MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 3 de março de 2013

Brasil, Cuba e Vietnã

Gilberto W. Almeida*

A passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil motivou a produção de vários artigos sobre Cuba, e quase todos compararam Cuba com o Brasil. A meu ver, erraram, pois compararam situações diferentes. Corresponde comparar manga e maçã, kiwi e sapoti, jaca e graviola. Todos são frutas, porém exibem diferenças significantes. Não se pode deixar de contextualizar as diferenças históricas que separam Cuba e Brasil. Para começar, o Brasil é, desde os anos 80, uma democracia liberal do tipo ocidental.
Isto quer dizer que o Brasil está organizado institucionalmente como um Estado de Direito, no qual estão garantidos os Direitos Civis aos indivíduos. O princípio destes direitos é a autonomia dos indivíduos de escolher o que querem consumir, o que querem dizer, onde querem morar. A estes direitos de primeira geração, básicos, que respondem à demanda por liberdade feita na Europa entre os séculos XVII e XVIII, foram acrescentados os direitos sociais (direitos trabalhistas), e mais recentemente os direitos ditos subjetivos (defesa ambiental, proteção aos animais, promoção de igualdades, etc.).
Em Cuba foi implantado o modelo socialista, que pressupõe a organização da sociedade em conselhos. Este modelo é derivado da Comuna de Paris, sublevação havida no século XIX, que organizou a capital francesa em conselhos onde se praticou a democracia direta. Todos os países socialistas copiaram esta experiência da Comuna, não custa lembrar que a palavra russa para conselho é soviete. Stalin frustrou a experiência dos conselhos na Rússia sob a alegação de ter de viver numa economia de guerra. Bem, há democracia em Cuba? Tecnicamente, sim, pois existem conselhos de fábrica, de saúde, de educação, bem como as famosas juntas de vizinhos, que são instâncias de representação popular direta.
Porém a Revolução Cubana, ao implantar o socialismo no país, suspendeu os direitos civis da população, tal qual feito na Rússia, devido ao estado de guerra interna causado pelas transformações radicais subjacentes à própria revolução. Mudar as instituições de um país não é tarefa fácil. Mudar a base produtiva tampouco. Comparar Cuba com o Brasil é complicado, melhor seria se comparássemos Cuba com o Vietnã. Tanto Cuba como o Vietnã vivenciaram guerras em seu território. O Vietnã logrou a façanha de vencer uma guerra contra a nação mais rica, armada e poderosa da terra no século XX. Porém a economia do Vietnã vai muito bem enquanto Cuba patina na pobreza. O que aconteceu? Bem, o Vietnã, depois de ganha a guerra contra franceses (primeiro, nos anos 50) e americanos (logo em seguida, até 75), trataram de arrumar a economia. Os vietnamitas souberam atrair investimentos e flexibilizaram a economia do país, acompanhando desde o início dos tempos de paz o que os chineses fizeram nos anos 80, ou seja, permitiram a convivência de pequenos empresários numa economia planificada.
Hoje o Vietnã é um caso de sucesso, empresas japonesas, coreanas e chinesas estão fabricando caminhões, tratores, automóveis e motocicletas por lá. Na agricultura, mais êxitos, pois além de exibirem autonomia de abastecimento, o país exporta alimentos, sobretudo arroz e café. Pois é, café. Numa região de bebedores de chá, percebeu-se a oportunidade de se plantar café para aproveitamento de terras propícias ao seu cultivo, de modo que há cerca de 20 anos o Vietnã desbancou a Colômbia como segundo maior produtor de café mundial. Os Estados Unidos são os maiores importadores do café vietnamita. Aliás, várias empresas americanas já estão instaladas no Vietnã a produzir produtos de conveniência, medicamentos, etc.
Enquanto isto aconteceu no sudeste asiático, Cuba continuou a amargar o maléfico e sufocante embargo americano. Nenhuma empresa pode investir em Cuba sob pena de ser banido do mercado americano, o maior do mundo. Os americanos perderam a guerra no Vietnã, mas afinal ganharam a guerra contra Cuba. Por isto os cubanos, como Yoani, estão pedindo um basta. Ninguém agüenta viver tantos anos na penúria.
* Gilberto W. Almeida é professor associado da EAUFBA

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