MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 12 de maio de 2013

Empresas criam 'canto da mamãe' para funcionária tirar leite para filhos


Lactantes usam sala de apoio e levam leite para seus filhos no fim do dia.
Com iniciativa, mulheres se adaptam melhor ao ritmo de trabalho.

Pâmela Kometani Do G1, em São Paulo

Viviane, Cintia e Maria Elisa utilizam as salas de apoio à amamentação nas empresas em que trabalham  (Foto: Pâmela Kometani/G1; Divulgação/BNDES; Divulgação/Agência Petrobras)Viviane, Cintia e Maria Elisa utilizam as salas de apoio à amamentação nas empresas em que trabalham (Foto: Pâmela Kometani/G1; Divulgação/BNDES; Divulgação/Agência Petrobras)
Há um mês, de segunda a sexta-feira, duas vezes por dia, Viviane Constante de Sousa, de 29 anos, vai até o 'Canto da Mamãe' do Itaú Unibanco, em São Paulo, para retirar seu leite e reservar o alimento para a pequena Maitê, de 8 meses. Na sala de apoio à amamentação, ela consegue armazenar o leite em um freezer, que é levado para a casa no fim do expediente, e depois segue para a escolinha da bebê no dia seguinte.
“Saber que poderia usar o espaço me deixou mais tranquila para voltar ao trabalho. Depois de passar sete meses em casa, senti falta do cheiro e da pele da Maitê. Passei dez dias chorando de saudade”, conta. Além de retirar o leite, ela ainda amamenta a bebê duas vezes por dia e durante a madrugada, a cada três horas.

Atuando como secretária da superintendência comercial, ela acredita que a possibilidade de usar o espaço deixou seu dia a dia no trabalho mais fácil. “Sei que vou conseguir desempenhar minha função e quando sentir o peito cheio ou estiver com dor posso retirar o leite”, afirma.
Viviane retira o leite duas vezes por dia (Foto: Pâmela Kometani/G1)Viviane retira o leite duas vezes por dia
(Foto: Pâmela Kometani/G1)
Com o útero retrovertido e ovário policístico, Viviane soube que talvez teria que esperar até um ano e meio para engravidar. Mas, três meses após a notícia, ela descobriu que estava grávida. Como tinha a menstruação irregular por causa dos problemas, ela não prestou atenção nos sinais da gravidez. A confirmação veio com um exame de sangue feito na própria empresa. “Estava sentindo muitas dores nos seios e me matava na academia, porque achava que estava gordinha”, diz.

No seu primeiro ultrassom, mais uma surpresa: a gestação já tinha três meses e, além de ouvir o batimento cardíaco, Viviane já pode ver o corpinho de Maitê em formação. Fazendo as contas, ela descobriu que tinha engravidado uma semana após parar o anticoncepcional. “A verdade é que foi no dia do aniversário do nosso casamento”, relembra.

Agora, Viviane pretende manter a amamentação de Maitê até quando tiver leite. “Ela chora na escolinha quando meu leite termina. Meu primeiro sonho era engravidar e o segundo era amamentar”, conta.
Cintia armazena seu leite em um freezer no BNDES (Foto: Divulgação/BNDES)Cintia armazena seu leite em um freezer
(Foto: Divulgação/BNDES)
Retirada do leite pela 2ª vez
Cintia Ruiz, de 33 anos, advogada do departamento de fontes alternativas de energia do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) está utilizando a sala de apoio à amamentação da empresa, conhecida como ‘Espaço Deleite’, pela segunda vez.

Mãe de dois filhos, o primeiro com 2 anos e 10 meses e a segunda com 7 meses, ela usa a sala uma vez por dia, há um mês.  “Você fica com uma consciência mais tranquila sabendo que vai conseguir conciliar o trabalho com a amamentação”, conta.

Ela relembra que conversando com colegas mais antigas, soube que algumas utilizaram o banheiro para retirar o leite antes da implementação da sala, em 2009. “Se você pensar que seu peito vai encher e você vai ter que tirar no banheiro ou ficar com ele doendo é horrível, nem consigo imaginar, deve ser muito desconfortável."

Além de usar a sala de apoio à amamentação, Cintia ainda tem o benefício do abono aleitamento, que oferece flexibilidade na carga horária das funcionárias que retornam de licença maternidade. Na prática, as mães podem reduzir a jornada em uma hora durante seis meses, após o retorno da licença.
Maria Elisa na sala de apoio à amamentação na Bahia (Foto: Divulgação/Petrobras)Maria Elisa na sala de apoio à amamentação na
Bahia (Foto: Divulgação/Agência Petrobras)
Satisfação pessoal
Trabalhando como dentista na Petrobras na Bahia, Maria Elisa Teixeira Oliveira, de 31 anos, acompanhou de perto, e na prática, o aumento do uso da sala de apoio à amamentação da empresa. Ela utilizou o espaço em 2010, por cinco meses, e há três voltou a frequentar o local, com a chegada de seu segundo filho.

“No início poucas pessoas utilizavam, eu era a única. Mas, depois começamos a informar sobre o uso da sala e também sobre os benefícios da amamentação. Pode parecer uma bobagem, mas a pessoa se sente acolhida”, conta.

Maria Elisa lembra que a volta ao trabalho após o nascimento do bebê representa uma quebra abrupta do convívio da mãe e do bebê, que até então passam a maioria do tempo juntos. “Você passa 6 meses junto e de uma hora para outra se afasta. É um conforto saber que você vai poder saciar o filho de alguma forma.”

