MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Marina vira alvo do microfascismo gay

Marina vira alvo do microfascismo gay, assim como adversários de Marina já foram alvos do microfascismo ambiental. Ou: Eles continuam partidários do “ódio que liberta”

Vivemos tempos sombrios, em que os chefes de supostas “causas humanistas” exigem que os participantes do debate público apresentem “provas negativas”. Assim, as pessoas são instadas a provar que NÃO SÃO ambientalmente incorretas, que NÃO SÃO racistas, que NÃO SÃO homofóbicas, que NÃO SÃO machistas, que NÃO SÃO contra os ciclistas… Em suma, torna-se necessário, antes de ser aceito no mundo dos vivos, provar o que não se é para que, então, se possa ser alguma coisa.
A ex-senadora Marina Silva sempre foi beneficiária dessa patrulha — no caso, ela carrega a bandeira ambiental. É, por exemplo, uma espécie de sacerdotisa da demonização do agronegócio no Brasil. Vá perguntar à líder da Rede da Sustentabilidade, partido que está em criação, o que pensa sobre os escandalosos desmandos da Funai no que diz respeito à demarcação de áreas indígenas, por exemplo. E, com absoluta certeza, sobrarão críticas aos proprietários rurais, ainda que a fundação tenha inventado a presença de “povos tradicionais” em 15 áreas do Paraná que nunca tinham visto um penacho de índio. Durante o debate sobre o novo Código Florestal, Marina foi a principal beneficiária política da ignorância específica da larga maioria. O relatório de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) nem sequer foi lido pela imprensa. Bastava Marina decretar a sua “fatwa” contra o texto, e quilômetros de reportagem ganhavam os sites, os jornais, as revistas — atribuindo à proposta, inclusive, o que ele não previa. Cansei de apontar isso aqui. No auge da mistificação, chegou-se a dizer que o novo código estimularia ocupações urbanas irregulares e que facilitaria a ocorrência de tragédias como a de Petrópolis.
Marina Silva passou incólume pela campanha eleitoral de 2010. Não se debateu a viabilidade de suas propostas. A rigor, ela não precisou apresentar um programa de governo nem se posicionar sobre temas como crescimento econômico, taxa de juros, privatizações, desindustrialização… Nada disso era necessário! Afinal, ela era uma pessoa boa, que defendia a natureza contra os dragões da maldade da agricultura e da pecuária. A agropecuária é aquela atividade econômica que impede o país de quebrar e que responde, por isso, pela solvência econômica dos setores mais simpáticos ao marinismo, como o financeiro. Parece que as pessoas que vivem de negociar dinheiro — é o que fazem os bancos — se convenceram dos seus supostos pecados. E resolveram, então, se ajoelhar no grão de milho do ambientalismo para se penitenciar.
Pois é… Ocorre que existe uma hierarquia nesses microfascismos que exigem a prova negativa para decretar a inocência dos debatedores. E, agora está demonstrado, a patrulha gay é mais influente na imprensa do que a patrulha ambiental. Em 2010, Marina já havia sido alvo da milícia ateia porque NÃO se posicionou a favor da descriminação do aborto. Para esse microfascismo, só religiosos são contrários à interrupção da gravidez, o que é falso. Ela defendeu que se fizesse um plebiscito… Foi detectada pelo radar da patrulha gay porque NÃO defendeu o casamento homossexual, embora não tenha se oposto a ele. Foram investidas leves. Não havia ainda o “Fator Feliciano”.
Pegaram pesado
Desta vez, pegaram pesado. Numa palestra em Recife, na terça-feira, Marina comentou o caso Feliciano. Não disse, destaque-se, coisa muito distinta do que escrevi aqui tantas vezes: ele não está preparado para o cargo, não tem especial vinculação com a causa dos direitos humanos, mas não se deve associar a sua opinião ao fato de ser evangélico. Segundo Marina, o que é exato, Feliciano mais “está sendo criticado por ser evangélico do que por suas posições políticas equivocadas”.
Notem que ela classifica de “equivocadas” as opiniões do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Mas não bastou, não! Imediatamente teve início uma campanha nas temidas redes sociais contra Marina. Sim, a ex-senadora está certa ao afirmar que suas palavras foram retiradas do contexto, ela acabou demonizada por aquilo que ela não disse. E ela, obviamente, não disse que o deputado estava sendo hostilizado só por ser evangélico.
Alguém poderia objetar: “Marina é a melhor prova de que Marina está errada; afinal, ela própria é evangélica, mas é muito bem-tratada na imprensa”. Sim, mas isso prova o contrário, ora essa! Como ignorar que certa má-consciência a vê como uma iluminada, APESAR de evangélica? De resto, ela tem uma causa considerada correta — o ambientalismo —, e isso corrigiria aquele “defeito”. Já o deputado Feliciano…
Marina teve de emitir nota, divulgar vídeos com trechos da entrevista, mobilizar assessores etc. Tudo mais ou menos em vão. Uma notícia publicada hoje no Estadão Onine dá conta do estágio a que chegou a patrulha. A reportagem informa sobre um show ocorrido nesta quinta-feira para colher assinaturas em favor da criação da Rede. Alguns artistas estavam lá e coisa e tal. Título do texto: “Em show de apoio à Rede, Marina evita falar de Feliciano”. Considerou-se, assim, que a principal notícia é aquilo que ELA NÃO FALOU.
NOTA À MARGEM – Segundo informa o texto, Marina declamou no evento o que foi chamado de “poesia”, para uma plateia de “artistas e intelectuais”. Mandou bala: “Que a música de vocês possa inundar os nossos litorais para que possamos pescar em águas profundas com a rede da sustentabilidade”. Barbaridade! Mesmo as metáforas quando em folia alegórica precisam ter uma base referencial para que façam algum sentido. O que será que quer dizer um “litoral inundado” (seja lá do que for) para que se possa “pescar em águas profundas” — e, ainda por cima, “com rede”? Não faço a menor ideia. Mas os presentes adoraram e, como sempre ocorre quando se trata de Marina, a significação é sempre inversamente proporcional ao sentido…
Volto ao ponto
Sim, ela foi e está sendo alvo de uma patrulha estúpida. Prova, assim, do próprio veneno. E não acho isso bom, não! Ao contrário até: acho péssimo. É sinal de que as patrulhas estão se exacerbando e já estão chegando àquela fase em que não poupam nem mais os seus próprios protegidos. Os movimentos autoritários sempre passam por fases de depuração, que é quando se tornam especialmente violentos — ainda que, no caso, seja uma violência de natureza política, ideológica e intelectual.

