MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Cacto alucinógeno clandestino atrai turistas em deserto do México


Estrangeiros desafiam a lei e provam o peiote, que contém mescalina.
Planta é considerada sagrada pelos indígenas da região.

Da France Presse

Turista come o peiote no deserto do México (Foto: Alfredo Estrella/AFP)Turista come o peiote no deserto do México (Foto: Alfredo Estrella/AFP)
Depois de caminhar horas debaixo do sol, Gisele Beker, uma argentina de 26 anos, se adentra no vasto e espinhoso deserto de Wirikuta, no norte do México, em busca do peiote, um cacto alucinógeno proibido que os indígenas da região consideram sagrado.
Três amigos mexicanos a acompanham nesta aventura clandestina que a cada ano leva centenas de jovens locais e estrangeiros à terra ancestral dos índios wixárika (huicholes, em espanhol), convertendo esta remota zona do estado de San Luis Potosí em um famoso lugar de peregrinagem mística desde o fim dos anos 1970.
Peiote, cactus alucinógeno do deserto mexicano (Foto: Alfredo Estrella/AFP)Peiote (Foto: Alfredo Estrella/AFP)
Nada freia os turistas. Nem o agreste caminho, nem os oxidados cartazes que lembram que  "a extração e o tráfico de peiote é delito federal". Apenas ao escutar as palavras mágicas "queremos ir ao deserto", os guias da região identificam os interessados e oferecem em voz baixa seus serviços.
Mas Gisele e seus amigos, César, Eliana e Martín, preferem se lançar por sua conta ao deserto para desfrutar dessa viagem "introspectiva".
Depois de alguns minutos de caminhada, aparecem os pequenos cactos verdes e sem espinhas, endêmicos do norte do México e do sul do Texas (EUA), repletos de mescalina, um potente alcaloide alucinógeno.
Começam os rituais: pedir permissão ao deserto de Wirikuta, onde os huicholes acreditam que se criou o universo e que a Unesco incluiu em 1988 em sua Rede Mundial de Lugares Sagrados Naturais. Depois há que se deixar uma oferenda à planta, cortar só a carapaça, colocar um pouco de água no peiote e em seguida começar a comer seus "gomos".
"É como uma fruta, carnosa, mas muito amarga", descreve Gisele.
Peiote, cactus alucinógeno do deserto mexicano (Foto: Alfredo Estrella/AFP)Visitante segura vários peiotes na mão
(Foto: Alfredo Estrella/AFP)
O respeito à planta sagrada
Para os huicholes, o hikuri (peiote) é um produto sagrado, via de comunicação com seus deuses. Anualmente, a comunidade organiza uma peregrinação à região dirigida por um xamã, que pede bençãos e faz oferendas ao peiote.
As experiências variam de acordo com a pessoa, mas o peiote pode aguçar os sentidos e provocar constantes vômitos até levar a incríveis experiências alucinógenas ou a uma "viagem ruim", com sensações desagradáveis.
Conhecido na região como "o chefe do deserto", José Luis Bustos, de 67 anos, acompanha há duas décadas os turistas que querem provar o peiote, partindo de sua casa humilde no coração de Wirikuta.
"O peiote não é droga", adverte, "é uma planta sagrada e é preciso ter respeito por ela, e se alguém faz algo ruim, ele pode castigá-lo".
Ritual inclui molhar o cacto com água (Foto: Alfredo Estrella/AFP)Ritual inclui molhar o cacto com água
(Foto: Alfredo Estrella/AFP)
Turismo controverso
Nos semiabandonados povoados dos arredores do deserto, em especial em Real de Catorce, antigo assentamento de mineiração convertido em ponto neurálgico para o turismo místico, não são poucas as histórias que se escutam sobre más experiências de visitantes que tiveram até que ser internados em clínicas psiquiátricas.
Um dos moradores lembra que há algum tempo uma turista anericano morreu no deserto após mesclar o peiote com outras drogas, e que as autoridades culparam os indígenas pelo problema.
O turismo é o principal sustento do povoado, que tem 10 mil habitantes: 40% dos visitantes são estrangeiros, que chegam principalmente dos EUA, da Espanha, da Itália e da Argentina.
O crescente turismo místico preocupa o prefeito da cidade, Héctor Moreno, que reconhece que falta "infraestrutura" para controlar o consumo clandestino e o tráfico ilegal desta planta, que só está permitida para uso em costumes huicholes. "O peiote é exclusivamente para a cultura huichol. Aos demais, nos corresponde promover o respeito, cuidado e conservação", afirma.

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