Falta espaço na unidade até para acomodar os recém-nascidos.
Direção diz que os hospitais do Estado e Município estão desabastecidos.
Corredor funcionando como enfermaria em maternidade de Natal (Foto: Caroline Holder/G1)
Na véspera do dia do Natal, mulheres do Rio Grande do Norte
estão vivendo na pele o mesmo que Maria sentiu durante sua peregrinação
em busca de um lugar para dar a luz Jesus Cristo. Segundo a direção da
Maternidade Escola Januário Cicco, em Natal, as parturientes percorrem
várias unidades de saúde da cidade e não encontram um leito para que
possam realizar o trabalho de parto. Sem alternativa, superlotam a
maternidade que é mantida pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).Resultado: são alocadas em cadeiras, macas e camas em meio aos corredores. O G1 foi ao local na manhã desta segunda-feira (24). A unidade tem capacidade para 92 gestantes. Contudo, 38 mães, algumas já com seus bebês, se acomodam como podem nos corredores da maternidade.
Sala de pós-parto também funciona como
enfermaria (Foto: Caroline Holder/G1)
A Secretária de saúde de Natal, Joilca Bezerra, se defendeu dizendo que
a maternidade das Quintas teve um problema no encanamento e, por isso,
as gestantes tiveram que ser encaminhadas, mas o problema foi resolvido
ainda na última sexta-feira (21). A secretária também garantiu que a
Maternidade de Felipe Camarão está funcionando.enfermaria (Foto: Caroline Holder/G1)
"A única com impossibilidade de atendimento é a Maternidade Leide Morais, devido ao descredenciamentos de parte dos médicos, provocando um déficit nas escalas de trabalho", afirmou.
Contudo, a superlotação na Maternidade Escola Januário Cicco é evidente. Os corredores fazem a função de quartos; as cadeiras, de leitos. Quem já pariu há mais tempo precisa dar lugar a quem acabou de sair da sala de cirurgia.
“É a dança das cadeiras. Para fazer o acompanhamento das pacientes preciso fazer uma chamada oral para saber onde elas estão. Se estão internadas na cama, na cadeira... Tenho uma listinha aqui para distinguir que são as parturientes (em trabalho de parto) e quem são puérperas (mulher que teve bebê recentemente), já que estão todas no mesmo lugar e não há vagas na enfermaria”, explicou Ana Karina Dantas, enfermeira da unidade.
Mulher se recupera em corredor depois de
peregrinar em busca de maternidade
(Foto: Caroline Holder/G1)
"Saí de Canguaretama porque lá não tinha obstetra. Fui para São José de
Mipubu e lá não tinha pediatra. Aí vim pra cá. Fiquei pra cima e pra
baixo. Graças a Deus minha filha nasceu com saúde. O Rio Grande o Norte
não está fácil”, contou Gracenilda Marinho, dona de casa.peregrinar em busca de maternidade
(Foto: Caroline Holder/G1)
“Eu acabei de ter filho e estou passando mal. Não tenho uma cama para ficar. Estou internada nesta cadeira e minha filha, que acabou de nascer, já não tem lugar no mundo. Nem berço. Minha mãe, que está me acompanhando, é quem está com ela. Não tenho onde colocá-la”, lamentou Cinthia Vanessa Nelo, de 19 anos.
Mulher acabou de ter filho e não tem cama para se
recuperar (Foto: Caroline Holder/G1)
Cinthia Vanessa veio de São José do Campestre,
a 97 quilômetros de Natal. Segundo a mãe dela, o município não tem
médicos e por isso foi encaminhada para a capital. “Como só essa
maternidade está funcionando, estamos aqui. Mas, está muito difícil a
situação. Pelo menos tenho a alegria de estar com essa coisa linda no
meu colo. A bichinha não tem lugar no berçário”, disse Aparecida
Moreira.recuperar (Foto: Caroline Holder/G1)
Uma mãe que concordou em mostrar o rosto, mas não quis dizer o nome, não teve a sorte de poder enfrentar a situação com o filho nos braços. “Ele nasceu morto. Não sei se foi a demora. Não sei o que foi. Só sei que ele morreu e não está aqui comigo. Estou enfrentando tudo isso sozinha. É duro”, afirmou.
Mãe sofre a dor de ter perdido o filho
(Foto: Caroline Holder/G1)
Na lista de mulheres internadas, a diretora da unidade mostra que elas vêm de várias partes do estado como: Pau dos Ferros, Monte Alegre, Bento Fernandes, Pedro Velho, Nova Cruz, Parelhas, Lagoa Salgada, Riachuelo,
entre outros municípios. “Isso é porque as unidades do Estado que
deveriam atender o interior não estão funcionando. E os municípios
também estão desguarnecidos”, indicou Maria Daguia.(Foto: Caroline Holder/G1)
O G1 tentou contato com a assessoria de comunicação da Secretária Estadual de Saúde e também com o secretário Isaú Gerino, mas as ligações não foram atendidas.
“Queremos que as outras unidades, pelo menos, recebam as mães depois do parto. Se continuar assim, teremos que colocar uma corrente no portão para fechar a unidade”, finalizou a diretora da Januário Cicco.
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