MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 14 de março de 2013

EMBRIAGUEZ EM SP PARA INOCENTAR UM CRIMINOSO CRUEL É TRATADA COMO CRISE DE PÂNICO

Motorista que atingiu ciclista pode ter tido crise de pânico, dizem psiquiatras

Para eles, no entanto, isso não justifica atitudes de Alex Siwek.
Ataque de pânico pode levar a atitudes irracionais e pouco coerentes.

Rafael Sampaio Do G1, em São Paulo

Preso o homem acusado de atropelar ciclista e fugir sem prestar socorro em SP (Foto: Reprodução Globo News)Bicicleta usada por David Santos de Souza fica
destruída após atropelamento na Avenida Paulista
(Foto: Reprodução Globo News)
O estudante de psicologia Alex Siwek, que atropelou o ciclista David Santos de Souza e jogou seu braço em um córrego em São Paulo, pode ter sofrido um ataque de pânico circunstancial e momentâneo, capaz de levar a atitudes irracionais e pouco coerentes, afirmaram psiquiatras ouvidos pelo G1.
O ataque não caracteriza um transtorno mental e pode acometer qualquer pessoa em situação de estresse extremo, como por exemplo dentro de um elevador em queda ou durante um terremoto, ressalta o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da USP, ligado ao Hospital das Clínicas.
O psiquiatra avalia existirem principalmente dois tipos de pânico: o transtorno ou síndrome do pânico, que se caracteriza por crises frequentes de ansiedade e medo, com ou sem fatores que causem seu surgimento, e o pânico situacional, que pode acometer pessoas comuns diante de ameaças, acidentes ou catástrofes.
"Tomar uma atitude irracional em um quadro de pânico é muito comum, como reagir a um assalto, por exemplo. As pessoas às vezes tomam medidas que elas mesmas desconheceriam", pondera Mello. "São atitudes reflexas em situações críticas."
Sem justificativa
Tanto Mello quanto o psiquiatra forense Guido Palomba, no entanto, concordam que um ataque de pânico não é capaz de justificar as atitudes de Siwek. O estudante apresentava sinais de embriaguez na hora do acidente, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML). Testemunhas disseram ter visto o carro do jovem andando em zigue-zague na Avenida Paulista. Após atingir o ciclista, às 5h30 do domingo (10), ele deixou o local sem prestar socorro.
"Pode ser uma reação primitiva, de pânico, sim. Mas isso naturalmente não desculpa o comportamento, não justifica. Tudo isso [o pânico] pode nascer de um pensamento inicial do motorista de não socorrer", afirma Palomba. "Se ele [Siwek] tivesse socorrido, talvez ele não tivesse sofrido o pânico que sofreu. O pânico é o tributo que ele pagou, a consequência por não ter agido corretamente."
Para o psiquiatra forense, cada pessoa reage de uma maneira diante de situações extremas, mas há um comportamento comum aos casos: o estreitamento da consciência e a adoção de atitudes instintivas, feitas quase sem pensar. "Existe uma descarga de adrenalina junto com o estreitamento de consciência na hora do pânico", diz.
"Em vez de colocar a mão na cabeça e pensar: 'o que eu fiz?', a pessoa tem uma reação primitiva, insintiva de pouca crítica", ressalta Palomba, referindo-se às atitudes de Siwek - após atropelar um ciclista, ele deixou o amigo que estava no carro com ele em casa e foi à Avenida Doutor Ricardo Jafet, na Zona Sul de São Paulo, onde jogou o braço do atropelado em um córrego.
Acidente Ciclista V3 (Foto: Arte/G1)
Provavelmente foi nesta condição pouco racional que o estudante de psicologia, após o atropelamento, dirigu-se a uma base da PM no Jardim da Saúde, também na Zona Sul, pedindo aos policiais para ser preso por acreditar que havia matado uma pessoa, analisa o psiquiatra forense.
Três atitudes
Mello explica que há três atitudes mais comuns diante de situações que causem pânico, como um assalto ou um acidente: paralisia, fuga ou enfrentamento. "Geralmente o enfrentamento ocorre quando você não tem opção", detalha. Para o psiquiatra, "a atitude dele [Siwek] parece ter sido de pânico e fuga".
