MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 11 de maio de 2013

Indústria não faz teste para detectar nível de ureia no leite, diz especialista


Substância presente na composição do produto era adicionada em fraude.
Responsável por laboratório da Univates explica como ela foi detectada.

Do G1 RS

Encontrada no leite adulterado no Rio Grande do Sul, a ureia não é uma substância facilmente identificada nos exames de controle de qualidade usados pela indústria de laticínios. Quem afirma é química Júlia Tischer, do laboratório da Univates, em Lajeado, onde foram feitas as análises que detectaram a fraude revelada pelo Ministério Público (MP) na última quarta-feira (8).
“A análise de ureia não é feita rotineiramente na indústria”, garante a responsável técnica pelo Laboratório do Leite da universidade, órgão credenciado pelo Ministério da Agricultura e pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) para análises.
De acordo com as investigações do MP, a adulteração ocorria entre a compra do leite cru na propriedade rural e o transporte para os postos de resfriamento. No meio do caminho, o produto era levado para galpões, onde era misturado a água e ureia – produto que contém em sua composição formol, considerado cancerígeno – para aumentar o volume.
Conforme Júlia, a ureia está presente normalmente na composição do leite. O tipo de exame que detecta a concentração dessa substância no produto é, na maioria das vezes, feito para determinar a dieta de cada animal, com a finalidade de melhorar a qualidade do leite produzido pelo rebanho.
“A gente faz esse exame nutricional do leite de cada animal para definir a dieta da alimentação do gado leiteiro. Não é um método simples, de bancada, que utilize materiais de laboratório. É necessária a aquisição de equipamentos específicos para codificar esse elemento (ureia). Por isso é muito difícil ser encontrado na indústria”, reforça Júlia.
A pedido do Ministério Público, o laboratório da Univates ficou encarregado de analisar a suspeita de adulteração no leite cru praticada por um grupo de transportadores autônomos. As amostras passaram por uma série de análises físico-químicas, que comprovaram a adição.
“A ureia está presente em no leite em teores normais de 10 até 16 miligramas por decilitro. E quando há teores muito acima isso é caraterístico de fraude. Nos ensaios identificou-se a presença de altos níveis de ureia e formol”, conta ela.
Segundo uma cooperativa de Santa Rosa, no Noroeste do estado, o leite cru passa por pelo menos dois tipos de testes antes de chegar ao local. O primeiro é feito pelo transportador, ainda na propriedade rural. O segundo é realizado quando o caminhão que transporta o leite chega na cooperativa. Se algo passar por essa fase, ainda pode ser constatado pela indústria, no recebimento do produto.
A veterinária do Laboratório de Inspeção do Leite da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Andreia Troller, diz que é importante realizar todos os tipos de testes disponíveis. Mas ela alerta que isso não significa que a presença de aditivos como a ureia seja percebida.
“Essa fraude por ureia é um pouco mais difícil de ser detectada, independentemente da quantidade que for adicionada. Não existe um teste rápido para identificar a presença da ureia”, afirma ela. “Eu acho que é um dos grandes entraves que a gente tem. A falta de testes rápidos que detectem quantidades baixas, infinitamente pequenas de adição de substâncias, e a questão toda relacionada ao tempo que é necessário para fazer essas análises”, acrescenta.
De acordo com o chefe da Divisão de Inspeção de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Clovis Serafini, o órgão pode adotar novos parâmetros em relação a quantidade de ureia encontrada nas amostras de leite para tentar detectar possíveis adulterações.
“A ureia é uma substância intrínseca do leite, fisiologicamente você encontra um teor de ureia no leite, inclusive esse teor pode variar muito. O ministério, junto com a academia, vai estudar um parâmetro para se chegar e a gente ter, a partir de tal limite, um indício de fraude”, diz Clovis.
No total, sete marcas de leite tiveram lotes recolhidos do mercado (veja a lista abaixo). Até o momento, nove pessoas foram presas, uma empresa de laticínios foi interditada e três postos de refrigeração foram fechados no Rio Grande do Sul. Duas pessoas foram liberadas após depoimento. O MP estima que 100 milhões de litros de leite tenham sido adulterados nos últimos 12 meses no estado.

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