MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 18 de maio de 2013

'Membros da família', pets têm funeral em cemitério e crematório em MG


Mais de 9 mil bichos foram recolhidos pela SLU em BH, em 2012.
Locais disponibilizam ainda espaço para velório.

Pedro Cunha Do G1 MG

Para algumas famílias, os bichos de estimação, conhecidos como “pets”, são como um membro da família. Atualmente, entre vários cuidados que os donos se dispõem a ter com seus companheiros, há um respeito maior até mesmo no momento da despedida, quando os animais são sepultados ou cremados, da mesma forma como é feito com os humanos.
Cemitério dos animais fica em Betim, na Região Metropolitana. (Foto: Cemitério dos Animais/ Divulgação)Cemitério dos Animais fica em Betim, na Região Metropolitana. (Foto: Cemitério dos Animais/Divulgação)
Entretanto, esse cuidado com os animais e com o meio ambiente não é unanimidade. Somente em Belo Horizonte, em 2012, mais de 9 mil animais foram recolhidos pela Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (SLU), conforme os dados divulgados.
Em 2013, já são 2.457 animais mortos levados pelo serviço. Eles são encaminhados para um aterro sanitário, localizado na BR-040, na capital mineira. Os animais que morreram devido a alguma doença infecciosa são colocados em um espaço específico, protegido por uma manta que impermeabiliza o solo.

A SLU informou que entre os animais recolhidos estão aqueles que são encontrados mortos em vias públicas, ou os que são sacrificados no Controle de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte. Os números divulgados pela superintendência não incluem os animais que são colocados diretamente no lixo pela população. Segundo a SLU, não há um controle sobre os corpos que são descartados dessa forma.

‘Um membro da família’
Rodeado por serras, na beira da rodovia BR-040, um espaço de cerca de 360 metros quadrados dá lugar a um crematório de animais, em Itabirito, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pretinha, uma cadela vira-lata de médio porte, é quem faz a segurança do local, brinca o funcionário Pedro dos Santos, de 56 anos. Ele relata que já viveu grandes experiências durante pouco mais de um ano que trabalha como operador de forno. “Você tem que se sensibilizar com a situação, com o estado emotivo. São pessoas diferentes, mas com o mesmo objetivo. O cachorro se torna um membro da família”, disse.
Pedro dos Santos e a 'guardiã' do Lumina Pet Memorial, em Itabirito. (Foto: Pedro Cunha/G1)Pedro dos Santos e a 'guardiã' do Lumina Pet Memorial, em Itabirito. (Foto: Pedro Cunha/G1)
Seu Pedro, como é chamado pelos colegas do Lumina Pet Memorial – mais três funcionários do crematório –, trabalha conforme a demanda. Normalmente, são três animais cremados por dia. Com luvas térmicas, máscara, óculos protetores e tapa-ouvidos, o operador se prepara para o expediente. O forno, vindo do sul do país, leva alguns minutos para aquecer. Santos conta que o corpo do animal só pode ser colocado na posição para ser cremado quando o forno atinge os 700°C. Depois que o corpo já está na cabine, as temperaturas podem chegar a até 1200°C.

Desde o início das atividades, em março de 2012, o crematório já recebeu diferentes tipos de animais de estimação. “Canário, iguana, gato, cachorro e coelho”, enumera Pedro dos Santos. Além de operar o forno, o funcionário prepara as cinzas. “Eu recebo o corpo do animal e entrego a urna pronta para o proprietário”, conta. A urna a que Santos se refere é uma pequena caixa de pedra sabão, que carrega o nome do bichinho perdido, além de uma mensagem de conforto. “A saudade e o respeito ficam para sempre”, grava Pedro dos Santos na pedra sabão.
Espaço destinado para o velório de animais. (Foto: Pedro Cunha/G1)Espaço destinado para o velório de animais, em Itabirito.
(Foto: Pedro Cunha/G1)
Ao lado do cômodo onde o forno fica instalado, há um espaço para o velório. Um pequeno caixão com patas de quadrúpedes fica disponível para que os donos que desejarem possam se despedir dos animais.

Além do operador, uma atendente, um motorista, e um funcionário do setor administrativo dividem as funções no crematório. A cadela Pretinha fica na parte externa. “É minha companhia. Ela estava abandonada na BR-040 e eu a adotei. Ela me dá notícia de tudo”, brinca Santos sobre o cargo de guardiã dado à cachorra.

