Os maoístas estão voltânduuu… Estão voltându os maoístaaasss… Ou: Os derrotados de 1964 e de 1968 oprimem como comediantes o cérebro dos brasileiros vivos e tentam impor a sua agenda morta. Ou: REACIONÁRIOS SÃO ELES!!!
A
obra mais famosa e citada de Marx, “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”,
talvez tivesse sido mais bem compreendida pelas esquerdas brasileiras
se, logo nas primeiras linhas da tradução para o português, se tivesse
optado por uma palavra em lugar de outra: em vez de “farsa”, “comédia”.
Assim, teríamos: “Hegel observa numa das
suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na
história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de
acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como COMÉDIA”. Como
é sabido, em vez de “comédia”, aparece, em todas as traduções, a
palavra “farsa”. Seria exato se, entre nós, se tivesse conservado o
sentido primeiro do vocábulo, que remete, a exemplo da tragédia, ao
gênero dramático, à representação teatral burlesca, ao cômico. Ocorre
que tomamos habitualmente o vocábulo “farsa”, e já há muito tempo, como
sinônimo de mentira, de armação, de falsificação da verdade, de embuste,
de distorção da realidade. Assim, pode-se dizer: “O moralismo petista
sempre foi uma farsa” para designar: sempre foi falso, hipócrita, mero
instrumento de ludíbrio das almas pias.
Ora, é
claro que não era esse o sentido original do texto marxiano, não é? Luís
Bonaparte era, afinal de contas, de verdade. Marx o considerava tão
representativo do, digamos, “modo burguês” de manipular a política, que
dedica um livro ao “golpe” que deu — segundo o autor, nem era seu, mas
de uma classe, de que era títere e bufão. O evento foi, na sua leitura e
de acordo com a metáfora escolhida do gênero dramático, uma “farsa”:
uma peça burlesca, ridícula, que apelava ao grotesco. Por que essas
considerações? Sem ser marxista; sem acreditar, evidentemente, na
afirmação de que fatos e personagens ocorrem duas vezes (acho isso, de
verdade, uma grande bobagem), sinto-me tentado a olhar os eventos em
curso no Brasil com aqueles olhos com que Marx viu Luís Napoleão: já
vivemos a história como tragédia e, agora, nós a estamos experimentando
como comédia, como farsa, como acontecimento burlesco, como mergulho no
grotesco, no risível, na ridicularia.
É o que
vejo num país que, por exemplo, fez uma Comissão da Verdade para rever
fatos ocorridos há 50 anos, embora, entre um extremo e outro, tenha
havido uma Lei da Anistia. É o que vejo num país que agora decidiu
desenterrar cadáveres para dar corpo a teorias conspiratórias as mais
disparatadas. É o que vejo num país que decidiu reavivar uma espécie de
“Revolução Cultural à chinesa” como forma de revanche. Sinto-me tentado a
recorrer um tantinho mais ao texto de Marx: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. Mas mudo um pouquinho: “Os derrotados de 1964 e de 1968 oprimem como comediantes o cérebro dos vivos.
Queiram ou
não, gostem ou não, tenha-se em relação àqueles eventos a apreciação
que for, escolha-se, naqueles dias, um lado ou outro da batalha, o fato é
que os confrontos políticos de 1964, com desdobramentos em anos
posteriores, tiverem vitoriosos e derrotados. Os métodos de um lado e de
outro repudiavam, por princípio, a democracia. Crimes os mais
asquerosos foram cometidos em nome do regime — ou pelo próprio regime — e
também por aqueles que queriam derrotá-lo. Não entro no mérito se
moralmente se equivaliam ou não porque também esse juízo só pode ser
feito de posse de um conjunto de valores. O fato é que o estado, como
ente neutro, fez — e ainda está fazendo; em muitos casos, de modo
indevido — a reparação àqueles que foram vítimas de arbitrariedades. E
não há nada de errado, entendo, nessa escolha. Pessoas (ou suas
respectivas famílias) que foram torturadas ou mortas nas mãos de órgãos
oficiais, como Vladimir Herzog ou Rubens Paiva (para citar dois casos
emblemáticos), têm de ter a devida compensação; é preciso que fique
claro que o estado se comportou de modo criminoso.
