não é inovação na defesa, estou apenas reforçando".
Perfil no Twitter traz diálogo com aposta em Bruno
condenado pelo júri (Foto: Reprodução/Twitter)
Aposta de cervejacondenado pelo júri (Foto: Reprodução/Twitter)
Perfil no Twitter com o nome de Tiago Lenoir (@_tiagolenoir) postou na segunda-feira (19) uma série de comentários sobre o julgamento do caso Eliza Samudio. Em um dos posts, o dono do perfil aposta uma caixa de cerveja que o atleta será condenado a mais de 38 anos de prisão: "...mas na pratica a defesa vai continuar falando asneiras e o Bruno será condenado a mais de 38 anos. Aposto uma cx de cerveja".
O perfil também tem comentário de que Bruno e Macarrão deveriam confessar que mataram Eliza. "O Bruno e Macarrão deveriam confessar o crime de homicídio e negar a ocultação de cadáver e sequestro. Dai pega 6 anos e volta a jogar bola". O G1 acessou o perfil de Tiago Lenoir por volta das 14h50 desta terça. Depois disso, muitos dos posts mais recentes foram apagados, incluindo o que apostava a caixa de cerveja. O advogado não foi localizado para comentar o caso.
Procurado pelo G1, Francisco Simim, que representa Bruno, comentou as declarações do perfil de Lenoir no Twitter. "Ontem [segunda], ele disse isso, mas hoje ele está no processo. Todo mundo tem suas opiniões. Ontem ele tinha essa opinião, hoje ele está na nossa equipe".
Multa para advogados de Bola
A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues determinou multa de R$ 18.660 – 30 salários mínimos – para cada um dos três advogados do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, por abandonarem o júri na segunda-feira (19), primeiro dia de julgamento. Segundo a magistrada, a atitude de Ércio Quaresma, Zanone de Oliveira Júnior e Fernando Magalhães foi "injustificada", sem "razão juridicamente relevante". Eles têm prazo de 20 dias para pagarem juntos R$ 55.980.
"Esse tipo de conduta causa grande prejuízo ao estado e à sociedade que implica em gasto de dinheiro público", afirmou Marixa, durante o julgamento, ressaltando que o fato será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que deve avaliar a conduta dos defensores.
Os advogados deixaram o júri após discordarem do limite de 20 minutos estipulado pela juíza para cada defesa apresentar seus argumentos preliminares. "A defesa não vai continuar nos trabalhos, nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há", disse Quaresma.
Com a decisão dos advogados, a juíza declarou o ex-policial Bola indefeso. Ele não aceitou ser representado por defensor público e, com isso, terá dez dias para nomear um novo advogado. A manobra foi festejada pela defesa, que deixou o Fórum feliz com o desmembramento.
Promotor de Justiça Henry Wagner fala à imprensa
na entrada do Fórum (Foto: Pedro Triginelli/G1)
Ameaça à testemunhana entrada do Fórum (Foto: Pedro Triginelli/G1)
O promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse, na manhã desta terça-feira, que o detento Jaílson Oliveira teria falado a funcionários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que foi ameaçado por Bruno às vésperas do júri popular. Oliveira, que é testemunha por parte da acusação, teria dito que o goleiro comentou que ele estava "falando demais" e que "peixe morre pela boca".
Oliveira denunciou, em 2011, um esquema que teria sido montado por Bruno e pelo réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que preside o júri. Rui Pimenta, que pela manhã ainda defendia Bruno, negou a ameaça. "O promotor está querendo usar tudo o que é possível, mas ele já perdeu o caso", afirmou.
Segundo o promotor, Oliveira ouviu dentro da penitenciária Bola dizer que matou Eliza e que o corpo dela só seria encontrado se "peixe falasse". O detento chegou a pedir à Justiça proteção no traslado da Penitenciária Nelson Hungria, onde está preso com Bruno e com Luiz Henrique Romão, o Macarrão, até o Fórum de Contagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário