MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Em Davos, Rogoff diz que Brasil precisa ‘reenergizar’ o esforço por reformas


Um dos economistas mais prestigiados do mundo também destacou que o homem comum ainda sofre com os efeitos da crise


Fernando Dantas, de O Estado de S. Paulo


DAVOS - Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, e um dos mais prestigiados economistas do mundo, avaliou, em conversa com o Estado, que o Fórum de Davos começou num clima bem mais otimista do que em qualquer ano desde a crise global. Isso, porém, para ele, reflete apenas a alta das bolsas, que deixa feliz os típicos frequentadores de Davos, grandes homens de negócios e investidores.
Rogoff observa que o cidadão comum ainda enfrenta altas taxas de desemprego no mundo desenvolvido, e prevê que a economia global vai continuar a desapontar. Sobre o baixo crescimento do Brasil, ele recomenda que o país "reenergize" seu esforço de reformas. A seguir, a entrevista:
Qual o clima geral do mundo global dos negócios que o senhor detectou nesse início do Fórum Econômico?
Não há nenhuma dúvida de que este é o Davos mais otimista em muito tempo, na verdade desde a crise financeira global. Há, é verdade, muita gente preocupada sobre a falta de crescimento na Europa, sobre os Estados Unidos agirem de uma forma mais racional, sobre o crescimento da China, mas, no fundo, os mercados estão em alta. E essas pessoas que frequentam Davos ficam muito felizes com isso, mais do que ninguém. As bolsas da Europa, por exemplo, estão numa das maiores altas recentes.
Como isso se reflete na economia real?
O tema deste ano aqui em Davos é dinamismo resiliente. Eu acho que a resiliência é real, mas não existe dinamismo. O desemprego está muito alto, mas essas pessoas que vêm a Davos não passam por este tipo de experiência. Nos Estados Unidos, a parcela dos trabalhadores no PIB está numa baixa histórica, eu nunca imaginei que pudesse ir tão baixo quando eu estava estudando economia, abaixo de 60% do PIB. Era inimaginável, mas isso ajuda a elevar o preço das ações.
E quais as consequências disso?
Você percebe uma certa complacência. Vi pessoas dizendo que os bancos não precisam de mais nenhuma regulação adicional, que a União Europeia está bem, que tudo está certo. Este parece ser o tom inicial, mas vamos ver como o Fórum se desenvolve nos próximos dias.
Quais são os maiores riscos que podem estragar a festa dos investidores?
O principal é que eu acho que o crescimento vai continuar a decepcionar. O FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) rebaixaram seus prognósticos de crescimento global por seis trimestres consecutivos. Isso vai acabar transbordando na forma de incerteza política, tensões sociais. Você não consegue abafar o baixo crescimento e o desemprego por muito tempo. Em algum momento, uma transição para uma situação diferente tem de acontecer. Você veja que, nos Estados Unidos, o presidente Obama de certa forma está colocando o crescimento em segundo plano, e focalizando de forma mais forte na distribuição de renda como política central.
De qualquer forma, não é um paradoxo a economia real continuar combalida e os mercados estarem em alta?
Não, não há nenhum paradoxo. Muitos estudos acadêmicos mostram que o preço das ações, que o preço de ativos de risco é extraordinariamente sensível a preocupações com riscos catastróficos, mesmo com pequenas probabilidades de risco catastrófico. E é isso que explica o que aconteceu. O principal é que o Mario Draghi (presidente do Banco Central Europeu) reduziu o risco de curto prazo de uma catástrofe na Europa. Além disso, a China desacelerou de forma estável, os Estados Unidos conseguiram adiar por três meses a próxima crise. Os preços das ações são muito sensíveis a isso, e não é porque estejam em alta que para o homem comum as coisas estão indo melhor - provavelmente elas não estão.
E os mercados emergentes, que tem decepcionado em termos de crescimento?
Sim, há um contínuo desapontamento. É verdade que a China está um pouco melhor, e isso pode se refletir no Brasil. Mas a Índia está bastante pior. A Índia reenergizou seu esforço de reformas, mas não está claro o que pode acontecer num país tão grande e difícil de administrar. Já no Brasil não está nada claro que o esforço de reformas esteja sendo reenergizado.
Como o senhor vê o baixo crescimento no Brasil?
É compreensível, mas decepcionante. O Brasil deveria crescer mais. Paralelamente ao que aconteceu na Índia, o Brasil fez reformas há muito tempo, se beneficiou delas por muitos e muitos anos, mas esses benefícios estão acabando, e o País precisa achar um jeito de reenergizá-los. Eu espero estar na Copa do Mundo em 2014 e ver uma economia reenergizada quando eu chegar.
O senhor acha que o intervencionismo excessivo do governo brasileiro poderia ser uma das causas do baixo crescimento recente?
É uma de muitas. É preciso levar em conta que o Brasil ainda é, assim como a Índia, uma das economias mais fechadas do mundo. Se você tomar o Mercosul, é fenomenalmente fechado. O Brasil é muito grande e diversificado, mas isso não explica por que o País é tão fechado. Há as leis trabalhistas, o sistema educacional melhorou no governo de (Fernando Henrique) Cardoso, mas talvez tenha tido uma reviravolta para pior nos últimos dez anos. Há muitos problemas de longo prazo. O Brasil certamente teve uma boa década. De maneira geral, foi um bom período, mas a preocupação é que não haja energia para empurrar adiante. E é algo que tem de começar de cima. Mas acho também que a desaceleração da China atrapalhou o Brasil, e, agora, com a economia chinesa reacelerando um pouco, isso deve ajudar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário