MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Carros da China recebem ao menos 150 adaptações para vender no Brasil


Veja as diferenças de gosto entre chineses e brasileiros; assista ao vídeo.
Fábricas no Brasil são a nova estratégia de marketing das montadoras.

Priscila Dal Poggetto Do G1, em Wuhu (China) - a jornalista viajou a convite da Chery do Brasil

Os carros globais são a saída competitiva das montadoras para reduzir custos de produção e de pesquisa e desenvolvimento. Mas isso não significa que eles sejam exatamente os mesmos em cada país onde são vendidos. Como cada mercado possui um gosto específico, as adaptações são necessárias para o modelo ser aceito. No caso das empresas chinesas, que trabalham com o argumento de carros baratos e completos, elas chegam a alterar mais de 150 componentes para agradar o brasileiro.
O G1 conferiu na China as diferenças mais nítidas entre o gosto do chinês e do brasileiro.
Nas ruas de cidades metropolitanas como Xangai ou mesmo no interior, como em Wuhu e
Hangzhuo, o acabamento dos bancos e tapeçaria dos carros é, na maioria das vezes, claro. Quando chinês opta por um acabamento escuro, logo se vê no estofamento dos bancos as mais inusitadas estampas.
Se o chinês opta por detalhe escuro no carro, vai querer detalhes diferenciados (Foto: Bufalos/Chery/Divulgação)Se o chinês opta por detalhe escuro no carro, vai
querer detalhes diferenciados
(Foto: Bufalos/Chery/Divulgação)
Montadoras como Chery e Jac Motors apontam como a primeira mudança exatamente este acabamento. “Não tem jeito, chinês gosta de tudo claro no interior, só que no Brasil isso não vende”, afirma o presidente da Jac Motor, Sergio Habib. Normalmente, quem faz essa pesquisa inicial de perfil de produto é o departamento de marketing da montadora.
Apesar disso, sobre o tipo de tecido, o chinês só se preocupa com a cor, mas não se importa com a textura. “O tecido dos bancos tem que ter toque aveludado para o brasileiro”, diz o gerente de marketing da Chery do Brasil, Carlos Eduardo Lourenço. No console central, chinês também adora um detalhe colorido. No Brasil, por outro lado, a preferência é por um conjunto mais discreto.
Já o volante é um componente que faz toda a diferença na chamada “tropicalização” do carro, algo que o chinês não se interessa muito. De acordo com Lourenço, o volante na China pode ser de plástico mais rígido, já o brasileiro exige um volante com pegada macia. Quanto mais parecido com o de um modelo de luxo, melhor. “Isso é de extrema importância na adaptação, porque o volante é o contato direto do motorista com o carro”, diz o gerente de marketing.
A Jac Motors muda até o limpador de para-brisa, para diminuir o barulho de atrito, e o ar-condicionado. Neste caso, o compressor e o radiador foram escolhidos especificamente por causa do calor do Brasil, especialmente, no Nordeste, onde a companhia quer concentrar as vendas.
Suspensão mole e marchas longas
Outra característica dos carros na China é a suspensão bem mole. Embora o brasileiro também estranhe suspensões mais rígidas, especialmente nos carros esportivos, não chega ao ponto “maria mole” que o chinês prefere. A relação das marchas também muda. Os chineses valorizam trocas mais longas, enquanto, no Brasil, o ajuste é para trocas mais curtas.
Outro ponto importante é o motor flex, que não existe para o mercado chinês. Todas as montadoras chinesas acabaram desenvolvendo localmente a adaptação do motor e de outros componentes para receber etanol.
Modelo G5 da linha premium Riich, do grupo Chery, oferece sistema para acomodar pernas (Foto: Priscila Dal Poggetto/G1)Modelo G5 da linha premium Riich, do grupo Chery,
oferece sistema para acomodar pernas
(Foto: Priscila Dal Poggetto/G1)
Sedã X hatch
Outra curiosisade chinesa é a preferência por sedãs. E quanto maior, melhor. Tanto é que muito carros de luxo trazem versões mais “alongadas”. Um deles, por exemplo, é o Mercedes-Benz Classe E lançado em abril no Salão de Xangai. O sedã oferece 14 centímetros a mais para as pernas dos passageiros se acomodarem nos assentos traseiros do veículo. Já o brasileiro prefere carro hatch, afirmam as montadoras.
No quesito “carroceria”, o único gosto que “bate” entre brasileiros e chineses é a tendência por SUVs. No caso do Brasil, o tamanho do carro é importante como um fator psicológico. Já na China, é uma necessidade, porque no país neva bastante. “Os SUVs estão ficando mais populares porque na China neva, é algo necessário. Mas a classe média chinesa está com o poder aquisitivo maior, isso ajuda", afirma o presidente da Jac Motors, Sergio Habib.
Há ainda soluções consideradas “estranhas” aqui no Brasil, mas que são itens de alto padrão
na China. Um exemplo está no modelo G5 da linha premium Riich, do grupo Chery, que oferece um buraco no banco do passageiro dianteiro, caso a pessoa que vai sozinha no banco traseiro queira esticar as pernas. A ideia é trazer conforto àqueles que só andam com motorista.
A resistência por produtos chineses vem diminuindo, mas não está plena. Vamos focar na
fábrica brasileira."
Carlos Eduardo Lourenço, gerente de marketing da Chery do Brasil
O marketing das fábricas
Todo o investimento para adaptar os carros para o Brasil, contudo, não é suficiente para convencer o cliente brasileiro sobre os produtos oriundos da China. Tanto a Jac Motors quanto a Chery ainda não ganharam participação expressiva no mercado brasileiro, como tanto temiam as montadoras com instalações no país. Apesar dos preços baixos oferecidos em suas categorias, os modelos chineses ainda enfrentam o receio do mercado em relação à qualidade, pós-venda e durabilidade.
Somado a isso, o novo programa do governo para o setor automobilístico, o Inovar Auto, torna impraticável trazer carros ao país por preços competitivos para os segmentos que as chinesas querem atingir. A saída, então, para fabricantes como Chery, Jac Motors, Effa Motors, Geely, Great Wall, Brilliance, entre tantas outras que almejam o mercado brasileiro, é a construção de fábricas locais.
“A resistência por produtos chineses vem diminuindo, mas não está plena. Vamos focar na fábrica brasileira. Acreditamos que com a produção local isso vá mudar, como a Hyundai fez tacitamente”, exemplifica Carlos Eduardo Lourenço, da Chery, que relembra que os modelos sul-coreanos também sofreram com a resistência do consumidor no Brasil.
Jac S5 no Salão de Xangai (Foto: Priscila Dal Poggetto/G1)Jac Motors é uma das empresas chinesas com
fábrica em construção no Brasil
(Foto: Priscila Dal Poggetto/G1)
De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), nos quatro primeiros meses deste ano a Jac Motors vendeu 6.268 veículos e teve 0,57% de participação no mercado, ficando com o 14º lugar no ranking de vendas.
Já a Chery aparece na 20ª colocação com 0,13% de market share, com 1.458 unidades. Como comparação, a sul-coreana Hyundai já se define na 5ª colocação, com 64.524, um efeito claro do sucesso de vendas de sua família de entrada HB20, HB20X e HB20S, os primeiros modelos da marca fabricados localmente.
O sócio-diretor da Roland Berger e especialista da área automotiva, Stephan Keese, confirma o interesse de diversas marcas chinesas. “Os mercados a Oeste, mais maduros, não são uma prioridade para os fabricantes chineses, uma vez que seus produtos ainda não são competitivos com os padrões nos EUA e Europa, logo, o foco fica nos mercados emergentes – onde ainda há espaço para modelos com menor nível de sofisticação”, destaca Keese.

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