MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 16 de dezembro de 2012

Crianças de escolas municipais conhecem propriedades rurais em SC


Viva Ciranda integra escolas municipais e 13 propriedades rurais da região.
Crianças usam aprendizado das aulas em atividades do dia-a-dia no campo.

Do Globo Rural
Criança que mora na cidade, muitas vezes, nunca viu de perto um animal que não seja cachorro ou gato. Nem sabe de onde vêm os alimentos. Por outro lado, vários produtores rurais gostariam de abrir suas porteiras para quem não conhece o dia a dia do campo. A simplicidade pode ser surpreendente.
Fazendeiro de primeira viagem leva alguns sustos. Visitante que estreia na lida rural suja o tênis e o esmalte. As surpresas pegam desde os pequenos até os adolescentes. A maioria nunca foi a um sítio antes.
São todos moradores da cidade de Joinville, a 180 quilômetros da capital Florianópolis, em Santa Catarina. Eles fazem parte do projeto Viva Ciranda, que integra escolas municipais e 13 propriedades rurais da região, mas o conhecimento do que vão ver começa na sala de aula.
A turma de primeiro ano está em fase de alfabetização. Eles têm seis e sete anos e estão aprendendo um pouco sobre a vida das abelhas porque a visita a campo deles será num apiário.
As crianças são recebidas pela dona do apiário, a dona Ilze, que explica como é um sítio. Antes de conhecer as colmeias, eles passam pelo pasto e chegam até o rio que corta o sítio, o rio da Prata. Ilze mostra o pólen e a cera que é usada para construir a colmeia. Ela distribui mel fresquinho. É diversão pura, mas eles chegam cheios de perguntas.
Ilze organiza grupos, e estabelece metas para cada um. As crianças saem como se estivessem numa gincana. Correm de um lado para outro atrás das abelhas. Ilze separou colmeias só das inofensivas para mostrar às crianças, como a Bugia, que tem esse nome por causa da cor parecida com a do macaco Bugio. A Jataí, que produz um dos méis mais caros do mercado e a Mandaçaia, encontrada no litoral de Norte a Sul do Brasil.
Os passeios também são para crianças um pouco maiores, como as de oito e nove anos. Elas têm a oportunidade de conhecer uma produção orgânica num rancho construído especialmente para os encontros.
Receber os alunos é uma forma de aumentar a renda. O produtor recebe R$ 5 por cada criança que visita o sítio. Alguns, como a família Schroeder, ainda oferecem um café da manhã com comidinhas feitas na propriedade: suco de fruta da época, bolo e sanduíche com alface, tomate e presunto. As crianças também aprendem o que é a comida orgânica.
A propriedade é do Acácio e Salônia Schroeder. Ele produzem hortaliças para a merenda escolar do município e decidiram abrir a porteira ao turismo rural pedagógico há dois anos e meio.
“Cada criança paga R$ 5 e tem mais o café da manhã, o lanche que a gente faz, são R$ 7 e se for fazer o almoço está R$ 16. Chegou a aumentar a renda em até R$ 2 mil por mês. Deu pra fazer várias melhorias na propriedade. "A gente ampliou o estacionamento. Estamos fazendo cerca, tem que fazer ainda portão. Os banheiros foram rebocados. Na parte dos animais, os coelhos estão numa caixinha padrão, como tem que ser”, fala Acácio.
Eles ainda fazem algumas vendas inesperadas. “Teve ocasião que as crianças queriam comprar produto e eu não sabia mais o que vender pra eles. Aí eu tinha umas caixas de ovo, mas dinheiro para levar uma dúzia eles não tinham. Aí peguei cortei a caixa no meio e vendi dois ovos para cada um e saíram contentes porque eles chegam com o dinheiro na mão já. Saíram daqui maravilhados, levaram para os pais, para os avós”, conta Acácio.
Maravilhados é o adjetivo certo para definir o estado da meninada diante de tanta simplicidade. Quando dona Salônia busca o cabritinho a reação é uma só: alegria. Simplesmente brincar ou compartilhar coisa séria, fácil de aplicar na lavoura e que pode significar um avanço na agricultura.
A coordenadora do Viva Ciranda, Anelise Rosa, conta que em três anos de projeto, além dos benefícios para o produtor e para os alunos, ela percebe que o professor também ganha com a experiência. “É uma de o professor resgatar um pouquinho daquele encantamento que ele tinha pela profissão, de ele ver que realmente o papel que ele desenvolve junto à criança é um papel importante e que a longo prazo vem a gerar uma melhor qualidade de vida para todos, para o agricultor, para a escola, para todos”.
Na volta à escola em Joinville, dentro da sala de aula de matemática da professora Sueli Terezinha, a turma do 9º ano será a próxima a visitar um sítio pelo projeto.
Eles estão aprendendo sobre o retângulo de ouro, um item dos estudos de geometria que costuma deixar muito aluno de cabelo em pé. Mas qual a utilidade disso para esses alunos? A professora Sueli quer que eles construam um canteiro de flores em forma de mandala baseado no retângulo de ouro.
A aula de matemática onde os alunos aprenderam a fazer os cálculos dos canteiros tem a prática agora numa propriedade especializada em produção de flores. Eles vão tentar reproduzir a mandala num dos canteiros e para isso estão improvisando os instrumentos como o compasso, barbante e pedaços de madeira para fazer as estacas. Eles vão demarcando o chão.
A matemática vai se unindo aos conhecimentos de Dario Bergemann, há 22 anos como produtor de flores e há dois no Viva Ciranda. Ele explica como preparar a terra para receber as mudas de hemerocallis. “Primeiro, dez quilos de matéria orgânica por metro quadrado, numa camada de dez centímetros. A casca do arroz que é queimada, que a gente usa como matéria orgânica para incorporar”.
Depois cinco quilos de adubo orgânico, no caso aqui, cama de frango. As crianças também aprendem sobre a composição do adubo.
O terceiro passo é corrigir o PH do solo com 150 gramas de calcário e depois, 150 gramas de adubo químico. As crianças usam luvas. Os meninos usam toda sua força de adolescentes para misturar bem com o solo e as meninas preparam as mudinhas das flores. Sempre com a orientação do produtor de flores.
Aos poucos, a mandala vai sendo recheada de mudinhas. Agora é dar tempo à natureza. “Essa aplicabilidade foi muito mais um aprendizado meu com eles, eu acho que eu aprendi muito mais do que eu ensinei. Foi uma troca fascinante”, fala a professora.
“Construir um jardim, cuidar de uma planta não é nada impossível. É algo muito fácil e que a gente pode fazer no nosso dia-a-dia e com certeza a gente vai ter uma vida melhor tendo uma planta dentro de casa ou uma árvore no jardim”, completa Bergemann.
Pode ser criança, pode ser moça. O povo da cidade vai sempre se encantar com o campo e a gente da roça vai sempre querer dividir suas alegrias com quem quer que seja e no reconhecimento amoroso das diferenças, cria-se uma trilha para o crescimento.
O Viva Ciranda não custa caro para a prefeitura que promove o projeto. A visita de cada criança é paga pelos pais e os gastos adicionais são verba do Ministério do Turismo. O que a prefeitura faz é capacitar os produtores interessados e cadastrar as escolas.

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