Mas aqui
cabe uma pergunta, e ela não busca anular ou relativizar a justeza das
reparações devidas: e os crimes cometidos pelas esquerdas? Quem faz o
mea-culpa por eles? Ora, não só não existe a admissão do erro como, ao
contrário, os criminosos de então, hoje atores ativos da política
institucional, falam de seu passado com orgulho. Também mataram. Também
seviciaram. Também aleijaram. Também organizaram tribunais de exceção e
de execução. E se deitam no berço dos heróis. Mais do que isso:
receberam indenização por isso. Dilma sabe que pertenceu a duas
organizações que mataram pessoas inocentes. Ou não sabe? De ambas, ela
foi dirigente — embora, consta, não tenha matado, com suas próprias
mãos, ninguém. Jamais deveria ter sido torturada, é evidente! Mas o
orgulho por seu passado, não há como, é descabido, especialmente quando
pronunciando, como já foi, em solenidades oficiais. O estado de hoje,
cumpre notar, também é o estado que abriga as famílias e descendentes
daqueles que o Colina e a VAR-Palmares mataram. Sigamos . Também é o
estado de milhões de pessoas que repudiam as teses em nome das quais
aqueles grupos se organizaram.
Se é
cabida, sim, a reparação para aqueles que foram torturados ou mortos nas
mãos do estado, a existência de uma “Comissão da Verdade” — para que os
vitoriosos de agora (e foi a democracia que lhes franqueou acesso ao
poder, não as teorias que organizavam a sua “luta”) contem, então, a sua
versão dos fatos, procurando vencer hoje uma batalha perdida há 50 anos
— é de um ridículo atroz, além de ser um processo essencialmente
autoritário. Poderiam, claro, criar a narrativa que bem entendessem,
recriar os fatos conforme demandasse a sua imaginação, rever os sucessos
daquele tempo pelo filtro de sua ideologia… Tudo bem! Este ainda é um
país livre. O que não faz sentido, o que é um despropósito, o que apela
ao ridículo, ao burlesco, ao patético, ao risível, é que o ESTADO NEUTRO
patrocine a versão de um dos lados da batalha. Mais: contra a própria
lei que a criou, a comissão já deixou claro que os crimes cometidos
pelas esquerdas não lhe interessam. O grupo existe para mandar para o
banco dos réus (moral, quando menos; criminal, se conseguirem torcer a
Lei da Anistia) os inimigos daquele tempo.
Comportam-se,
e isto é espantoso, como se tivessem vencido a batalha. E não venceram.
Foram derrotados de várias maneiras: a) no confronto com seus
adversários diretos; b) no confronto com a teoria (foi a resistência
pacífica ao regime que venceu); c) no confronto com a história: o
socialismo que professavam morreu, já foi, já era, não existe mais em
lugar nenhum do mundo. No entanto, o país está aí a se haver com a
Comissão da Verdade. Quem são esses? O que querem?
Sim, meus
caros, aquela geração que tentou o socialismo pela via armada — e é
mentira que essa escolha tenha sido feita só depois do AI-5 —
experimentou, então, a história como tragédia. E o reavivamento daquele
conflito (já que revivido não pode ser) é a história se manifestando
como farsa, como comédia, como ato burlesco, como coisa grotesca. Talvez
caiba nesse caso, também, o sentido que a farsa tomou entre nós: de
mentira pura e simplesmente, de armação, de trapaça, de engodo, de
ludíbrio. Vejo algumas personagens envolvidas com esse negócio: ou é a
geração que não teve receio de fazer as coisas mais estúpidas
(apresentando, depois, a fatura aos pósteros) ou são seus discípulos
intelectuais, acólitos que não têm nem mesmo a legitimidade de quem fez a
estupidez que era também de uma época. Assim, temos uma farsa
protagonizada, em alguns casos, por homens já fora de seu tempo, em
parceria com os farsantes de agora, que usam a tragédia do passado para
encenar a sua comédia. Por que digo isso? É evidente que o PT, que não
foi protagonista daqueles dias, se tornou o beneficiário da peça
burlesca. Houvesse um tribunal para julgar decisões estúpidas, lá
deveria figurar com mérito o PC do B, com a sua absurda “Guerrilha do
Araguaia”. Em vez disso, os heróis da própria estupidez são revividos
como mártires de uma causa que a esmagadora maioria do povo brasileiro
ignorou. Era, de qualquer modo, trágico. O que é cômico é que aquela
falsa gesta sirva hoje para que partidos de esquerda assaltem os cofres
do estado em nome daquela mesma mística. Ora, são ladrões como quaisquer
outros que fazem a mesma coisa. Com a diferença de que são, também,
ladrões da história.
A nova “Revolução Cultural”
O grotesco, o burlesco e o ridículo também se fazem presentes, revivendo a tragédia como farsa, nos debates que se realizam nas franjas da cultura e do comportamento. Os comediantes revanchistas que estão no poder decidiram pôr o estado a serviço, vamos dizer assim, das novas gerações de militantes, que, em muitos aspectos, lembram os bate-paus da “Revolução Cultural” maoísta, que durou 10 anos da China, entre 1966 e 1976. Mao decidiu dar início a um processo de depuração ideológica da sociedade para supostamente eliminar os resquícios de capitalismo, colonialismo e imperialismo que ainda existiriam na sociedade. E também para punir os próprios comunistas que eventualmente tivessem se desviado do caminho.
O grotesco, o burlesco e o ridículo também se fazem presentes, revivendo a tragédia como farsa, nos debates que se realizam nas franjas da cultura e do comportamento. Os comediantes revanchistas que estão no poder decidiram pôr o estado a serviço, vamos dizer assim, das novas gerações de militantes, que, em muitos aspectos, lembram os bate-paus da “Revolução Cultural” maoísta, que durou 10 anos da China, entre 1966 e 1976. Mao decidiu dar início a um processo de depuração ideológica da sociedade para supostamente eliminar os resquícios de capitalismo, colonialismo e imperialismo que ainda existiriam na sociedade. E também para punir os próprios comunistas que eventualmente tivessem se desviado do caminho.
Foram anos
trágicos, de terror. Os ditos inimigos do regime eram humilhados,
seviciados, expostos em praça pública, envergando chapéus que os
caracterizam como burros. Cartazes eram pendurados em seus respectivos
peitos e costas e, postas de joelhos, as vítimas eram alvos de
cusparadas coletivas. Os filhos eram estimulados a denunciar os pais,
vizinhos eram convidados a delatar vizinhos, colegas de trabalho se
transformavam em espiões do regime. Um objeto de decoração, uma roupa
considerada fora do padrão, um gosto qualquer tido como exótico, tudo
servia de pretexto para acusar o desvio ideológico.
Em pleno
2013, no Brasil, vivem-se — com traços de comédia de bufões — dias de
revolução cultural. E boa parte da imprensa, cumpre notar, opera a razia
contra a divergência, o contraditório e a pluralidade. Assim como os
maoístas criaram o seu rol de “pecados contra o regime e o socialismo”,
passou a vigorar por aqui uma cartilha informal do “pensamento
inaceitável” — ou do “pensamento aceitável”, o que dá quase na mesma.
Vejam o evento ocorrido em Brasília neste fim de semana. O estado
brasileiro financiou um encontro de pessoas que concordam entre si sobre
a descriminação da droga. A divergência foi, por princípio, eliminada.
Assim como os comuno-fascistas de Mao humilhavam seus opositores,
pondo-lhes na cabeça o chapéu de asno, os nossos reduzem a divergência
ao silêncio. É como se não existissem. Ou são eliminados da história ou
são, mesmo, ridicularizados.
Parece que
passou a vigorar em boa parte dos veículos de comunicação uma máxima
que seria espantosa nos meus tempos de redação: “Se estamos aqui a
combater alguns homens do mal, então podemos mentir, distorcer,
simplificar, avacalhar, ridicularizar”. Os homens de Mao queriam
eliminar os resquícios do que consideravam atraso. Os de hoje aderiram
às causas das chamadas “minorias” ou, então, a questões ligadas aos
costumes (drogas, por exemplo) como a nova face da “revolução”. É por
esse caminho, parece, que entendem que se vai construir o “novo homem”.
Peguem o
caso do deputado Osmar Terra (PMDB-RS). Com a cara mais limpa do mundo,
um repórter escreve num dos três grandes jornais do país que o cerne do
projeto do deputado contra as drogas é a “internação involuntária”. Ora,
isso é simplesmente mentira. Em quase todos os veículos se atribuiu a
seu texto a intenção de criar um cadastro de usuários. Também é mentira.
Vejamos o caso do Projeto de Decreto Legislativo que derruba um artigo e
parte de outro de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia.
Diz-se que a proposta permite a “cura gay”, o que é espantosamente
falso. Mentir, trapacear, distorcer, nada disso é parte da regra do
jogo. Opinião é, sim, parte do jogo. Mas o leitor tem de saber disso.
Assim como
os eventuais divergentes do maoísmo (ou acusados disso, não fazia
diferença) eram tomados como sabotadores do socialismo, os que não rezam
pelo “livrinho multiculturalista” são tidos como sabotadores do bem da
humanidade. Repetindo o comportamento dos próceres daquela “Revolução
Cultural”, quanto mais errados se mostram, mais arrogantes e violentos
se tornam; mais autoritários se mostram. Vejam o caso da descriminação
das drogas: o flagelo do crack, que hoje atinge todos os municípios
brasileiros, mesmo os pequeninos, deveria ter feito com que a conversa
da descriminação fosse considerada coisa quase de lunáticos. Mas se deu o
contrário: mais os militantes se organizaram, mais passaram a
hostilizar os seus adversários.
Caminhando para a conclusão
A ação dos protagonistas dessa farsa é irrelevante? Ora, claro que não! Os que revivem as tragédias de antes como a comédia bufa de hoje condenam, obviamente, o país ao atraso — que será eterno enquanto eles durarem por aí. Perguntem se a China de hoje perderia seu tempo debatendo a descriminação de todas as drogas — ou qualquer outro país que tenha algum anseio de futuro. Eles estão interessados por lá em outra coisa. Estão é de olho na revolução tecnológica — ainda que eu ache que aquele regime não deva inspirar ninguém.
A ação dos protagonistas dessa farsa é irrelevante? Ora, claro que não! Os que revivem as tragédias de antes como a comédia bufa de hoje condenam, obviamente, o país ao atraso — que será eterno enquanto eles durarem por aí. Perguntem se a China de hoje perderia seu tempo debatendo a descriminação de todas as drogas — ou qualquer outro país que tenha algum anseio de futuro. Eles estão interessados por lá em outra coisa. Estão é de olho na revolução tecnológica — ainda que eu ache que aquele regime não deva inspirar ninguém.
Cito o
caso chinês porque, afinal de contas, os “maoístas estão de volta”, não
é?, agora como comediantes. As ideias que vicejam hoje no Bananão — e,
em alguns aspectos, de modo ainda mais agressivo em outros países
latino-americanos — são ideias mortas, de gerações que foram derrotadas
pelos fatos, derrotadas pela história, derrotadas, se quiserem, pela
marcha do capital. Vejam a situação miserável em que se encontram as
nossas escolas. Um país governado por uma geração que não estivesse
revivendo a tragédia como farsa estaria, neste momento, empenhado num
programa de educação — e, sim, de repressão — que afastasse as drogas
das escolas, um dos fatores, como sabe todo professor, das redes pública
e privada, que afetam mais gravemente o desempenho não dos estudantes
apenas, mas do processo de ensino.
Mas quê…
Deixamos isso para os chineses, para o sul-coreanos, para alguns outros
países asiáticos. O negócio dos maoístas farsantes de agora, com sua
aparência supostamente moderna, é descriminar, como defendeu aquele
delegado, “a produção, a distribuição e o consumo de todas as drogas”.
Os estudantes que se danem. Os professores que se danem. Os brasileiros
que se danem.
A conclusão
Reacionários? Onde estão os reacionários? Reacionários são eles!
Reacionário é condenar o país ao atraso.
Reacionário é interditar o debate.
Reacionário é querer fazer a história andar para trás.
Reacionário é querer brincar, no Brasil de 2013, de França de 1968.
Reacionário é querer ganhar, no Brasil de 2013, o jogo perdido no Brasil de 1964. Reacionário é querer usar as crianças pobres como pilotos de prova de teorias supostamente libertárias de meados do século passado. Reacionário é querer corrigir a história que o povo se negou a fazer. Reacionário é querer alijar esse povo da escolha de seu próprio destino porque, a exemplo dos trágicos do passado, os comediantes de hoje também julgam ter a forma e o conteúdo do futuro.
Reacionário é querer facilitar, a crianças e jovens, o acesso à maconha, ao crack e à cocaína.
Reacionária, enfim, é a cultura da morte vestindo a bata branca da paz e da liberdade.
Reacionário é querer ganhar, no Brasil de 2013, o jogo perdido no Brasil de 1964. Reacionário é querer usar as crianças pobres como pilotos de prova de teorias supostamente libertárias de meados do século passado. Reacionário é querer corrigir a história que o povo se negou a fazer. Reacionário é querer alijar esse povo da escolha de seu próprio destino porque, a exemplo dos trágicos do passado, os comediantes de hoje também julgam ter a forma e o conteúdo do futuro.
Reacionário é querer facilitar, a crianças e jovens, o acesso à maconha, ao crack e à cocaína.
Reacionária, enfim, é a cultura da morte vestindo a bata branca da paz e da liberdade.
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