Marina vira alvo do microfascismo gay, assim como adversários de Marina já foram alvos do microfascismo ambiental. Ou: Eles continuam partidários do “ódio que liberta”
Vivemos
tempos sombrios, em que os chefes de supostas “causas humanistas”
exigem que os participantes do debate público apresentem “provas
negativas”. Assim, as pessoas são instadas a provar que NÃO SÃO
ambientalmente incorretas, que NÃO SÃO racistas, que NÃO SÃO
homofóbicas, que NÃO SÃO machistas, que NÃO SÃO contra os ciclistas… Em
suma, torna-se necessário, antes de ser aceito no mundo dos vivos,
provar o que não se é para que, então, se possa ser alguma coisa.
A
ex-senadora Marina Silva sempre foi beneficiária dessa patrulha — no
caso, ela carrega a bandeira ambiental. É, por exemplo, uma espécie de
sacerdotisa da demonização do agronegócio no Brasil. Vá perguntar à
líder da Rede da Sustentabilidade, partido que está em criação, o que
pensa sobre os escandalosos desmandos da Funai no que diz respeito à
demarcação de áreas indígenas, por exemplo. E, com absoluta certeza,
sobrarão críticas aos proprietários rurais, ainda que a fundação tenha
inventado a presença de “povos tradicionais” em 15 áreas do Paraná que
nunca tinham visto um penacho de índio. Durante o debate sobre o novo
Código Florestal, Marina foi a principal beneficiária política da
ignorância específica da larga maioria. O relatório de Aldo Rebelo
(PCdoB-SP) nem sequer foi lido pela imprensa. Bastava Marina decretar a
sua “fatwa” contra o texto, e quilômetros de reportagem ganhavam os
sites, os jornais, as revistas — atribuindo à proposta, inclusive, o que
ele não previa. Cansei de apontar isso aqui. No auge da mistificação,
chegou-se a dizer que o novo código estimularia ocupações urbanas
irregulares e que facilitaria a ocorrência de tragédias como a de
Petrópolis.
Marina
Silva passou incólume pela campanha eleitoral de 2010. Não se debateu a
viabilidade de suas propostas. A rigor, ela não precisou apresentar um
programa de governo nem se posicionar sobre temas como crescimento
econômico, taxa de juros, privatizações, desindustrialização… Nada disso
era necessário! Afinal, ela era uma pessoa boa, que defendia a natureza
contra os dragões da maldade da agricultura e da pecuária. A
agropecuária é aquela atividade econômica que impede o país de quebrar e
que responde, por isso, pela solvência econômica dos setores mais
simpáticos ao marinismo, como o financeiro. Parece que as pessoas que
vivem de negociar dinheiro — é o que fazem os bancos — se convenceram
dos seus supostos pecados. E resolveram, então, se ajoelhar no grão de
milho do ambientalismo para se penitenciar.
Pois é…
Ocorre que existe uma hierarquia nesses microfascismos que exigem a
prova negativa para decretar a inocência dos debatedores. E, agora está
demonstrado, a patrulha gay é mais influente na imprensa do que a
patrulha ambiental. Em 2010, Marina já havia sido alvo da milícia ateia
porque NÃO se posicionou a favor da descriminação do aborto. Para esse
microfascismo, só religiosos são contrários à interrupção da gravidez, o
que é falso. Ela defendeu que se fizesse um plebiscito… Foi detectada
pelo radar da patrulha gay porque NÃO defendeu o casamento homossexual,
embora não tenha se oposto a ele. Foram investidas leves. Não havia
ainda o “Fator Feliciano”.
Pegaram pesado
Desta vez, pegaram pesado. Numa palestra em Recife, na terça-feira, Marina comentou o caso Feliciano. Não disse, destaque-se, coisa muito distinta do que escrevi aqui tantas vezes: ele não está preparado para o cargo, não tem especial vinculação com a causa dos direitos humanos, mas não se deve associar a sua opinião ao fato de ser evangélico. Segundo Marina, o que é exato, Feliciano mais “está sendo criticado por ser evangélico do que por suas posições políticas equivocadas”.
Desta vez, pegaram pesado. Numa palestra em Recife, na terça-feira, Marina comentou o caso Feliciano. Não disse, destaque-se, coisa muito distinta do que escrevi aqui tantas vezes: ele não está preparado para o cargo, não tem especial vinculação com a causa dos direitos humanos, mas não se deve associar a sua opinião ao fato de ser evangélico. Segundo Marina, o que é exato, Feliciano mais “está sendo criticado por ser evangélico do que por suas posições políticas equivocadas”.
Notem que
ela classifica de “equivocadas” as opiniões do presidente da Comissão de
Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Mas não bastou, não!
Imediatamente teve início uma campanha nas temidas redes sociais contra
Marina. Sim, a ex-senadora está certa ao afirmar que suas palavras foram
retiradas do contexto, ela acabou demonizada por aquilo que ela não
disse. E ela, obviamente, não disse que o deputado estava sendo
hostilizado só por ser evangélico.
