MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pacientes esperam até três anos por cirurgia corretiva de visão no RS


Dois anos depois, RBS Notícias faz nova série sobre a saúde no estado.
E constata que a demora para atendimento no SUS continua a mesma.

Do G1 RS

Pesadelo na Saúde Série RBS Notícias (Foto: Editoria de Arte/RBS TV)
O descaso com a saúde foi uma das principais reivindicações de quem saiu às ruas do país para protestar, nos últimos meses. Mas a insatisfação não é novidade nem para as autoridades: uma pesquisa encomendada pelo governo gaúcho e feita em janeiro já mostrava que, para 40% da população, o maior problema do estado é o sistema de saúde pública.
Em 2011, o RBS Notícias apresentou, durante uma semana, as dificuldades de quem dependia do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. Dois anos depois, pouco mudou na vida daquelas pessoas e também de outras. Na primeira reportagem da série o Pesadelo na Saúde, você vai ver que pacientes chegam a esperar três anos por uma cirurgia para corrigir problemas de visão no estado (veja o vídeo abaixo).
Dois pacientes, o mesmo drama
O preparador de automóveis Flávio Saraiva Calage tem 31 anos e quase já não enxerga. Só foi diagnosticado com descolamento de retina aos 25, quando já era tarde. Ficou cego do olho esquerdo. Começou, então, a buscar tratamento para o direito, que tinha o mesmo problema.

“Se a gente tivesse condições de fazer a cirurgia particular há sete anos atrás, a gente teria feito”, diz a dona de casa Cristiane Munhoz, mulher de Flávio. “Tem muita coisa que depende do dinheiro. Se tem dinheiro, vai ali e faz particular. É tudo para ontem”, acrescenta Flávio.
Sem recursos para pagar o procedimento, Flávio teve que esperar pelo SUS. A cirurgia foi realizada, mas três anos depois, quando a visão dele já estava limitada a 35%.
“Sinto dificuldade até para trabalhar sabe, para andar na rua de noite, passo pelas pessoas e não vejo”, diz ele. “Nesses anos, de ano em ano que se ficou esperando, o problema só se agravou”, constata Cristiane.
De fato, a situação piorou. Dois anos atrás, Flávio descobriu que precisava ser operado de novo. Desta vez, de uma catarata. E a cirurgia ainda não foi agendada porque, segundo Flávio, o problema ainda não é grave.
“Eles mandam voltar que não é o caso de operar agora, que está muito pouco, que tem gente com prioridade na frente”, diz Flávio. “É que, na verdade, eles falam que tem que tem que agravar bem a situação, entendeu?”, explica Cristiane.
Só que voltar a ser atendido também não é fácil. A próxima consulta com o especialista é aguardada desde dezembro de 2012. Enquanto aguarda, o preparador de automóveis tem de conviver diariamente com o medo de perder o que sobra da visão e ficar completamente cego.

O caso de Flávio, infelizmente, não é exceção. A aposentada Antônia Severo foi uma das personagens da primeira série sobre o caos na saúde porque, enquanto aguardava por uma cirurgia, estava ficando cega.
Ela conseguiu a cirurgia, mas graças a um médico que se ofereceu para fazer o procedimento, depois de três anos de espera. Só que, agora, ela precisa ser operada por outro especialista e está de volta à rotina do SUS. Espera e mais espera.
“Faz exame disso, faz exame daquilo. Só que os exames eram marcados para um mês um, para um mês outro, para outro mês outro. E assim foi”, relata a filha, Elisa Severo.
A espera é tão longa que a aposentada já pensou em não buscar mais tratamento. “Eu, por mim, queria desistir, mas ela (a filha) não deixa”, diz. “Eu acho que não vale a pena assim, estar se esforçando demais, perder tempo. A gente também fica atacada dos nervos”, completa.

Especialista sugere melhor administração do SUS
A catarata é a maior causa de cegueira curável, segundo um estudo da Fundação Oswaldo Cruz, ligada ao Ministério da Saúde. A pesquisa estima que dois terços dos casos poderiam ser evitados se tratados a tempo.
Para o chefe do setor de transplantes da Santa Casa de Porto Alegre e membro da Academia Nacional de Medicina, José Camargo, o problema não está no SUS, mas na administração dele.

“Nem tudo é possível colocar no sistema de computação. Não há programa perfeito desse jeito. Então, o que tem que haver: pessoas em posição de decisão, que arbitrem essas coisas. Às vezes, a obsessão por cumprir o ritual da regulação acaba determinando esses absurdos, com prejuízo pessoal irreparável”, opina o médico.
Enquanto isso, a busca de Antônia e da filha pelo tratamento continua. “São muitas barreiras que a gente tem que ultrapassar. E por ela eu faço tudo, porque ela me criou, e eu não vou desistir”, diz a filha, emocionada.
O que também não mudou foi o motivo pelo qual dona Antônia quer voltar a enxergar. “Eu penso assim, de querer a minha saúde, a minha visão, para ajudar os necessitados, porque se a gente ajuda as crianças, por exemplo, tá ajudando o país, o mundo. Ainda penso que o mundo vai mudar, se Deus quiser”, conclui a aposentada.

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