MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 13 de janeiro de 2013

Dominada por foliões, Olinda também é lar de religiosos, mesmo no carnaval


Das janelas, frades e freiras veem os blocos e bandas de frevo passarem.
'Salvo os exageros, é algo que tem a benção de Deus', diz frei franciscano.

Do G1 PE

Convento da Conceição, em Olinda, fica no Alto da Sé, bem próximo a folia. Os fundos dão para a Rua do Amparo, uma das mais movimentadas. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Convento da Conceição, em Olinda, fica no Alto da Sé, bem próximo a folia. Os fundos dão para a Rua do Amparo, uma das mais movimentadas. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
As ladeiras de Olinda são dominadas por milhares de foliões a cada carnaval. A folia de Momo transforma o Sítio Histórico, com muitos moradores alugando suas casas para quem quer aproveitar a festa mais de perto. Aqueles que não moram na cidade chegam de toda maneira, para curtir a folia, de dia e à noite. No entanto, Olinda também é conhecida pelas muitas igrejas, conventos e mosteiros, que são lares de freiras, freis e padres, em plena Cidade Alta. Para onde vão esses religiosos durante o período da folia?
Mesmo com as bandas de frevo tocando durante todo o dia e sendo quase impossível transitar, muitas congregações permanecem nos conventos e mosteiros. As irmãs Dorotéias do Convento da Conceição, localizado no Alto da Sé, estão entre as que ficam mesmo durante a folia. “É um dia normal para nós, o carnaval muda apenas porque dificulta a locomoção da gente. Precisamos ter o selo no carro para poder circular”, explica a irmã Socorro Castro Lima, coordenadora da casa.
Irmãs escutam a folia de longe no Convento da Conceição. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Irmãs escutam a folia de longe no Convento da
Conceição. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
O Convento da Conceição é um local para a realização de encontros religiosos, inclusive durante o carnaval, quando algumas famílias se hospedam ali. O espaço tem regras quanto a horários, mas ninguém é proibido de ir e vir. “Aqui escutamos a música, o som à noite diminui, então não incomoda muito. É um local onde as pessoas podem escutar a festa, sem precisar estar lá”, avalia a irmã. Os fundos do Convento dão para a Rua do Amparo, uma das mais movimentadas durante os dias de festa.
Também morando no Convento, a irmã Francisca se lembra de como era a folia há 30 anos. “Era até mais barulho, na minha opinião. Era a madrugada inteira, só cessava um pouco na segunda [de Carnaval]. Hoje, acho que essas tecnologias ajudam e tem também a lei do silêncio”, acredita irmã Francisca.
Atualmente, o Convento da Conceição é morada de algumas freiras da terceira idade. Localizado no Alto da Sé, ele fica em um pátio um pouco mais recuado. “Aqui era uma casa de formação, noviças de vários locais vinham para cá. Foi aqui que lançamos as raízes da espiritualidade Dorotéia. Com o tempo, fomos nos adequando às necessidades, mas todas temos um carinho muito grande por esse convento, que hoje é mais uma casa de acolhida”, explica a irmã Socorro.
O Convento de São Francisco, localizado na Ladeira de São Francisco, fica bem próximo ao Alto da Sé, um dos principais pontos de passagem de blocos e troças. Mais do que um local turístico, com claustro e sacristias famosos pelos painéis de azulejos portugueses, esse é o lar dos freis franciscanos em Olinda, mesmo durante a folia.
A única coisa que muda durante o carnaval, no convento, é que as visitas ao museu e os atendimentos à população são interrompidos - tapumes de madeira são colocados nas portas para evitar danos aos imóveis, visto que o convento e a igreja fazem parte do partimônio histórico de Olinda. “O claustro do franciscano deveria ser o mundo. São Francisco dizia que devemos ser próximos das pessoas”, explica o frei Francisco Rogério.
Frei Francisco Rogério, (Foto: Katherine Coutinho / G1)Frei Francisco Rogério explica que pouca coisa muda
durante a folia. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
A localização do convento, com os fundos para uma região de menos barulho, ajuda a ter um pouco de silêncio, embora seja possível ouvir as bandas de frevo que passam durante o dia. “Salvo exageros, é uma festa bonita, é algo que tem a benção de Deus. Durante o carnaval, chegamos à janela, vemos as pessoas passarem. Não vamos à festa porque temos um outro estilo de vida”, afirma o frei, que ressalta poder ser o carnaval uma festa de família também. “Nós temos uma preocupação com o ser humano”, destaca frei Francisco.
Apesar da visão humanista, o frei lembra que isso não significa aprovar os exageros ou as 'ações erradas' praticadas no período. “Nós rezamos inclusive pelas pessoas que estão brincando”, afirma o franciscano, lembrando que a mensagem de São Francisco era de um Deus bom; e são as pessoas que têm a oportunidade de transformar algo negativo em positivo. “Se pudéssemos orientar, diríamos para as pessoas serem mais humanas, terem laços mais fortes”, diz frei Francisco, ressaltando que a missão do franciscano não é a de condenar ninguém.
Convento de São Francisco, lar dos freis franciscanos em Olinda, fica na rota da folia. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Convento de São Francisco, lar dos freis franciscanos em Olinda, fica na rota da folia. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
A rotina permanece quase a mesma também na Academia Santa Gertrudes, no Alto da Sé. Tapumes são colocados na entrada do prédio onde moram as freiras, assim como na igreja na qual as irmãs assistem a missas. O atendimento ao público fica suspenso, mas a rotina de orações e afazeres no convento é a mesma.

Um pouco mais afastado do centro da folia, o Mosteiro de Nossa Senhora do Monte torna-se um local propício para retiros. "Nós permanecemos porque aqui não incomoda tanto, escutamos apenas ao longe. Nós temos uma pequena hospedaria que nesse período fica cheia de pessoas que vêm para descansar e também para retiro espiritual", explica a irmã Maria Regina.
Mosteiro Nossa Senhora do Monte, Olinda. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Mosteiro Nossa Senhora do Monte, Olinda, tem a rotina
mantida. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
A rotina das cerca de 20 irmãs que residem no local não muda muito durante os dias de folia, com ofícios, missas e afazeres mantidos. "Os monges que celebram para nós normalmente, nesse período não podem vir até aqui [o Mosteiro]. Então combinamos com outro padre para vir rezar a missa. Quando ele é de mais longe, a missa acaba sendo um pouco mais tarde. No ano passado, o padre inclusive ficou aqui em nossa hospedaria", explica a irmã. A missa é celebrada, normalmente, todos os dias às 6h30, com exceção do domingo, que é às 7h30, todas abertas à comunidade.
Em busca do silêncio
O Mosteiro de São Bento, em Olinda, fica bem na rota dos principais blocos da cidade durante o carnaval. Próximo da Prefeitura, o pátio em frente ao mosteiro é ponto de encontro de foliões e saída de alguns blocos. Antigamente, quando o carnaval era mais calmo, parte dos religiosos permanecia, mesmo nos dias de folia.

Com o crescimento da festa, a circulação dos religiosos durante os dias de carnaval tornou-se praticamente impossível - as ladeiras ficam tomadas por pessoas durante todo o dia e, por vezes, até mesmo à noite. Com isso, os monges do Mosteiro de São Bento seguem para a casa de parentes ou propriedades da ordem mais afastadas do tumulto.
Mosteiro de São Bento, de Olinda, fica na rota dos blocos que dominam ladeiras no carnaval. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Mosteiro de São Bento, de Olinda, fica na rota dos blocos que dominam ladeiras no carnaval. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

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