Magistrados de todo o País anunciaram que vão parar de hoje até a próxima quinta, 8, para chamar atenção para a desvalorização da carreira
Gheisa Lessa - O Estado de S. Paulo
>SÃO PAULO - Juízes de todo o País anunciaram que vão paralisar os trabalhos a partir desta quarta-feira, 7, até a próxima quinta, 8, para chamar atenção à desvalorização da carreira. Segundo as associações dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e Nacional dos Juízes da Justiça do Trabalho (Anamatra), a categoria sofreu perda salarial de 28,86% desde a implantação da parcela única, em 2005. Neste intervalo de tempo, apenas um reajuste salarial, de 9%, foi aprovado.
Ainda hoje, os
presidentes das associações devem se reunir com as lideranças do
Congresso - presidência do Senado, da Câmara e do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Além da
paralisação nacional, os juízes também se negaram a participar da Semana
Nacional de Conciliação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mutirão
anual promovido por tribunais de todos os ramos da Justiça brasileira. O
objetivo do evento é desafogar o número de processos com audiências
marcadas incentivando as negociações entre as partes envolvidas. Os
magistrados da União, de acordo com a Anamatra, apoiam a prática da
conciliação.
O presidente da
Anamatra, Renato Santana, estima que 90% dos juízes do Trabalho e
Federais não trabalham em todo o País desde a manhã desta quarta.
Segundo ele, o número de adesões varia entre as regiões. "Há cerca de
1,3 mil varas do Trabalho no Brasil, que realizam aproximadamente 15 mil
audiências por dia. Dessas reuniões, ao menos 5 mil acordos são selados
diariamente e é este o número de decisões que deixarão de ser tomadas
durante cada dia de paralisação", calcula o presidente da associação.
Todas as
audiências marcadas para a quarta e para a quinta foram canceladas,
exceto aquelas consideradas - pelos próprios juízes dos casos - de
urgência. Para a categoria, a população sofre um impacto simbólico, uma
vez que todas as audiências canceladas foram remarcadas.
A greve foi
decidida em assembleias que aconteceram de forma simultânea nos Estados
ao longo das últimas semanas, explica Santana. A última reunião, entre
as categorias de base da Anamatra, aconteceu na sexta, 26 de outubro.
Segundo o presidente da associação, os juízes federais, filiados à
Ajufe, definiram a greve antes, há cerca de 30 dias. "A ideia não é
causar um prejuízo para a população, mas sim chamar a atenção para os
trabalhadores que estão com perda de 30% no poder de compra. A
desvalorização é muito alta", argumenta Santana.
As associações
Ajufe e Anamatra dizem estar abertas ao diálogo institucional, na busca
de uma solução que reponha as perdas inflacionárias destes últimos sete
anos, desde a implantação da parcela única em 2005. Neste intervalo de
tempo a categoria teve uma reposição salarial, de 9%.
Semana Nacional
de Conciliação. O mutirão anual, que visa desafogar o número de
processos de conciliação na Justiça - começa nesta quarta, 7, e segue
até o dia 14. Os magistrados federais e do Trabalho, por conta da
paralisação nacional, não participarão desta edição do evento.
Segundo
Santana, esta negativa é uma resposta interna, dentro do Poder
Judiciário, para mostrar que os juízes estão descontentes com o impasse
salarial. "O evento está confirmado e já tomamos medidas para que o
desfalque no número de juízes federais e do trabalho não atrapalhe o
atendimento ao público", afirma o conselheiro do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) e coordenador do movimento gestor pela conciliação, José
Roberto Neves Amorim.
A participação
dos magistrados acontece de forma voluntária, exceto para aqueles do
núcleo dos Centros de Conciliação, de acordo com o CNJ. Cada tribunal
disponibiliza, explica Amorim, um número médio de juízes para o evento. O
número deste ano não foi estimado pelo coordenador do movimento.
A ausência dos
juízes, porém, deve interferir no número de audiências - já marcadas
previamente - e, como consequência, o número de processos conciliados.
"Caso o processo não tenha solução definida durante o mutirão, o
documento continua na Justiça sem alterações, como estava antes",
esclarece o coordenador do movimento. Durante a última edição, a Semana
da Conciliação selou acordo de 165 mil processos, afirma Amorim.
O mutirão tem
início previsto para as 11h desta quarta e a abertura nacional será
realizada na próxima manhã, também às11h, no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, com a presença do presidente do CNJ, o ministro Carlos
Ayres Britto, que também preside atualmente o STF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário