O arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, foi um crítico opositor do estilo de governo de Néstor e Cristina; o ápice do conflito ocorreu na aprovação do casamento homossexual pelo Congresso argentino em 2010
Cristina Kirchner e o cardeal Jorge Bergoglio na Basílica
de Lujan, em 2008: primeira missa com a presença presidencial depois de
cinco anos de rompimento
(AFP)
Bergoglio sempre considerou prioritária a participação da Igreja em questões políticas e sociais. Era um questionador dos principais temas que envolviam o bem-estar da população. Essa postura do arcebispo de Buenos Aires não era aceita por Néstor, que criticou duramente e chegou a afirmar que Bergoglio era contra o seu governo. “Ele é o verdadeiro agente da oposição”, disse Néstor.
Apesar das críticas de Bergoglio à herança e ao estilo kirchenerista, a chegada de Cristina ao poder abriu uma nova oportunidade de aproximação com Bergoglio, que se reuniu com Cristina em 2007, acontecimento tratado como um marco na reaproximação entre a Igreja e o Estado. Naquele momento, o diálogo parecia fluido e normal, ao contrário dos anos de Néstor. Em 2008, com o conflito entre o governo e os agricultores, Bergoglio foi protagonista em mediar acordos. Era o pior momento para o kirchnerismo e a aproximação com a Igreja parecia definitiva. O momento foi marcado pela celebração de uma missa com a presença da presidente, o que não ocorria havia cinco anos.
A aproximação não durou muito. O rompimento com a presidente ocorreu a participação ativa de Cristina nos movimentos pela aprovação do casamento homossexual. Bergoglio é visto com um ortodoxo que não vacila em questões de moral sexual. Ele firmemente se opunha ao aborto, ao casamento de mesmo sexo e à contracepção. Governo e Igreja trocaram insultos e mediram forças. Nos bastidores, Bergoglio protestou contra a aprovação: “Não estamos falando de uma simples batalha política, mas de uma pretensão destrutiva contra o plano de Deus”, escreveu ele aos mosteiros da capital argentina.
A Igreja acusou o governo de olhar as urnas para decidir apoiar a aprovação da ampliação dos direitos civis para gays e lésbicas. Cristina criticou publicamente o arcebispo e mobilizou aliados na Câmara e no Senado para que formassem uma linha de proteção e batalha para combater os políticos conservadores, capitaneados por Bergoglio. A tensa troca pública de insultos foi definida, na época, pelo sociólogo Ernesto Meccia, da Universidade de Buenos Aires: "Em toda a história argentina, a Casa Rosada nunca tinha enfrentado a Igreja em uma questão tão controversa."
Em uma de suas últimas críticas ao governo de Cristina Kirchner, o papa Francisco advertiu sobre os perigos da homogeneização do pensamento político, que pode se transformar em uma crônica negra para a sociedade. Apesar de toda a distância e críticas sociais, a presidente deixou as mágoas de lado e enviou suas felicitações ao novo papa: "(...) É nosso desejo que, ao assumir a condução da Igreja, tenha uma frutífera tarefa para desempenhar com grande responsabilidade, justiça, igualdade, fraternidade e paz para a humanidade. Minhas considerações e respeito à Sua Santidade."
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