MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Para economistas, 'tripé' da economia entra 2013 desacreditado


Para Sidnei Nehme, da NGO Corretora, câmbio não é mais flutuante.
Metas fiscal e de inflação também não mais ancoram expectativas.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília

O famoso tripé macroeconômico, formado pelo câmbio flutuante, pelas metas fiscais e de inflação, criado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e mantido pelo seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, entra o ano de 2013 desacreditado, segundo economistas ouvidos pelo G1.
De acordo com avaliação dos analistas de instituições financeiras, o câmbio não é mais flutuante no Brasil, e sim administrado, ao mesmo tempo em que as metas fiscais (objetivo de economia para pagar juros da dívida pública) e de inflação (pelo IPCA, que serve como referência para a fixação dos juros por parte do BC) não mais "ancoram" as expectativas do mercado. Ou seja, ninguém acredita mais que elas serão cumpridas.
"Há uma deterioração bastante grave da política macroeconômica. Foi justamente o tripé que permitiu ao Brasil o crescimento sustentado, a confiança dos investidores. A gente vê um regime que não nos parece sustentável no médio prazo. O governo não tem regra clara de atuação. Vai agindo mês a mês para corrigir desequilíbrios que são gerados. Isso atinge o investimento. Não é por acaso que, mesmo com juro baixo e câmbio apreciado [dólar alto], o investimento não responda. É difícil ampliar investimento em cenário de desconfiança", avaliou Thiago Curado, economista da Tendências Consultoria.
Câmbio flutuante?
As principais autoridades da área macroecômica (ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini) têm repetido, à exaustão, que o regime de câmbio no Brasil é flutuante. Teoricamente, a cotação da moeda norte-americana oscilaria, portanto, ao sabor da entrada e saída de dólares do país (oferta e demanda). Mas o ministro Mantega já admitiu que a flutuação cambial brasileira seria "suja", ou seja, com algum nível de intervenção por parte do governo.
Para o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, especialista no mercado cambial, porém, o câmbio está longe de ser flutuante. "O câmbio não flutua nada. Está totalmente administrado e, neste momento, passar por uma guinada", declarou ele, que vê conflito entre as declarações do ministro Mantega (de perseguir mais competitividade com dólar mais alto) e do presidente do BC, Alexandre Tombini – que mostrou preocupação com o impacto do dólar alto na inflação.
Um valor mais alto para o dólar gera melhores condições de competitividade para as empresas brasileiras, uma vez que suas exportações ficam mais baratas. As compras do exterior, por sua vez, ficam mais caras. Um aumento na cotação do dólar, porém, também têm outros efeitos, como gerar mais pressões inflacionárias. Após deixar o câmbio por volta de R$ 1,80 a R$ 1,90 no primeiro semestre, o governo deixou a moeda norte-americana passar de R$ 2 nos últimos meses. Mais recentemente, impediu que o dólar ficasse acima de R$ 2,10.
Para controlar o preço do dólar, o governo tem uma série de instrumentos. Além das compras e vendas de dólares no mercado à vista, o BC também pode operar no mercado futuro (por meio das operações de "swap" cambial tradicionais e reversas). O Ministério da Fazenda, por sua vez, pode utilizar as alíquotas do IOF para tentar controlar o ingresso de moedas no país – assim como foi feito no último dia 5.
Para Nehme, o dólar pode chegar a R$ 2,30 no fim de 2013 porque os fluxos de entrada de dólares no país, segundo ele, tendem a ser menos intensos no próximo ano. "Além disso, a economia internacional vai continuar fraca e a nossa indústria está sem potencial para exportar", declarou. Para ele, o BC vai deixar o dólar subir naturalmente se a inflação for "pendente" ao centro da meta de 4,5% - medida pelo IPCA.
Meta fiscal
Depois de insistir o ano inteiro que o governo estaria "mirando" na meta cheia de superávit primário (economia feita para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda), o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, admitiu em novembro deste ano que a ela não seria atingida. Segundo ele, o governo irá utilizar a prerrogativa, já aprovada pelo Congresso Nacional, de abater da meta cheia parte (cerca de R$ 26 bilhões) dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