Caminhando para o encerrando Sim, isso nos remete à senhora Marilena Chaui, a “professora de filosofia petista”, como a chamou Flávio Morgenstern, num excelente texto em que analisa a sua fala destrambelhada, no blog “Implicante”.

Como lembrou Flávio, um nazista não se importa em ser chamado de nazista; um homofóbico não vê mal nenhum em ser chamado de homofóbico; um madeireiro não se incomoda em ser visto como um desmatador. Essas pechas e tachas incomodam justamente aqueles que também repudiam essas práticas ou ideias. Então qual é a tática? Aprisionar o debate entre os que estão de um lado ou de outro: ou nos alinhamos com os donos das causas (por exemplo, a dos que dizem combater a “homofobia”) ou somos homofóbicos. Marina caiu na rede! Mas ela também aprisiona, não é? Afinal, ou defendemos o meio ambiente segundo os seu termos, ou estamos do lado dos madeireiros.

A imprensa brasileira há muito caiu nesse abismo intelectual e moral, com as exceções de praxe. Para que não pareça homofóbica, endossa mesmo as violências institucionais patrocinadas pelo sindicalismo gay, como as havidas na Comissão de Direitos Humanos. Para que não pareça contrária à justiça social, endossa os atos mais destrambelhados do MST… Escolham a causa. E esse procedimento tem uma derivação ainda mais perversa, que abordarei em outro texto.

Até o ano passado, a patrulha ambiental liderava as milícias microfascistas do pensamento. Agora, quem está na vanguarda são o sindicalismo gay e a militância antirreligiosa. Nada impede que, mais adiante, haja uma troca de posições. Esses grupos têm lá as suas diferenças, mas uma coisa os une: o ódio à liberdade em nome da justiça.

Cada um deles, a exemplo de Marilena Chaui, se quer a vanguarda do pensamento. Acreditam, assim, para ficar no vocabulário escolhido por aquela senhora, que seu “ódio” é libertador e que suas “abominações” constituem uma espécie de depuração ideológica da raça humana. Marilena e esses microgrupos são, em suma, fascistas disfarçados de amantes da humanidade.
Por Reinaldo Azevedo

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