MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 11 de março de 2013

Mãe diz que sucessivos erros médicos levaram bebê à morte, em RO


Isabella teve intoxicação, após prescrição de medicamento em excesso.
Em UTI, "erro inesperado" teria agravado quadro de Isabella, que morreu.

Vanessa Vasconcelos Do G1 RO

Isabella Barba, com três meses. (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)Isabella Barba, com três meses (Foto: Arquivo Pessoal)
A mãe de uma criança morta no ano passado acusa médicos de duas unidades de saúde de Porto Velho, Unimed e Hospital de Base Ary Pinheiro, de negligência médica. Segundo Taiane Barba Brilhante, os supostos erros teriam levado sua filha Isabella, de três meses, à morte, em 2012. Taiane, que era funcionária do hospital da Unimed, alega ainda ter sido demitida sem justificativa, após levar o caso à Justiça. Ainda segundo a mãe, documentos médicos da filha foram ocultados e outros alterados pelo hospital. Isabela era a primeira filha do casal.
Taiane  conta que a filha apresentava uma inflamação no ouvido, sendo prescrito por um médico o medicamento amoxilina. Com a persistência dos sintomas, Taiane retornou ao hospital dias depois, quando a filha foi examinada pela pediatra plantonista, que receitou o medicamento nimesulida, 14 gotas, a cada 12 horas, por cinco dias, e orientou que continuasse com a amoxilina.
Pediatra receitou 14 gotas de nimesulina a cada 12 horas por cinco dias, o que teria provocado intoxicação em Isabella (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Pediatra receitou 14 gotas de nimesulida, a cada
12 horas, por cinco dias, o que teria provocado
intoxicação em Isabella (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
Ao se dirigir a uma farmácia para comprar o medicamento, o cunhado de Taiane foi questionado pelo farmacêutico sobre um possível erro na receita, tendo em vista a grande quantidade de gotas, se tratando de um bebê. “O farmacêutico explicou que era um medicamento muito forte e que para crianças acima de dois anos eram indicadas apenas duas gotas. Minha filha tinha três meses e era um bebê prematuro”, conta Taiane, que retornou ao hospital no mesmo dia, a fim de confirmar o receituário com a pediatra que atendeu a filha.
Segundo ela, sem conferir a receita, a médica apenas confirmou o que já havia prescrito e alertou que o medicamento poderia causar vômitos, mas que era normal. Se isso ocorresse, a mãe deveria repetir a dose após 20 minutos. Persistindo o vômito, o medicamento deveria ser dado no próximo horário (12 horas depois).
Ao chegar em casa e dar a medicação a Isabella, a mãe conta que cerca de 10 minutos depois a filha veio a vomitar. Seguindo as recomendações médicas, Taiane esperou 20 minutos e voltou a medicar a filha, que novamente vomitou. A mãe então aguardou o próximo horário.
O ritual se repetiu durante cinco dias, com a criança vomitando sempre que tomava a medicação. Ao perceber que a filha já não estava se alimentando direito, Taiane voltou ao hospital.
A mãe relatou o caso ao médico do plantão e apresentou a receita prescrita pela pediatra.  Ao examinar o bebê, constatou que o ouvido não estava mais inflamado, porém a criança havia perdido peso, estava desidratada e apresentava um quadro de intoxicação por nimesulida, sendo necessário a sua internação com urgência. “O médico afirmou que o medicamento era forte e que minha filha deveria tomar no máximo duas gotas dele”, lembra a mãe.
Médico atestou intoxicação por nimesulina em prontuário (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Médico atestou intoxicação por nimesulida em prontuário (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
A filha foi tratada e, de acordo com a mãe, uma bateria de exames foi realizada e os resultados teriam sido normais. No dia 27 de agosto, uma segunda-feira, Taiane foi informada de que a filha receberia alta após a realização de um último exame. Após a coleta do sangue, outra médica teria relatado a mãe que a criança teria se assustado e em seguida tido uma crise convulsiva.
Com isso, o bebê  apresentou dificuldade em respirar, sendo necessário o uso da mascara de oxigênio. “A médica falou que a crise tinha sido causada pelo medicamento [nimesulida], pois minha filha tinha perdido muito cálcio e potássio”, conta Taiane. A médica informou ainda que, caso a criança voltasse a ter convulsões, precisaria ser internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que o hospital da Unimed não possuía. A família então autorizou a transferência do bebê para a UTI pediátrica do Hospital de Base Ary Pinheiro.
No dia 29 de agosto a mãe notou que a filha não estava urinando. Um exame então detectou que a criança continuava desidratada, pois o soro estava correndo fora da veia em que era aplicado.
"Erro Inesperado"
Segundo relato da mãe, ela teve que sair da sala para que os médicos realizassem um procedimento a fim de restabelecer o soro da criança. Cerca de três horas depois recebeu autorização para ver a filha. Ela conta que Isabella estava com várias marcas de agulha nas mãos, o pescoço estava roxo e apresentava um grande sangramento no peito esquerdo.
Ao questionar o sangramento a uma médica, a mesma informou que o médico que realizou o procedimento havia pegado uma veia arterial próximo ao coração, mas que seria realizado um raio-x para avaliar se estava tudo bem com a criança.
A mãe conta que, após analisarem o exame, o medico que realizou o procedimento foi acionado. Quando a mãe voltou a ter contato com Isabella, a criança já estava entubada, sedada e com dois drenos, um em cada lado do peito. “Fiquei desesperada”, conta a mãe.
