Chuva forte, de cerca de meia hora, foi suficiente para alagar alojamento.
Abrigo fica junto ao Hospital Curupait, em jacarepaguá, na Zona oeste.
Alojamento para onde os índios foram levados alagou em primeiro dia (Foto: João Bandeira de Mello/ G1)
Uma chuva forte, de cerca de meia hora, foi o suficiente para alagar a
área central, mesmo coberta, eas laterais do alojamento provisório para o
qual os índios que viviam no antigo Museu do Índio, no maracanã, na
Zona Norte, foram levados. Os índios chegaram ao alojamento, que fica
junto ao Hospital Curupait, em Jacarepaguá, neste domingo (24).
Índio usa rodo para escoar água da chuva que caiu
em alojamento (Foto: João Bandeira de Mello/ G1)
Recém-chegado, Tapuruma Pataxó largou a brincadeira que fazia com
crianças da vizinhança e pegou no rodo para, pelo menos, diminuir o
acúmulo de água, mas, às 12h25, a chuva voltou a engrossar.em alojamento (Foto: João Bandeira de Mello/ G1)
A Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos informou que vai solicitar a ampliação da lona que cobre o alojamento para evitar novos alagamentos em decorrência da chuva.
No alojamento por um ano
A chegada de um grupo de 13 índios, que deixou voluntariamente, na sexta-feira (22), o terreno que chamavam de "Aldeia Maracanã" - sede do antigo Museu do Índio, na Zona Norte, foi uma diversão para meninos do Curupaiti que, brincavam de pular cipó em uma árvore do local. Neste domingo, eles se divertiram com o som dos chocalhos e apitos indígenas. Para o contador de histórias Daua Puri, 59, a convivência com os moradores antigos será boa. "Índio se dá bem com qualquer um", afirma.
A recepção na colônia, porém, não é unânime; moradores de um conjunto de prédios bem atrás do alojamento temem enfrentar problemas como barulho e tumulto. Uma moradora identificada apenas como Kelly perguntou "onde meus filhos vão brincar agora?", já que o espaço livre onde foi erguido o alojamento era uma área de lazer das crianças - ao menos, a árvore do cipó ficou fora das divisórias que demarcam a residência coletiva dos índios.
'Racha' entre os índios
Entre os próprios indígenas, houve uma briga, com o grupo Guajajara formando uma dissidência dos demais para tentar resistir a decisão judicial pela qual tiveram que sair do terreno no Maracanã onde funcionou, até 1978, o antigo Museu do Índio - nesse domingo, os guajajaras estiveram em uma invasão, desta vez, ao atual Museu do Indio, em Botafogo, na Zona Sul.
"Na Aldeia Maracanã, eles eram 18 de uns 40 e poucos", contou a índia Vangri Kaingang, 32, integrante da primeira leva que chegou a Jacarepaguá. "Havia uns 12, mas chegaram outros na última semana, para tentar resistir em maior número", explicou. Para ela, que ainda terá que esperar os dormitórios de casal para dormir com o marido, o vice-cacique Garapira Pataxó, a nova residência já é um avanço em relação ao Maracanã. "Na aldeia, não tinha água encanada, eletricidade, nada", conta, de calça jeans e blusa com a inscrição "Paris, i love you". "Depois de 513 anos, a gente não mora mais na selva. Na aldeia de onde vim, No Rio Grande do Sul, nós já morávamos em casas", lembra.
Na sexta-feira, houve confronto entre a Polícia Militar e alguns dos indígenas, além de militantes, durante a desocupação do prédio no Maracanã.
Recepção
Os índios foram recebidos com um café da manhã neste domingo pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado, com participação dos moradores da colônia Curupaiti, onde viviam pacientes de hanseníase - segundo a secretaria, não há risco para saúde dos indígenas no local.
Os índios fizeram sinal de positivo para as instalações, em contêineres, com dois banheiros, dois dormitórios coletivos e cozinha com geladeira e fogão novos e uma área central, onde deve ser feita uma espécie de oca, segundo o secretário estadual de Assistncia Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira.
O secretário afirmou que também irá atender ao pedido de dormitórios para casais, que ainda não há. O número de colchões e camas de beliche, que totalizam 16 lugares, por enquanto, pode ser insuficiente, já que a primeira leva chegou com 13 índios, mas outros são esperados. Segundo o próprio governo do estado, foram 22 os que saíram de forma voluntária do terreno no Maracanã. Também deve ser feito um escritório no local.
Manifestantes entram em Museu do Índio em Botafogo
No início da manhã, o grupo já não estava mais no local. A imprensa não teve acesso à porta do museu, devido a um cordão de isolamento feito por policiais. O grupo foi levado para a sede da Justiça Federal, no Centro.
Sede do atual Museu do Índio, em Botafogo (Foto: Isabela Marinho/G1)
Meninos bricam de pular cipó em frente ao local onde ficará alojamento dos índios (Foto: João Bandeira de Mello/G1)
Enquanto trabalhavam, os operários viam que a nova morada dos índios já
tinha vários "Tarzans" – mais de 10 meninos moradores das vizinhanças
do Curupaiti que brincavam de pular de cipó. Curiosamente, a instalação
do alojamento indígena é que diminuiu o visual de floresta do local.Radial Oeste tem pista interditada
Também no sábado (23), um dia após a evacuação do antigo Museu do Índio, a Radial Oeste, via que passa em frente ao local desocupado, no Maracanã, teve a pista sentido Zona Sul – a mais próxima do acampamento desfeito – interditada, exatamente em frente ao local do conflito de sexta-feira (22) para obras relativas à reforma urbana em torno do estádio de futebol.
Radial
Oeste funciona em mão dupla, devido a pista interditada no local do
conflito entre policiais e militantes na sexta-feira (22); ela ficará
assim até 1h de segunda (25) (Foto: João Bandeira de Mello/G1)
Daniel Macedo afirmou, na noite desta sexta-feira (22), que Defensoria pública da União (DPU) vai acompanhar os desbodramentos porque, segundo ele, não basta colocar o grupo em um terreno em Jacarepaguá. "Esse espaço não pode ser apenas um alojamento, para deixá-los lá. Tem que se criar uma estrutura digna para que eles consigam viver", disse
O defensor, acrescentou que a conduta da Polícia Militar será investigada. "Vamos apurar as responsabilidades, porque houve abuso de autoridade. Pedimos 10 minutos para negociar com os últimos índios que insistiam em permanecer no local. Eles estavam saindo, mas as autoridades determinaram a invasão. Jogaram spray de pimenta numa atitude truculenta".
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