Substância presente na composição do produto era adicionada em fraude.
Responsável por laboratório da Univates explica como ela foi detectada.
“A análise de ureia não é feita rotineiramente na indústria”, garante a responsável técnica pelo Laboratório do Leite da universidade, órgão credenciado pelo Ministério da Agricultura e pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) para análises.
De acordo com as investigações do MP, a adulteração ocorria entre a compra do leite cru na propriedade rural e o transporte para os postos de resfriamento. No meio do caminho, o produto era levado para galpões, onde era misturado a água e ureia – produto que contém em sua composição formol, considerado cancerígeno – para aumentar o volume.
Conforme Júlia, a ureia está presente normalmente na composição do leite. O tipo de exame que detecta a concentração dessa substância no produto é, na maioria das vezes, feito para determinar a dieta de cada animal, com a finalidade de melhorar a qualidade do leite produzido pelo rebanho.
“A gente faz esse exame nutricional do leite de cada animal para definir a dieta da alimentação do gado leiteiro. Não é um método simples, de bancada, que utilize materiais de laboratório. É necessária a aquisição de equipamentos específicos para codificar esse elemento (ureia). Por isso é muito difícil ser encontrado na indústria”, reforça Júlia.
A pedido do Ministério Público, o laboratório da Univates ficou encarregado de analisar a suspeita de adulteração no leite cru praticada por um grupo de transportadores autônomos. As amostras passaram por uma série de análises físico-químicas, que comprovaram a adição.
Segundo uma cooperativa de Santa Rosa, no Noroeste do estado, o leite cru passa por pelo menos dois tipos de testes antes de chegar ao local. O primeiro é feito pelo transportador, ainda na propriedade rural. O segundo é realizado quando o caminhão que transporta o leite chega na cooperativa. Se algo passar por essa fase, ainda pode ser constatado pela indústria, no recebimento do produto.
A veterinária do Laboratório de Inspeção do Leite da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Andreia Troller, diz que é importante realizar todos os tipos de testes disponíveis. Mas ela alerta que isso não significa que a presença de aditivos como a ureia seja percebida.
“Essa fraude por ureia é um pouco mais difícil de ser detectada, independentemente da quantidade que for adicionada. Não existe um teste rápido para identificar a presença da ureia”, afirma ela. “Eu acho que é um dos grandes entraves que a gente tem. A falta de testes rápidos que detectem quantidades baixas, infinitamente pequenas de adição de substâncias, e a questão toda relacionada ao tempo que é necessário para fazer essas análises”, acrescenta.
De acordo com o chefe da Divisão de Inspeção de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Clovis Serafini, o órgão pode adotar novos parâmetros em relação a quantidade de ureia encontrada nas amostras de leite para tentar detectar possíveis adulterações.
“A ureia é uma substância intrínseca do leite, fisiologicamente você encontra um teor de ureia no leite, inclusive esse teor pode variar muito. O ministério, junto com a academia, vai estudar um parâmetro para se chegar e a gente ter, a partir de tal limite, um indício de fraude”, diz Clovis.
No total, sete marcas de leite tiveram lotes recolhidos do mercado (veja a lista abaixo). Até o momento, nove pessoas foram presas, uma empresa de laticínios foi interditada e três postos de refrigeração foram fechados no Rio Grande do Sul. Duas pessoas foram liberadas após depoimento. O MP estima que 100 milhões de litros de leite tenham sido adulterados nos últimos 12 meses no estado.
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