MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Irmandades católicas sofrem esvaziamento

Davi Lemos e Meire Oliveira A TARDE

  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    Ao contrário de muitas outras, a irmandade do Rosário dos Pretos continua forte
Criadas na Idade Média para que fiéis leigos buscassem o caminho da perfeição, segundo modelo de santos que foram   padres, freis ou freiras, as irmandades católicas, devoções e ordens terceiras vêm perdendo representatividade tanto no seio da Igreja Católica como na sociedade.
Em Salvador e no Recôncavo baiano, elas são atualmente 37, mas cinco estão em processo de extinção.
Algumas possuem templos próprios, como as devoções e irmandades do Senhor do Bonfim e dos Homens Pretos ou a Ordem Terceira Franciscana. Outras sobrevivem, principalmente, devido à parceria com órgãos que cuidam do patrimônio histórico.
Segundo o delegado episcopal para as irmandades, padre Lázaro Muniz, entre as  que serão  extintas estão as de Bom Jesus da Paciência e São Pedro Velho - ligadas à Paróquia de São Pedro, na Piedade - e a da Santíssima Trindade, em Água de Meninos.
Substituição  - Tanto padre Lázaro quanto dom Gregório Paixão, atualmente bispo de Petrópolis (RJ) e doutor em antropologia, apontam que muitos serviços antes realizados pelas irmandades são atualmente desenvolvidos por pastorais e novos movimentos e comunidades católicas.
"Após o Concílio Vaticano II, mostrou-se que os leigos também poderiam alcançar a santidade, sem necessariamente vestir hábitos, como os terceiros e membros de irmandades", disse o bispo.
O esvaziamento das irmandades as fez entregar serviços mantidos em decorrência de suas atividades associativas. "Hospitais das santas casas foram entregues a organismos leigos",  diz D. Gregório.
"Hoje, temos dificuldade até para manter a festa do Bom Jesus dos Navegantes", disse Expedito Sacramento, presidente da Devoção ao Bom Jesus dos Navegantes, na Boa Viagem. Atualmente, a mais antiga irmandade na Bahia é a  do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio Além do Carmo, fundada em 1622.
Essenciais - Fundamentais para a sociedade colonial como parte da estrutura do Império, as irmandades eram  grupos que tinham funções importantes em vários aspectos. No período entre o século XVIII e início do XIX, 90% da população estava vinculada a uma determinada irmandade.
As atividades funerárias, assistenciais, de lazer, além da questão religiosa, eram aliadas às sindicais e políticas de cada grupo. "Sem elas, a sociedade colonial não poderia existir. Eram organizadas e mantidas por integrantes. Se algum morresse e deixasse filhos, estes eram cuidados pela irmandade. Algumas funcionavam como bancos, tinham imóveis", explicou o doutor em antropologia Renato da Silveira.
Naquele período, as que figuravam como mais importantes e as que tinham mais poder eram a  do Carmo, a Ordem 3ª de São Francisco e a da Santa Casa da Misericórdia. Elas também possuíam imóveis adquiridos  ou legados pelos próprios  irmãos para a manutenção da entidade.
Valor social - As irmandades eram também um espaço de liberdade. As católicas foram, eventualmente, também um espaço de expressão para o afrobrasileiro. "Os compromissos podiam ser com os presos, com os escravos, para compra de alforrias. A capela de Nossa Senhora do Rosário de João Pereira serviu como depósito de armas em revoltas da época. Elas também serviam, em alguns casos, para preservar tradições religiosas como o candomblé", diz Silveira.
A redução do número de membros, dos grupos e da sua importância no cenário social e político tem início na segunda metade do século XIX. "Com a modernização e criação de representações de segmentos sociais, como associações e sindicatos, algumas funções foram se perdendo", completa.
Novos grupos - Apesar da perda de representatividade, em algumas paróquias de Salvador se identifica a criação de novas irmandades. A mais recente é a de Nossa Senhora da Piedade, fundada em 1997 e atuante na Capela da Polícia Militar, nos Dedenzeiros.
Outras previstas são: uma voltada ao culto a São Jorge, na Catedral Basílica, uma no Pau da Lima e uma na Paróquia de São José (em Amaralina).

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