MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 20 de janeiro de 2013

MAIS UM ERRO MÉDICO

Médico pode ter se precipitado sobre morte cerebral, diz cirurgião plástico

Vicente Ciarrochi, que fez a lipoaspiração, acredita ainda em mal entendido.
Em coma, manicure sofreu complicações durante operação, há 12 dias.

Fabio Rodrigues e Suzana Amyuni Do G1 São Carlos e Araraquara

A manicure Nayara Patracão teve parada cardíaca durante lipoaspiração em Descalvado (Foto: Arquivo Pessoal)Nayara Patracão teve parada cardíaca durante
lipoaspiração no dia 7 (Foto: Arquivo Pessoal)
O cirurgião plástico Vicente de Paula Ciarrochi Júnior, responsável pela cirurgia da manicure que teve uma parada cardíaca seguida de complicações durante uma lipoaspiração em Descalvado (SP), no último dia 7, avalia que houve precipitação por parte da equipe médica ao informar à mãe que a jovem de 24 anos teve morte cerebral. Segundo ele, pode ter havido uma interpretação equivocada da família.

“Ela pode ter entendido errado ou o médico pode ter se precipitado ao dar uma informação como essa para uma mãe que tem uma filha na UTI e que estava tudo bem até pouco tempo atrás”, declara Ciarrochi Júnior.

Nayara Cristina Patracão está em coma na Casa de Saúde de São Carlos (SP) e permanece ligada a aparelhos, o que mantém sua respiração e batimentos cardíacos. A jovem realizou uma cirurgia para a retirada de gordura na região das costas, mas sofreu complicações durante o procedimento. Segundo o cirurgião plástico, ela teve um mal súbito em Descalvado. Transferida, a manicure chegou a ser diagnosticada com morte cerebral, afirma a família.

“No domingo (14), eu estava aqui e me chamaram na UTI. O médico me disse que ela estava caminhando para a morte cerebral. O doutor Francisco Márcio de Carvalho [neurocirurgião] ligou na minha casa no domingo à noite e falou que eles estariam fazendo todos os exames, como tomografia, e que o edema dela aumentou muito em vez de regredir. Perguntei se era caso de uma cirurgia, e ele falou que estudariam o caso. Ele falou que ela estava em morte cerebral e que não tinha mais o que fazer”, relata a mãe, Lucimara Francischini.

O neurocirurgião prefere não se pronunciar à imprensa por questão de ética médica. Contratado pela mãe da manicure para uma segunda avaliação, o também neurocirurgião Admilson Delgado avaliou o estado da jovem na quarta-feira (16) e descartou a morte cerebral. Mas ele também não comenta o caso.

Nesta sexta-feira (18), a Casa de Saúde se manifestou sobre o caso pela primeira vez. O diretor superintendente, Fernando de Lucca, afirmou em entrevista coletiva que em momento algum foi constatado por nenhum médico do hospital que a manicure teve morte cerebral. “Se por acaso alguém deu uma informação, pode ter sido um médico de fora do quadro, a Casa não emitiu esse parecer”, declarou Lucca.
Débora com a amiga Nayara (à direita) em Descalvado (Foto: Arquivo Pessoal)Nayara (à direita) com a amiga Débora, que também
fez uma lipoaspiração (Foto: Arquivo Pessoal)
Sem explicação
O cirurgião plástico Vicente de Paula Ciarrochi Júnior diz que não encontra razões científicas para o que aconteceu com a manicure após uma parada cardíaca durante a lipoaspiração realizada por ele. "Não tem explicação", fala o médico de 52 anos, que atua na área há 20.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) abriu processo administrativo na terça-feira (15) e apura se houve alguma infração ética por parte do profissional, que acredita em uma fatalidade. Segundo ele, a cirurgia ocorreu normalmente e não há um diagnóstico que justifique a parada cardíaca. Para o especialista, não houve erro no procedimento. “No quadro em que ela se encontrava, se algo tivesse acontecido errado, ela não estaria viva”, afirma.

Ciarrochi Júnior conta como tudo aconteceu. "Nós já estávamos com quatro horas e meia de cirurgia, estava tudo normal. Eu já tinha feito a lipo nas costas, na frente, no abdômen e quando eu estava começando a fechar, ela teve uma parada cardíaca. Em 40 segundos nós revertemos o processo e sedamos a Nayara para que o organismo pudesse descansar e evitar uma embolia pulmonar", explica.

Imediatamente, a equipe ligou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Casa de Saúde de São Carlos e transferiu a jovem. "Nós mantivemos o coma induzido para o cérebro não ter que fazer força e na quinta-feira, quando desligamos a sedação, ela não voltou mais. Foi então que o neurocirurgião disse à família que ela teve morte cerebral", afirma.

Segundo Ciarrochi Júnior, nenhuma das prováveis causas de uma parada cardíaca durante uma cirurgia ocorreu com Nayara. "Não houve perfuração, não teve sangramento, não houve excesso de tempo, então, não conseguimos identificar uma possível causa para essa parada", diz.
Protocolo
Segundo o professor do curso de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Francisco Vale, o procedimento para diagnóstico de morte cerebral é normatizado e não pode ser feito por um único médico.  “Normalmente, são exigidos três médicos para fazer avaliação. E tem que haver uma concordância desses médicos”, afirma.
Além dos critérios clínicos neurológicos, Vale explica que há dois exames obrigatórios que devem ser feitos antes que o diagnóstico de morte cerebral seja fechado. “Um deles é o eletroencefalograma e o outro é o de angiografia cerebral, para medir a circulação no cérebro”. No caso de Nayara, o hospital não confirmou se esses exames foram feitos.

Responsabilidade
O professor da UFSCar diz que a morte cerebral é o diagnóstico de maior responsabilidade que se pode ter em medicina. “Ele é irreversível, por isso é tão criterioso e tem que ter um tempo de observância de pelo menos 24 horas nessa condição”, explica.
Segundo ele, o ideal é que a família já saiba desde o princípio, que a junta médica avalia o quadro nesse sentido. “Mas é preciso salientar que será feita uma investigação para o diagnóstico de morte cerebral e que ele só é fechado com a opinião de todos os médicos”, finaliza.
Nova avaliação
Segundo o diretor superintendente da Casa de Saúde, Nayara Patracão vai passar por outra avaliação, agora por uma nova junta médica formada por quatro neurocirurgiões. “O resultado deve sair em até 24 horas, mas só será divulgado se a família autorizar”, afirma Lucca.
Mãe se emociona ao ver filha chorar durante visita na UTI (Foto: Ricardo Italiano/EPTV)Mãe se emociona ao ver filha chorar durante visita
na UTI na quinta-feira (Foto: Ricardo Italiano/EPTV)
Choro
Na quinta-feira (16), a mãe de Nayara ficou meia hora com a filha na UTI. Foi a primeira visita depois que a junta médica contratada pela família descartou a morte cerebral. “Quando eu falei que ela precisava acordar para a gente batizar o Kauê, ela reagiu e chorou”, comemora Lucimara.
Entretanto, durante a coletiva o diretor do hospital disse que esse tipo de reação no paciente em coma é comum. “Pacientes da UTI, todos eles em algum momento choram. O correr dessa lágrima é decorrente de um produto usado naqueles pacientes que não têm movimento de pálpebras. Resta saber se isso é uma reação emocional ou se é uma melhora”, afirma.

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