MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pessoas que odeiam viajar enfrentam incompreensão de amigos e parentes


Pesquisa aponta que 12,9% dos brasileiros não viajam porque não gostam.
Apego à rotina, medo de avião e preguiça de viagem motivam desinteresse.

Flávia Mantovani Do G1, em São Paulo

A fisioterapeuta Andrezza só viaja porque o namorado gosta. (Foto: Arquivo Pessoal)A fisioterapeuta Andrezza só viaja porque o
namorado gosta. (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando alguém pergunta se Andrezza Rodrigues vai viajar, ela responde: “Você está me desejando mal?”. Apegada à sua rotina, a fisioterapeuta de 33 anos faz de tudo para não ter que deixar Belo Horizonte, a cidade onde mora.
Se ela precisa sair de lá, fica tensa, esperando o dia da volta. Enquanto isso, gosta de passar o tempo dentro do hotel, para surpresa dos amigos e familiares. “As pessoas me perguntam: ‘Como assim, vai dormir em dólar’?˜, conta, rindo. ˜Quando a viagem acaba, é uma maravilha. Adoro voltar!.”
Não tenho interesse em conhecer o mundo. Não tenho loucura para ir à Torre Eiffel, à Torre de Pisa, nem gosto tanto das obras de arte dos museus"
Andrezza Rodrigues, fisioterapeuta
O que mais a incomoda nas viagens é ter que sair da rotina. “Sou apaixonada pelo meu quarto, detesto dormir fora de casa. Gosto de ter tudo certinho e organizado.”
As atrações turísticas e culturais espalhadas pelo planeta não fazem Andrezza mudar de ideia. “Não tenho interesse em conhecer o mundo. Não tenho loucura para ir à Torre Eiffel, à Torre de Pisa, nem gosto tanto das obras de arte dos museus”, conta.
Ela só passa por cima desse desinteresse quando precisa agradar ao namorado – que adora viagens. “Para conviver com alguém, a gente tem que abrir mão das coisas. Estou aqui, mentalizando, pois teremos que pensar na lua-de-mel”, diz.
Apesar de não ser maioria, Andrezza não está sozinha. Por preguiça de sair da rotina, falta de curiosidade por conhecer outros lugares ou medo de avião e de estrada, muita gente prefere ficar em casa mesmo quando teria possibilidade de viajar.
Segundo o Estudo da Demanda Turística Doméstica no Brasil, realizado pelo Ministério do Turismo com 39 mil famílias e divulgado em outubro, 12,9% dos brasileiros não viajam principalmente porque não gostam ou não têm esse hábito.
Esse foi o terceiro motivo mais citado pelos entrevistados como a principal razão para não viajar, atrás de “não dispor de dinheiro” e “não ter tempo”. Em seguida vinham “problemas de saúde”, “não ser prioridade no consumo” e “não ter companhia”.
O resultado foi semelhante em todas as classes sociais: “não gostar de viajar” foi citado como principal razão por 12,9% das pessoas que ganham até 4 salários mínimos, 11,5% das que recebem mais de 15 salários mínimos e 13,1% no grupo intermediário.
Choque
Quem não gosta de viajar costuma lidar com a reação de surpresa de amigos e familiares, quase todos adeptos aos passeios pelo Brasil e pelo mundo. “Meus filhos viajam sempre para a Europa e ficam horrorizados de eu não ir junto”, conta a artista plástica Maria do Carmo Guedes, 63 anos. “E eu fico horrorizada de ver o quanto ele gostam. Tenho amigas de escola que conhecem o mundo todo. Eu brinco que elas têm rodinhas nos pés. Eu não sou assim.”
Ela também já recusou vários convites do marido e de amigos para sair do país. Chegou a dizer não à chance de passar um mês na Europa com passagem e hospedagem pagas, acompanhando o marido a trabalho.
Eu conheço o mundo todo pela TV e pela internet. Gostaria de ver a Capela Sistina, por exemplo, mas não é uma coisa que, se eu morrer sem ver, vou morrer triste"
Maria do Carmo Guedes, artista plástica
Maria do Carmo diz que não se sente confortável em aviões nem dentro de um carro, e tem pavor de pensar em viagens longas. Ela gosta mesmo é de ficar “no ninho”: “Me sinto feliz em casa, fazendo as coisas que gosto. Pouca gente entende”.
A vontade de conhecer outros lugares, afirma ela, é saciada de outras maneiras. “Conheço o mundo todo pela TV e pela internet. Gostaria de ver a Capela Sistina, por exemplo, mas não é uma coisa que, se eu morrer sem ver, vou morrer triste”, afirma.
Tensão pré-viagemA servidora pública Raquel Olsen, 42 anos, até consegue aproveitar a viagem depois que chega ao local. O problema, para ela, é lidar com a fase de preparação e deslocamento. “Entro em uma espécie de tensão pré-viagem. Odeio todos os meios de transporte, detesto fazer a mala. No dia do embarque, então, fico enlouquecida. Mas quando chego no lugar, relaxo”, descreve.
Raquel conta que é assim desde pequena, talvez pela convivência com os pais, que não tinham o hábito de viajar. As amigas se surpreendiam com essa característica. “Elas ficavam chocadas”, lembra.
Agora, ela está começando a se sentir mais à vontade para viajar por causa da convivência com o marido, um dinamarquês que adora panejar o roteiro das férias. “Ele olha tudo e eu só vou. Estou me surpreendendo com o tanto que estou viajando - e gostando”, conta Raquel.
Juçara  viajar (Foto: Arquivo Pessoal)Juçara Costta demora a se adaptar quando precisa
viajar (Foto: Arquivo Pessoal)
Já para Juçara Costta, de 60 anos, o problema não termina quando ela chega ao destino. “Demoro a me reorganizar fisicamente, a me adaptar a um ritmo e a uma alimentação diferentes. É uma dificuldade”, conta a atriz e artista plástica.
Por isso, ela só viaja quando tem uma motivação muito forte, como um convite de trabalho. ˜Se for para ir para Portugal apresentar um espetáculo com o grupo, eu vou bem. Tenho preguiça é de fazer turismo, ficar visitando lugares de forma direcionada. Eu até quero ver as coisas, mas não quero fazer viagem só para isso”, explica.
Juçara diz que admira quem viaja sozinho, mas não faria a mesma coisa. “Tenho uma irmã que vive de mala na mão. Uma vez ela pegou um navio e foi sozinha para a Grécia. Isso é muito louco para a minha cabeça.”

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