Para ela, a sala traz conforto e melhora a cabeça para trabalhar. “Temos que desenvolver essa outra faceta, porque você não é apenas mãe, também é uma profissional e isso traz orgulho e satisfação pessoal”, ressalta.
Estela utilizou a sala de apoio por 3 meses (Foto: Divulgçaão/Brasilprev/Luiz Doro)Estela utilizou a sala de apoio por 3 meses
(Foto: Divulgçaão/Brasilprev/Luiz Doro)
Planejamento
Estela Haikawa dos Santos, de 32 anos, analista de processos da Brasilprev, usou a sala de apoio à amamentação da empresa por 3 meses, até sua filha completar 10 meses de idade. Hoje, ela tem 1 ano e 4 meses. “Foi tudo planejado, alinhado ao meu momento na carreira.”

Para ela, ter a licença-maternidade de seis meses, além de mais um mês de férias, foi muito importante para o desenvolvimento do bebê. “Ela começou a ir para a escola um pouco mais madura. Ela já não era tão frágil como um bebê de 4 meses”, complementa.

O retorno ao trabalho foi gradual, respeitando seu tempo de adaptação, sem deixar a amamentação e o tempo com a filha de lado. “Todos entendem que é um pouco difícil. Mas, a sala contribuiu para me deixar mais tranquila no trabalho.”

Amamentação
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que as crianças devem receber aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade. A partir daí, os alimentos complementares, como sopas e papinhas, podem ser inseridos com a manutenção do aleitamento. A OMS ainda recomenda a amamentação até o bebê completar 2 anos.

O artigo nº 396 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) prevê que a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a dois descansos especiais, de meia hora cada um, para amamentar o filho até que ele complete 6 meses. Ainda está previsto que quando a saúde do filho exigir, o período de 6 meses poderá ser estendido.
As mães Gabriela, Beatriz e Cynthia na sala de apoio do BNDES (Foto: Divulgação/BNDES)As mães Gabriela, Beatriz e Cynthia na sala de
apoio do BNDES (Foto: Divulgação/BNDES)
“Esses descansos são super discutidos porque algumas empresas não aceitam negociação e não permitem que a funcionária entre mais tarde ou saia mais cedo. Por outro lado, alguns juízes já determinaram que essa prática é válida”, diz a advogada Fabíola Marques, do escritório Abud e Marques Advogados Associados.

Salas de apoio
O Ministério da Saúde, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a implementação das salas de apoio à amamentação nas empresas em 2010. As salas possuem estações de coleta de leite, com poltrona, ordenhadeira elétrica, material de higienização pessoal, freezer, toucas, máscaras, etiquetas para identificação dos recipientes e pias para lavar as mãos.

As mães ainda recebem um kit de transporte com bolsa térmica, fio conector, gelo rígido e frascos para armazenar o leite.
Na salas, as profissionais podem retirar o leite, que é armazenado em frascos previamente esterilizados. O leite é mantido em um freezer e as mães levam tudo em uma frasqueira com gelo rígido para manter o leite refrigerado durante o transporte.
Sala de apoio à amamentação do Itaú-Unibanco (Foto: Divulgçaão/Itaú-Unibanco)Sala de apoio à amamentação do Itaú Unibanco
Foto: Divulgçaão/ItaúUnibanco)
Práticas nas empresas
O Itaú Unibanco possui a sala de apoio à amamentação desde 2007. Em 2012, o espaço teve 3.560 utilizações. “Antes da implantação, as colaboradoras retiravam o leite materno no ambulatório ou até no vestiário da academia. Elas dependiam dos refrigeradores para guardar o leite. Percebíamos que não era o ideal e que poderíamos fazer melhor”, diz Sergio Fajerman, diretor da área pessoas do Itaú Unibanco.

O BNDES possui duas salas de apoio e quatro estações de coleta. Desde a criação dos espaços, em setembro de 2009, os locais foram utilizados por 100 mulheres, que totalizaram 1.546 extrações de leite humano, sendo que 13 foram doadoras de leite humano para o BLH Fernandes Figueira. O investimento inicial foi em torno de R$ 20 mil e o custo de manutenção mensal é inferior a R$ 500.

“Elas retornam mais seguras, menos ansiosas e com menor sensação de abandono de seus filhos. As mulheres ficam em melhores condições físicas e psíquicas para a execução do trabalho”, afirma Ana Paula Mendonça, chefe do departamento médico da FAPES (Fundação de Assistência e Previdência Social do BNDES).

A primeira sala de apoio à amamentação da Petrobras foi instalada no segundo semestre de 2009, na sede da empresa no Rio de Janeiro. Segundo a instituição, a prática está sendo expandida para outras cidades do país. “O princípio básico foi o de atender uma necessidade real das mulheres que retornam do período de licença maternidade”, afirma Janice Dias, gerente de orientações e práticas de responsabilidade social da empresa.
Sala de apoio à amamentação da Brasilprev (Foto: Divulgação/Brasilprev/Luiz Doro)Sala de apoio à amamentação da Brasilprev
(Foto: Divulgação/Brasilprev/Luiz Doro)
Em 2009, a Brasilprev lançou o 'Programa de Promoção da Saúde' que incentivava o aleitamento materno. Após uma reestruturação em 2012, foi criado o ‘Espaço da Mamãe’, que serve para acompanhar o período pós licença-maternidade e a amamentação. Desde 2009, 20 funcionárias utilizaram o espaço. “O papel de ser mãe não termina depois do período da licença, então vemos que as colaboradoras se sentem mais satisfeitas com este auxílio”, ressalta Rosiney Acosta, gerente de pessoas da Brasilprev.

Na Natura, a sala de amamentação surgiu junto com o berçário há 21 anos. Atualmente, o berçário conta com 176 crianças. “Graças à iniciativa, percebemos que grande parte das mães acaba amamentando seus bebês por mais tempo, já que pode sair a qualquer hora do dia para alimentá-lo”, afirma Juliana Wei, gerente de remuneração, benefícios e expatriados da Natura.

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