Os médicos alegaram que a criança estava “ruim de veia” e que precisavam pegar uma veia arterial profunda para que ela pudesse receber o soro corretamente. Entretanto, durante o procedimento, uma veia próximo ao coração acabou sendo perfurada, causando o sangramento no peito esquerdo da paciente. Ao tentar realizar o mesmo procedimento do lado direito, um erro acabou fazendo com que entrasse ar no pulmão de Isabella.
“Uma das médicas me disse que tinha acontecido um 'erro inesperado', mas que com os drenos minha filha iria melhorar e que ela estava sedada para não sentir dor. Entrei em pânico ao ver minha filha naquela situação”, lembra a mãe, completando que a filha teve que receber transfusão por ter perdido muito sangue.
Isabella tem parada cardíaca
No dia 30, uma quinta-feira, Taiane notou que a filha estava muito pálida com mãos e pés roxos e não urinava. Questionada, uma enfermeira falou que a situação era normal. Após muita insistência, a mãe conseguiu falar com um médico, que realizou mais exames. “O resultado apontou que minha filha estava desidratada e sem sangue”, relata a mãe.
Fizemos diversos questionamentos à equipe do hospital [de Base], nos disseram apenas para confiar em Deus e que erros acontecem"
Taiane Barba Brilhante, mãe do bebê
No dia seguinte, os pais foram chamados ao hospital, por volta das 12h. Ao chegarem ao local foram informados de que a filha havia sofrido duas paradas cardíacas, uma durante a madrugada e outra no final na manhã, quando faleceu.
O laudo médico apresentado pelo hospital diz que a criança morreu após apresentar quadro de disfunção de múltiplos órgãos; choque hipovolêmico; hemorragia pulmonar; hipertensão pulmonar; crise convulsiva e distúrbio eletrolítico.
A família afirma que a criança não corria risco de morrer e mesmo tendo nascido prematura era uma criança saudável. O quadro de saúde de Isabella teria piorado após os sucessivos erros médicos, desde os primeiros atendimentos na Unimed, com receita médica errada para a idade da criança, e em seguida as falhas no tratamento da filha na UTI do Hospital de Base. “Fizemos diversos questionamentos à equipe do hospital [de Base], nos disseram apenas para confiar em Deus e que erros acontecem”, relembra a mãe, indignada com a situação.
Acima, o documento com a assinatura que a família não reconhece. Abaixo a assinatura do marido d eTaiane (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Acima, o documento com a assinatura que a família
não reconhece. Abaixo a assinatura do marido de
Taiane (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
Após o ocorrido, a família denunciou o caso à Justiça e também ao Conselho Regional de Medicina de Rondônia (Cremero).
Taiane alega que, no período em que solicitou os documentos e laudos médicos ao hospital Unimed, houve demora na entrega e outros sequer foram apresentados.
Ao autorizar a transferência de Isabella para o HB, Taiane conta que o documento foi assinado por ela mesma. Já o documento apresentado pela Unimed foi alterado, contendo sintomas que a filha não apresentava e ainda com uma rubrica e o RG do marido. "A assinatura é totalmente diferente da do meu marido, não a reconhecemos, e era a minha assinatura que deveria estar lá", afirma. Um outro prontuário da criança não foi encontrado.
Conselho Regional de Medicina.
De acordo com o vice-corregedor do Cremero, Ivan Gregório Ivankovics, o caso chegou ao conselho no inicio de novembro e no dia 22 do mesmo mês foi instaurada uma sindicância para apurar os fatos. A corregedoria assume a demora na apuração da denúncia e justifica ser devido ao quadro reduzido de conselheiros em exercício.
A sindicância está em processo de apuração, onde os envolvidos foram convocados a prestar esclarecimentos junto ao conselho. Segundo Ivankovics apenas um dos médicos citados na denúncia ainda não foi ouvido, por residir em outro estado. “Ele já foi notificado e em breve deve se apresentar ao conselho”, afirmou o vice-corregedor, garantindo que esta fase apuratória deve ser concluída até o final do mês de março.
Após esta fase, o processo vai para uma Câmara de Sindicância, onde o relatório será apresentado e votado por um conselho formado por cinco médicos. “Se houver realmente indícios do erro, baseado nessa câmara, se abrirá um processo ético profissional contra os envolvidos”, explica Ivan. Entra as sanções passiveis, está a suspensão do exercício da profissão por até 30 dias; advertência confidência; censura confidencial ou pública (publicação oficial em jornais); e a cassação do registro de médico, sendo esta a pena máxima aplicada pelo conselho.
De acordo Taiane Brilhante, mesmo sendo prematura, Isabella era um bebê saudável (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)De acordo Taiane Brilhante, mesmo sendo
prematura, Isabella era um bebê saudável
(Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Como denunciante, Taiane tem acesso livre a todo o processo e diz se sentir indignada sobre a justificativa apresentada pela médica que teria receitado o medicamento que provocou a intoxicação em Isabella. “Ao conselho, ela negou ter receitado o medicamento e que minha filha estivesse intoxicada. Me arrependo amargamente de ter acreditado nela [médica] e não no farmacêutico”, lamenta a mãe.
Hospitais
O G1 entrou em contato com o hospital da Unimed em Porto Velho. Por meio de um comunicado oficial, o hospital afirma que a questão do atendimento está sendo apurada pelo Cremero e que a “Unimed Rondônia, como operadora de plano de saúde, prestou toda a assistência necessária ao tratamento do bebê desde o seu nascimento, quando necessitou de cuidados especiais devido a sua prematuridade”.
Já o diretor clínico do Hospital de Base, o médico Juan Carlos Boado, informou que um relatório sobre o fato está sendo elaborado pela equipe do hospital e que, após a conclusão, será encaminhado ao Ministério Público de Rondônia e Cremero.

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