Alguém
poderia objetar: “Marina é a melhor prova de que Marina está errada;
afinal, ela própria é evangélica, mas é muito bem-tratada na imprensa”.
Sim, mas isso prova o contrário, ora essa! Como ignorar que certa
má-consciência a vê como uma iluminada, APESAR de evangélica? De resto,
ela tem uma causa considerada correta — o ambientalismo —, e isso
corrigiria aquele “defeito”. Já o deputado Feliciano…
Marina
teve de emitir nota, divulgar vídeos com trechos da entrevista,
mobilizar assessores etc. Tudo mais ou menos em vão. Uma notícia
publicada hoje no Estadão Onine dá
conta do estágio a que chegou a patrulha. A reportagem informa sobre um
show ocorrido nesta quinta-feira para colher assinaturas em favor da
criação da Rede. Alguns artistas estavam lá e coisa e tal. Título do
texto: “Em show de apoio à Rede, Marina evita falar de Feliciano”. Considerou-se, assim, que a principal notícia é aquilo que ELA NÃO FALOU.
NOTA À MARGEM –
Segundo informa o texto, Marina declamou no evento o que foi chamado de
“poesia”, para uma plateia de “artistas e intelectuais”. Mandou bala: “Que
a música de vocês possa inundar os nossos litorais para que possamos
pescar em águas profundas com a rede da sustentabilidade”.
Barbaridade! Mesmo as metáforas quando em folia alegórica precisam ter
uma base referencial para que façam algum sentido. O que será que quer
dizer um “litoral inundado” (seja lá do que for) para que se possa
“pescar em águas profundas” — e, ainda por cima, “com rede”? Não faço a
menor ideia. Mas os presentes adoraram e, como sempre ocorre quando se
trata de Marina, a significação é sempre inversamente proporcional ao
sentido…
Volto ao ponto
Sim, ela foi e está sendo alvo de uma patrulha estúpida. Prova, assim, do próprio veneno. E não acho isso bom, não! Ao contrário até: acho péssimo. É sinal de que as patrulhas estão se exacerbando e já estão chegando àquela fase em que não poupam nem mais os seus próprios protegidos. Os movimentos autoritários sempre passam por fases de depuração, que é quando se tornam especialmente violentos — ainda que, no caso, seja uma violência de natureza política, ideológica e intelectual.
Sim, ela foi e está sendo alvo de uma patrulha estúpida. Prova, assim, do próprio veneno. E não acho isso bom, não! Ao contrário até: acho péssimo. É sinal de que as patrulhas estão se exacerbando e já estão chegando àquela fase em que não poupam nem mais os seus próprios protegidos. Os movimentos autoritários sempre passam por fases de depuração, que é quando se tornam especialmente violentos — ainda que, no caso, seja uma violência de natureza política, ideológica e intelectual.
Caminhando para o encerrando
Sim, isso nos remete à senhora Marilena Chaui, a “professora de filosofia petista”, como a chamou Flávio Morgenstern, num excelente texto em que analisa a sua fala destrambelhada, no blog “Implicante”.
Como
lembrou Flávio, um nazista não se importa em ser chamado de nazista; um
homofóbico não vê mal nenhum em ser chamado de homofóbico; um madeireiro
não se incomoda em ser visto como um desmatador. Essas pechas e tachas
incomodam justamente aqueles que também repudiam essas práticas ou
ideias. Então qual é a tática? Aprisionar o debate entre os que estão de
um lado ou de outro: ou nos alinhamos com os donos das causas (por
exemplo, a dos que dizem combater a “homofobia”) ou somos homofóbicos.
Marina caiu na rede! Mas ela também aprisiona, não é? Afinal, ou
defendemos o meio ambiente segundo os seu termos, ou estamos do lado dos
madeireiros.
A imprensa
brasileira há muito caiu nesse abismo intelectual e moral, com as
exceções de praxe. Para que não pareça homofóbica, endossa mesmo as
violências institucionais patrocinadas pelo sindicalismo gay, como as
havidas na Comissão de Direitos Humanos. Para que não pareça contrária à
justiça social, endossa os atos mais destrambelhados do MST… Escolham a
causa. E esse procedimento tem uma derivação ainda mais perversa, que
abordarei em outro texto.
Até o ano
passado, a patrulha ambiental liderava as milícias microfascistas do
pensamento. Agora, quem está na vanguarda são o sindicalismo gay e a
militância antirreligiosa. Nada impede que, mais adiante, haja uma troca
de posições. Esses grupos têm lá as suas diferenças, mas uma coisa os
une: o ódio à liberdade em nome da justiça.
Cada um
deles, a exemplo de Marilena Chaui, se quer a vanguarda do pensamento.
Acreditam, assim, para ficar no vocabulário escolhido por aquela
senhora, que seu “ódio” é libertador e que suas “abominações” constituem
uma espécie de depuração ideológica da raça humana. Marilena e esses
microgrupos são, em suma, fascistas disfarçados de amantes da
humanidade.
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