Palomba discorda quanto à fuga. Ele acredita que, na hora do acidente, o motorista não teve pânico ou choque - este estado mental pode ter ocorrido depois, quando viu o braço preso em seu carro. Segundo o advogado de Siwek, o jovem ficou atordoado na hora do acidente e, em um primeiro momento, não viu o membro pendurado no veículo.
"Acho que a bebida alcoólica o levou a cometer esse crime de trânsito, a não ajudar o ciclista", diz o psiquiatra forense. "Se não houvesse o braço pendurado, se o carro estivesse só um pouco amassado, ficaria por isso mesmo. Tudo nasce desta cena, ali ele [Siwek] viu que o negócio era muito grave."
Imaturidade
Outra hipótese para a reação de Siwek é uma grande imaturidade, diz o especialista do Hospital das Clínicas da USP. "Uma pessoa imatura não julga estas situações de forma coerente, ela entra em pânico e acaba cometendo uma coisa pior ainda", ressalta.
Mello recorda o incêndio de Santa Maria ao falar sobre situações que causam pânico. "Em um incêndio em uma danceteria, ficar em pânico pode ser um fator de vida ou morte", reflete. O desespero pode fazer com que as pessoas se atrapalhem e não consigam sair do local em chamas.
"Em um assalto, por exemplo, o melhor é ter uma reação de paralisia do que de enfrentamento", pondera o psiquiatra.
Na opinião de Palomba, o acidente se deveu em grande parte ao uso de álcool. Ele, no entanto, considera que a bebida não deve ter influenciado a reação do motorista após o atropelamento. "Isso tudo deve ter ocorrido quando ele estava mais sóbrio", diz o psiquiatra forense.
Mello pondera que só uma análise do histórico do rapaz e uma avaliação psicológica podem dizer se o estudante sofre de algum transtorno mental. "Não se pode julgar o comportamento da pessoa de forma transversal", afirma. "Precisa ver comportamento dela na infância, a forma que evoluiu."
Como ocorreu o acidente
Na descrição da polícia, o motorista Alex Siwek estava dentro de um Honda Fit ao lado de um amigo quando o acidente ocorreu. O braço direito do ciclista foi amputado por estilhaços de vidro do pára-brisa e permaneceu preso ao veículo.
O motorista fugiu do local, deixou o amigo em casa e depois foi à Avenida Doutor Ricardo Jafet, de onde lançou o braço em um córrego. Depois, voltou à própria casa, guardou o carro na garagem e dirigiu-se a pé à unidade policial para se entregar.
O exame clínico apontou que o motorista havia ingerido bebida alcoólica antes do acidente. A comanda de consumo de Alex Siwek, paga na casa noturna de onde ele saiu antes de atropelar o ciclista, mostra que ele pagou por três doses de vodca e um energético. O horário que a comanda individual de consumo foi fechada, às 6h, porém, é posterior ao horário do acidente, ocorrido às 5h30.
O advogado de Siwek, Pablo Naves Testone, afirma que o estudante de psicologia não tem antecedentes criminais e que reúne os requisitos para responder ao processo em liberdade. Diz ainda que a família do rapaz está muito assustada com a repercussão do caso e que já sofreu ameaças.
"Acharam o número da residência fixa, e ligaram falando bobagens, como a mãe e o pai educaram o menino, falando que iam matá-los." A ligação foi atendida pela mãe de Alex, que, segundo o advogado, está tomando rémedios por conta dos últimos acontecimentos. "Todos estão comovidos, sabem que foi aterrorizante, e que o menino será julgado pelo que fez, mas algumas pessoas estão exagerando."
O estudante foi transferido para o Centro de Detenção Provisória 3 de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, na terça-feira (12). Ele estava no CDP 2 do Belém, na Zona Leste, desde segunda (11). Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), Siwek ficará em regime de observação, sem contato com os outros presidiários, para se adaptar ao regime carcerário. Durante o período, ele só poderá receber visita de seus advogados.

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