Uma proposta: PSC deveria convencer Feliciano a renunciar, mas com uma condição: que todos os deputados enroscados com a Justiça, inclusive peculatários e corruptos, deixassem todas as comissões e a Mesa Diretora da Câmara. Henrique Eduardo Alves topa?
Uma
operação inédita está em curso na Câmara dos Deputados. Não foi
deflagrada nem contra notórios ladrões de dinheiro público. Jamais um
fraudador da boa-fé do eleitorado mobilizou tanto os ânimos dos
parlamentares. O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) se transformou no
símbolo do mal. Lembro aqui que o deputado João Paulo Cunha
(PT-SP) já era processado pelo STF no caso do mensalão — acabou
condenado por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro — E SE
TORNOU PRESIDENTE DA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA. Ou
seja: um deputado-réu cuidava da constitucionalidade dos projetos da
Casa. Numa agressão flagrante ao bom senso e numa clara manifestação de
escárnio e de desprezo pelo Supremo, mesmo condenados, o próprio João
Paulo e José Genoino (PT-SP) integram, hojue, a CCJ, que é a comissão
mais importante da Casa.
“Ah, então
isso justifica tudo?” Não! Isso não justifica tudo. Só estou
evidenciando a que grau chega a tolerância da Câmara com os malfeitos.
No que diz respeito aos gays, Feliciano se posicionou contra o casamento
de pessoas do mesmo sexo. É um direito dele. Tachar isso de homofobia é
piada. É patrulha das mais grotescas. Eu, por exemplo, sou favorável. E
daí? A acusação de racismo consegue ser ainda mais enviesada, embora,
na aparência, possa parecer evidente. Feliciano, que tem a mãe negra,
citou (e mal) uma passagem da Bíblia, e o centro de sua observação nada
tinha a ver com a questão de raça ou cor da pele. Não estou livrando a
cara dele. Estou sustentando que falar besteira não pode ser critério
para cassar alguém de uma comissão. E, aí sim, sou obrigado a destacar:
não pode ser um critério eficiente em si e também quando aplicado a uma
Casa que abriga na CCJ condenados por peculato, formação de quadrilha,
corrupção ativa, corrupção passiva…
Pergunto:
por que o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não se
mexeu? Porque, dada a lógica do poder, é mais fácil atacar Feliciano do
que dois condenados pelo Supremo; um é só do PSC; os outros dois são
capas-pretas do PT.
Reunião
Alves resolveu marcar uma reunião com os líderes dos demais partidos. Ele não tem poder para obrigar Feliciano a renunciar. O que se estuda é inviabilizar o funcionamento da comissão. A ideia é a seguinte: se Feliciano não sai, os outros partidos saem. Ela ficaria reduzida aos cinco membros do PSC. Como é preciso um quórum de ao menos 10 para funcionar…
Alves resolveu marcar uma reunião com os líderes dos demais partidos. Ele não tem poder para obrigar Feliciano a renunciar. O que se estuda é inviabilizar o funcionamento da comissão. A ideia é a seguinte: se Feliciano não sai, os outros partidos saem. Ela ficaria reduzida aos cinco membros do PSC. Como é preciso um quórum de ao menos 10 para funcionar…
Reitero:
nunca se viu nada assim antes. Todo mundo tem o direito de detestar o
que Feliciano pensa, mas ele certamente NÃO é o maior vilão que já
passou pela Câmara. Se vilão fosse, haveria outros bem piores, embora
possam ser favoráveis ao casamento gay e se dispensar de dizer
impertinências sobre a Bíblia.
Volto à
proposta que fiz no título: o PSC deveria convencer Feliciano a
renunciar — e ele próprio poderia fazer este favor ao país, mas com uma
condição: a saída das comissões e da Mesa da Câmara de todos os
deputados enroscados com a Justiça. Afinal, lá estão até condenados em
última instância. Alves não deve topar porque, nessa hipótese, ele
próprio não poderia ser presidente da Câmara.
Alguém
dirá, e acho o argumento pertinente: “Mas espere aí, Reinaldo! Cobrar a
saída de Genoino e João Paulo faz sentido. Afinal, já são condenados em
última instância; os outro ainda podem vir a ser inocentados”. É
verdade. Até que não se chegue à decisão da instância final, as pessoas
são inocentes. Eu só estou sendo lógico e lembrando que não dá para
aplicar penas a pessoas condenadas em tribunais informais, não é mesmo?
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