Aos 28 anos, profissional de Cubatão, SP, resolveu procurar novos rumos.
Psicóloga acredita que 'fugir do problema' não resolve a situação.
Analista de RH revela ter sofrido bullying na antiga empresa (Foto: Anna Gabriela Ribeiro/G1)
Uma mulher de Cubatão
(SP) resolveu tomar uma medida radical e pedir demissão após ser alvo
constante de brincadeiras entre os colegas de trabalho. Anna Flávia
Gomes, de 28 anos, afirma ter sofrido diversas formas de bullying e, por
isso, optou por sair da empresa para tentar melhorar a auto-estima,
destruída pelos colegas.As cada vez mais constantes brincadeiras fizeram com que com que Anna Flávia começasse a se isolar cada vez mais dentro da empresa. "Eu me sentia desmotivada. Procurei outra empresa para trabalhar. Em determinado momento nem ia mais almoçar no restaurante. Era comum as pessoas fazerem piadas relacionadas ao quanto eu comia. Comecei a comer lanches e engordei cada vez mais, só para comer sozinha. Nas festas de final de ano era outro problema. Sempre alguém vinha e comentava o quanto eu tinha engordado de um ano pro outro. O meu lado social ficou bastante abalado por causa disso.
Anna Flávia se isolou dos colegas do trabalho
(Foto: Anna Gabriela Ribeiro/G1)
Antes de se demitir, Anna Flávia tentou reverter a situação e se
matriculou em uma academia de ginástica, mas também sentiu o preconceito
no local. “Cheguei a entrar na academia com a minha irmã que é mais
nova e mais obesa do que eu, mas no horário que a gente ia só tinha nós
duas acima do peso. E não tinha um tratamento como as outras pessoas. As
pessoas estão na academia para ganhar corpo. Às vezes a gente fica mais
ofegante, precisa de mais um incentivo, igual ao que o instrutor está
dando para outra pessoa. Só para eu e minha irmã ele não dava atenção
igual. Ao invés de me ofender, eu me culpei. Fiquei pensando que se eu
fosse magra o tratamento seria diferente", afirma Anna.(Foto: Anna Gabriela Ribeiro/G1)
Além das brincadeiras de mau gosto, a analista de RH lamenta pelos prejuízos profissionais. ”Eu procuro não sofrer. Na escola era pior, mas no serviço, se eu sofrer por isso não vou conseguir ir trabalhar. No serviço, por mais que você saiba que as pessoas vão comentar, ou vão rir, ou vão por apelido, você tem que ir, motivado ou não. Tem que levantar e ir trabalhar. Isso é o mais difícil. Pelo que eu estudei, se eu tivesse outro porte físico eu poderia estar melhor. Eu já fui em entrevistas que você percebe que está sendo analisado pela sua fisionomia. Você vai ter que representar a empresa na matriz e eles querem uma pessoa modelo”, finaliza.
Pedir demissão não resolve o problemaDe acordo com a psicóloga e pedagoga Flávia Henriques, o caso de Anna Flávia é clássico, típico em pessoas que sofrem por não conseguirem enfrentar as situações. Flávia explica que os colegas de trabalho devem ter percebido a fraqueza da vítima e, por isso, acabaram fazendo esse tipo de agressão. “Ninguém tem o direito de agredir outra pessoa, nem verbal, nem fisicamente. A agressão verbal é mais difícil de provar. O que a pessoa agredida pode fazer é denunciar a agressão, ou falando com o próprio agressor, ou, no caso de bullying no trabalho, passando o caso para o superior”, explica.
A psicóloga conta também que a pessoa agredida deve se impor e enfrentar a situação. “Assim como as crianças saem da escola e pessoas abandonam famílias, a vítima de bullying pode acreditar que abandonar o emprego resolva seu problema, mas não é assim. Sem enfrentar, ela sempre vai ser vítima”. Flávia lembra que o agressor também costuma ter problemas. “Os problemas dos agressores, às vezes, são mais sérios do que os apontados pelas vítimas”, finaliza.
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