De acordo com o economista Fernando Montero, da corretora Convenção, que se concentra na análise das contas públicas, o ano de 2013 nem começou e, mesmo assim, ninguém acredita que a meta de 3,1% do PIB, cerca de R$ 155 bilhões, que consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias, será atingida sem abatimentos do PAC. "Ninguém mais acredita. Nem no mercado e nem fora dele. Em Brasília, também não. O BC também não, embora eles continuem colocando o primário cheio para o ano que vem", declarou ele, que já trabalhou na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. O orçamento de 2013 admite a possibilidade de abater R$ 25 bilhões, em gastos do PAC, em 2013, mas ainda não foi anunciada uma decisão formal de utilizar este procedimento.
Segundo Montero, é muito difícil sair de uma meta de primário abatida, como acontecerá neste ano, e, com muita receita extraordinária, e "arrasto tributário" ruim (arrecadação com crescimento menor), e voltar para uma "meta cheia" no ano seguinte, neste caso em 2013. "Acho que a gente consegue fazer a meta no limite do abatimento. Mesmo para isso, vai ser uma meta em torno de 2,3%, ou 2,4% do PIB, você ainda precisará de alguns recursos extraordinários. Entre os quais, pode ser um pedaço do fundo soberano", afirmou ele.
Ao contrário de outros economistas, Montero acredita que foi importante o governo manter o discurso de que estaria mirando na "meta cheia" em 2012, abandonando-o somente em novembro. "Este ano faltou clareza. Por outro lado, você tem de entender um pouco o governo. Era importante manter a ideia de uma meta ao longo de um ano fiscal. Não tanto para sinalizar ao mercado e ao mundo, e sim para ter uma previsão orçamentária e segurar um monte de pressão por gastos, como do funcionalismo por aumentos salariais", declarou Montero.
Regime de metas de inflação
Após dois anos em que a inflação ficou longe da meta central de 4,5% (em 2011, a inflação ficou em 6,5% e, neste ano, já supera 5%, devendo ficar, segundo economistas, por volta de 5,5%), mas ainda dentro do intervalo de tolerância de dois pontos percentuais (podendo chegar a até 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida), o último pé do "tripé" macreconômico também não conta mais com a confiança dos economistas.
De acordo com Thiago Curado, da Tendências Consultoria, o centro de 4,5% da meta de inflação (que vale para 2012, 2013 e 2014) deixou de ser o balizador (número no qual se está mirando) das decisões do Banco Central sobre a taxa básica de juros. Teoricamente, pelo sistema de metas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC teria por função mirar na meta central, e não no intervalo de tolerância existente. Quando sobe os juros, atua para contrair a demanda por produtos e serviços - e seu respectivo impacto na inflação - e vice-versa.
"O centro da meta, os 4,5%, deixou de ser o balizador das decisões de política monetária [sobre a taxa básica de juros da economia, fixada pelo BC]. É o patamar que o BC efetivamente não persegue. A única coisa que permanece é uma sensibilidade em relação ao teto da banda [de 6,5%]. O BC e governo tentam evitar que a inflação fique acima dos 6,5% por todas as repercussões negativas", declarou Curado ao G1.
Ele lembrou que os analistas do mercado financeiro já passaram a projetar, para os próximos anos, um IPCA, que serve de referência para o sistema de metas de inflação,maior que 5% - acima, portanto, da meta central de 4,5%, mas dentro da banda de dois pontos para cima e para baixo. Para 2012, 2013, 2014 e 2014, respectivamente, o mercado prevê um IPCA de 5,58%, de 5,40%, de 5,50% e de 5%.
"Nas expectativas de mercado, até 2015, há um descolamento das expectativas em relação ao centro da meta. É um fenômeno novo, visto que as expectativas para anos mais afastados antes convergiam para o centro [da meta]. Esse patamar [meta de 4,5%] deixou de ser referência. Há uma intenção [do governo] de que a inflação não acelere, mas não convergindo para a meta", acrescentou o economista da Tendências Consultoria.

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