Ainda na Grande BH, outro espaço recebe animais para enterro e crematório. O Cemitério dos Animais fica em Betim e funciona de segunda a segunda desde 1998.

José Maria Camargo, o proprietário, contou que a ideia de criar um cemitério para animais surgiu com uma perda. Max, um cão pastor, viveu mais de 15 anos com o dono, porém quando o cachorro morreu, Camargo não conseguiu sepultá-lo “dignamente”. Alguns anos depois, o local seria inaugurado.

Segundo os donos dos espaços, os clientes normalmente são da capital mineira. O preço para um animal ser cremado individualmente varia entre R$ 830 e R$ 990. O proprietário pode escolher a cremação compartilhada, em valores que variam entre R$ 250 e R$ 500. Já no cemitério é cobrado R$ 990 para o sepultamento. O serviço inclui velório, transporte dos animais e o caixão.
É uma questão de conscientização. A gente escuta muitas vezes que animais são colocados em sacos para serem recolhidos. Isso traz diretamente uma contaminação nos lençóis freáticos."
Tadeu Gobetti, administrador de crematório de animais
Preocupação ambiental
De acordo com o administrador do Lumina Pet Memorial, o capixaba Tadeu Gobetti, de 52 anos, o crematório surgiu por causa de uma preocupação ambiental e também pelo respeito com a vida do animal, mesmo no momento da morte.

“É uma questão de conscientização. A gente escuta muitas vezes que animais são colocados em sacos para serem recolhidos. Isso traz diretamente uma contaminação nos lençóis freáticos. Eu tenho certeza de que se as pessoas tiverem a informação de que a cremação é um processo que não agride a natureza, vai haver uma preocupação com o destino que está sendo dado”, disse Gobetti.

Segundo o veterinário Bruno Rocha, presidente da Associação Nacional de Clínicas Veterinárias de Pequenos Animais (Anclivepa-MG), quando os animais de estimação morrem nas clínicas, os corpos são encaminhados para serviços especializados como crematórios e cemitérios licenciados.

Rocha destaca que a destinação incorreta dos animais mortos pode trazer danos não só para a natureza, como também para a população.
Luíza Glória disse que é considerada a 'Louca dos Gatos'. (Foto: Pedro Cunha/G1)Luíza Glória disse que é considerada a 'Louca dos Gatos'.
(Foto: Pedro Cunha/G1)
‘Louca dos gatos’
A radialista Luíza Glória, de 26 anos, é uma das que levou seu pet para ser cremado. A gata Seninha conviveu com Luíza desde que a jovem era uma criança de sete anos. A radialista contou que Seninha foi encontrada em um galpão na Região Oeste de Belo Horizonte. Desde então, foram quase 20 anos de companhia.

Segundo Luíza, depois de ter passado a “vida toda” com a gata, a cremação seria uma maneira de dar “continuidade ao ciclo”. “Ela [Seninha] me acompanhou, me viu crescer. Acompanhou toda a minha vida. Eu convivi tanto tempo com ela que não custava nada. Imagina ver a minha gatinha, que dorme comigo, no meio de uma caçamba”, disse Luíza.

Atualmente, a caixa com as cinzas da gata fica em um móvel do quarto de Luíza. Além das cinzas, a jovem também homenageou o seu animal de estimação de outra forma. A radialista tatuou, em seu braço esquerdo, uma das patinhas de Seninha. “Eu queria uma coisa dela para eu guardar para sempre”, revelou.

Quando Seninha se foi, em novembro de 2012, não demorou muito para outro gato cruzar o caminho da jovem. Na mesma rua onde Seninha foi encontrada, estava o novo animal de estimação, o gato Napoleão, depois de exatos 20 anos. Coincidência ou não, Luíza o levou para casa, que, segundo a jovem, é “quase uma ONG”. “São quatro gatos. É praticamente um gato para cada membro da família. Sou considerada a louca dos gatos”, brinca a radialista.
O gato Napoleão (esq.), e a gata Seninha, que foi cremada em novembro de 2012. (Foto: Luíza Glória/Arquivo Pessoal)O gato Napoleão (esq.), e a gata Seninha, que foi cremada em 2012. (Foto: Luíza Glória/Arquivo Pessoal)

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