MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 9 de dezembro de 2012

Falta de ração provoca morte de milhares de frangos no Paraná


Cenário de crise transformou granjas do Paraná em cemitérios de frangos.
Seca em países produtores do grãos fez custo da ração subir mais de 40%.

Do Globo Rural

A produção de carne de frango passa por um momento muito difícil. Há empresas fechando, criadores que estão sem receber e, em alguns casos, aves morrendo de fome. Esse cenário de crise transformou muitas granjas do Paraná em cemitérios de frangos.
Os frangos morrendo de fome e criadores em situação de desespero. Chegou ao limite o momento em que vivem os criadores de frango do município de Mandiritura, no Paraná. A crise, mais intensa na região, afetou todo o setor. Um dos motivos foi a seca que atingiu vários países produtores de grãos, incluindo os Estados Unidos, e que fez subir o custo da ração em mais de 40%.
De acordo com o secretário de Agricultura de Mandirituba, Marcos Dalla Costa, as próprias empresas têm dificuldade por uma questão de gestão da atividade. “Ás vezes, por má administração acabaram se perdendo, não conseguindo honrar seus compromissos. Daí, foi a gota d’água para a crise se tornar ainda mais forte”, diz.
A história da avicultura em Mandirituba começou há quase 20 anos, quando a prefeitura ofereceu uma série de incentivos fiscais para os abatedouros se instalassem na região. Também foi oferecida a terraplanagem para a construção dos aviários e assistência para os licenciamentos ambientais. O auge da produção ocorreu em 2003, quando o município computava 245 galpões em atividade e três empresas integradoras. De crise em crise, muitos aviários foram sendo fechados.
“Neste ano, foram fechados em torno de cem aviários. Hoje, restam apenas 69 aviários em atividade. Até o ano de 2011, a atividade respondia por 50% da economia na área rural. Em 2012, como foi um ano de fechamento de muitos aviários, esse índice com certeza vai cair de maneira bastante expressiva”, avalia Dalla Costa.
A crise na produção de aves no município de Mandirituba se agravou no segundo semestre, quando a Diplomata, uma das empresas integradoras da região, parou as atividades de abate. Considerada uma empresa de médio porte, a Diplomata tinha contrato com quase mil integrados e as dificuldades estão presentes no entorno de suas quatro unidades de abate: em Santa Catarina, no município de Xaxim, nos municípios paranaenses de Capanema, Londrina e em Mandirituba. Mesmo com o fechamento do frigorífico, a Diplomata continuou entregando pintinhos para as granjas, mas interrompeu o fornecimento de ração.
A fome é tanta que tem animal comendo animal. Na tentativa de salvar os frangos famintos, teve criador que abriu os barracões para que os animais se virassem na natureza. A criadora Marilza do Prado tomou outra atitude. “Vendi seis mil frangos, fiz oito R$ 8 mil e comprei trato para os frangos”, diz.
Pelo contrato, os frangos pertencem à empresa e não podem ser vendidos a outros compradores. “Se a empresa não tinha condições de manter o trato, de manter a ração, por que alojou?”, questiona Marilza.
Do outro lado do município, Jaime Mendes, criador de frango há nove anos, também presencia a agonia dos animais. Pouco a pouco, ele recolhe da criação os animais que não resistiram de tanta fome. Os frangos do galpão, que estão com 29 dias de vida, deveriam pesar algo em torno de 1,4 quilo, de acordo com a ficha de acompanhamento do lote, distribuída pela empresa integradora. Mas sem comer por tantos dias, o franguinho não pesa nem 25% do que deveria.
A criadora Joanna Carvalho Pires relatou à polícia a morte dos primeiros mil pintinhos que não haviam sobrevivido devido à falta de ração.
Por causa do mal cheiro, muitos criadores abriram valas para enterrar os frangos. Outros jogaram ao ar livre para os urubus, o que pode piorar a situação devido ao risco de contaminação. Por enquanto, Joana resolveu cobrir os animais com a própria cama de frango.
A equipe de reportagem procurou diversas vezes a empresa Diplomata para pedir explicações sobre os problemas na granja de Mandirituba. Como não houve resposta, foi procurada a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), em São Paulo, entidade que representa os abatedouros. O presidente Francisco Turra admitiu as dificuldades de muitas empresas do setor. “Nesse período de crise, algumas empresas simplesmente não tiveram acesso a crédito para comprar ração. Mas elas alojaram. Era o caso da Diplomata. É uma pena porque o integrado é um sofredor. Nunca mereceria um tipo de tratamento assim. É coisa que mais dói para o setor. Nós brigamos para que não aconteça, mas lamentavelmente são situações inevitáveis”, diz.
Das 33 empresas associadas à Ubabef, 20 passaram por dificuldades financeiras. Ainda assim a produção brasileira de frango deve ter uma redução de apenas 4% em 2012 e as exportações devem mantiver o mesmo ritmo. Dentre as empresas que conseguiram honrar seus compromissos uma localizada no município de Maringá, no Paraná. A empresa conseguiu driblar a crise e vislumbra um crescimento de 30% sobre o faturamento do ano passado.
“O segredo é antecipar os problemas. Quem acompanha o mercado está vendo no dia a dia que não está chovendo, que vai ter quebra de produtividade. Com isso, você tem que antecipar seus suas compras, suas decisões. Você não pode esperar acontecer para depois querer tomar ação. Nós consumimos uma média de 500 mil sacas de milho por mês. Então, nós chegamos a uma compra de dois milhões de sacas de milho antecipado e em torno de 800 mil sacas de soja é antecipado”, diz Ciliomar Tortola, diretror da GT Foods.
As decisões corretas na indústria encorajaram o integrado Gelson Coelho a investir pesado na construção de novos galpões de criação. A moderna estrutura tem telhados de alumínio, placa evaporativa de celulose, exaustores de alta potência e iluminação automática para dar mais conforto para os animais e alcançar mais lucro na atividade. “Eu estou trabalhando com homens sérios e tenho certeza que eles também confiam em mim. Então, é um casamento bom. É bom para mim e bom para eles”, diz.
Desta vez, o casamento para os criadores de Mandirituba não foi bem sucedido. A Diplomata entrou em recuperação judicial e os rumos da empresa ainda serão decididos em uma assembleia de credores e pode ser longo o caminho até que os problemas sejam resolvidos.
Um grupo de criadores pediu na Justiça o afastamento dos atuais administradores da Diplomata. No fim de outubro, a antiga direção do frigorífico já havia sido destituída sob a suspeita de transferência de bens a sócios e terceiros, o que pode prejudicar o pagamento das dívidas

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