MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 8 de março de 2013

Parteira no interior do Piauí dá exemplo de vida no Dia da Mulher


Silvânia Gomes atua há 18 anos como parteira e sente orgulho do trabalho.
Ela é carinhosamente chamada de mãezinha ou madrinha na região.

Ellyo Teixeira Do G1 PI

Silvânia Gomes da Silva, de 47 anos, é parteira e ajudou oito mães dar à luz (Foto: Washington Bezerra)Silvânia Gomes da Silva, de 47 anos, é parteira e ajudou oito mães dar à luz (Foto: Washington Bezerra)
Silvânia Gomes da Silva, de 47 anos, é parteira e ajudou oito mães dar à luz no povoado Sossego, no município de Barras, a 119 quilômetros ao Norte de Teresina. Aproximadamente 25 famílias residem no local, que tem como fontes de renda a agricultara familiar, a criação de pequenos animais e o extrativismo do coco babaçu.
Aliás, a história de Silvânia se mistura com a do babaçu. Desde cedo ela aprendeu um ofício que é passado de mãe para filha: o de quebradeira de coco. Na região cortada pelo Rio Marataoan, o principal do município, existe uma grande concentração de palmeiras babaçu, o que levou os povoados da região a trabalharem os derivados desse vegetal. De lá saem a amêndoa do coco, o óleo e o carvão.
Entretanto, a paixão da vida de Silvânia não foi ensinada por ninguém, a vocação determinou sua escolha. Ao contrário de médicos ou enfermeiros que precisam da técnica para desempenhar suas profissões, as parteiras contam com o seu dom para realizar seu ofício.
História de Silvânia se mistura com a do babaçu (Foto: Washington Bezerra)História de Silvânia se mistura com a do babaçu (Foto: Washington Bezerra)
“Normalmente esse tipo de trabalho é passado de mãe para filha perpetuando gerações de parteiras, mas no meu caso foi totalmente diferente. Minha mãe nunca realizou um parto e eu sempre tive esse desejo”, afirma.
Segundo Silvânia, foi o instinto que a ajudou a realizar o primeiro parto de sua vida. Ela conta que estava em casa quando foi avisada que havia uma mulher em trabalho de parto ali próximo a sua morada.
“De imediato eu fui para lá. Quando cheguei a criança já estava quase nascendo. Eu ajudei a tirá-la, a fazer a limpeza do bebê e a cortar o cordão umbilical. Desse dia em diante eu nunca mais parei de ajudar as mulheres grávidas da região”, relata.
Maria Arcângela, primeira mulher a ter um parto realizado por Silvânia, conta que estava nervosa, mas que a parteira a tranquilizou. “Era minha primeira filha e eu estava com muito medo. Ela me passou segurança no momento do parto. Seu trabalho foi melhor que em muitos hospitais por aí”, diz.
Arcângela também afirma que logo depois do nascimento de sua filha Maria Luana, a parteira acompanhou todo o seu resguardo. “Além de realizar o parto ela me acompanhou durante um tempo. Sempre vinha à minha casa saber se eu estava comendo bem, trazia chá de ervas e me chamava a atenção para que eu não quebrasse o resguardo com o trabalho de casa”, relata.

A parteira também aproveita a amêndoa do coco, o óleo e o carvão. (Foto: Washington Bezerra)A parteira também aproveita a amêndoa do coco,
o óleo e o carvão. (Foto: Washington Bezerra)
Em seu trabalho, Silvânia utiliza práticas populares como o uso de plantas medicinais, superstições e de simpatias, além da sempre presente oração, tornando-se a fé um parâmetro para que o trabalho de parto aconteça sem maiores problemas, independentemente da religião que pertençam.

“Na hora do parto é só eu, Deus e mais ninguém. Além de trazer bebês ao mundo, eu faço reza nas crianças para tirar o quebrante (mau olhado) e outras doenças”, afirma.
Acompanhamento
A experiência adquirida com passar dos anos fez Silvânia  acreditar que é necessário a parteira acompanhar toda a gestação. Entretanto, ela também constatou que em muitos casos isso era inviável.
“O chamado surgia só no momento do nascimento. A gente chegava em cima da hora e fazia o parto. Quando via que (o bebê) não estava em posição, mandava para o hospital. Se acompanhássemos a gravidez desde o início, já saberíamos disso e evitaríamos o risco”, lembra.
Com 18 anos de atuação, a parteira se orgulha de êxito na maioria dos partos. “Só um não deu certo, mas não foi por minha culpa. Quando cheguei o bebê já estava morto, porque era de seis meses”, conta.
Emoção
Silvânia mantêm vivo na memória o dia em que um homem jovem bateu em sua porta de forma abrupta. Ela conta que hesitou em atender, mas algo a instigou a seguir em frente. “Eu abri a porta e tinha um rapaz: ’foi a senhora quem me pegou nas mãos pela primeirab vez’ disse ele que tinha vindo me agradecer por ter ajudado sua família”, conta.

Maria Luana, de 18 anos, primeira criança que nasceu com a ajuda da parteira, afirma que considera Silvânia a sua segunda mãe. “Foi ela quem me trouxe ao mundo e ajudou minha mão durante o resguardo. Quando eu tiver uma filha ela irá fazer meu parto e meu filho será afilhado dela”, afirma a jovem.

Silvânia ficou com os olhos marejados ao escutar a promessa da Maria. “Eu conheço todos eles. Me chamam de mãezinha ou madrinha. É emocionante, um prazer muito grande sentir esse carinho todo”, diz sorrindo a parteira.
Silvânia Gomes da Silva, de 47 anos, é parteira e ajudou oito mães dar à luz (Foto: Washington Bezerra)Silvânia Gomes da Silva, de 47 anos, é parteira e ajudou oito mães dar à luz (Foto: Washington Bezerra)
Ofício
Alzenir Moura Fé, Coordenadora da Saúde da Mulher, afirma que no Piauí, 99,5% dos partos do estado ocorrem nos hospitais. As parteiras, contudo, não respondem nem sequer pelos 0,5% restantes, pois nesse índice está incluída a maioria dos nascimentos ocorridos no deslocamento para os centros médicos. Apesar da pouca representatividade, a gestora destaca a importância dessas mulheres.

“No interior e em locais mais distantes, é difícil mensurar a relevância das parteiras, que muitas vezes é o único ponto de apoio para as parturientes. Sendo que no estado temos 132 parteiras cadastradas”, fala Alzenir.

Dia Internacional da Parteira
O dia 5 de maio, foi instituído pela Organização Mundial da Saúde em 1991, para salientar a importância do trabalho das parteiras em todo o mundo. Em diversos países, o Dia Internacional da Parteira tem sido comemorado por diversas organizações ligadas à defesa dos direitos das mulheres.

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