MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Em dois meses, mais de 40 morrem à espera de transplante de rim em SE


Associação acredita que os números podem ser maiores em julho e agosto.
Secretaria de Saúde disse que em 2012 investiu R$ 5 milhões.

Do G1 SE

Sergipanos fazem hemodiálise  (Foto: Marina Fontenele/G1)Sergipanos fazem hemodiálise (Foto: Marina Fontenele/G1)
Mais de 40 pessoas morreram à espera de um transplante de rim, nos meses de maio e junho deste ano, de acordo com a Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Estado de Sergipe (Acrese), que acredita que os números possam ser maiores nos meses de julho e agosto.
Uma realidade que vem sendo mais agravada com a suspensão, em fevereiro de 2012, das duas equipes que realizavam transplantes no estado. Uma delas liderada pelo médico Ricardo Bragança.  “Paramos porque o doente começou a ser colocado em risco e os resultados caíram. O último transplante, por exemplo, colocamos o rim e três dias depois tivemos que retirar porque não funcionava mais. Nós últimos quatro anos boa parte dos pacientes que transplantamos voltavam para a máquina para fazer hemodiálise”, informa o médico, que ainda compara: “Na Europa passou de 12h, o rim é rejeitado, aqui passa 30h pra poder começar o transplante”.
Ricardo Bragança é pioneiro em transplantes de rim no estado (Foto: G1)Ricardo Bragança é pioneiro em transplantes
de rim no estado (Foto: G1)
Antes de interromper os serviços, as equipes elaboraram, em 2012, um documento para o Conselho Regional de Medicina, Ministério Público, Secretaria da Saúde e aos pacientes renais crônicos. O documento informa as falhas para a realização de transplantes no estado.  A repercussão foi a público e a Secretaria de Saúde informou que iria rever toda a situação.
“Até hoje nada foi feito. Por exemplo, nós temos pessoas capacitadas para realizar a biopsia, mas falta material para provocar a reação química da análise, o reagente. A Secretaria da Saúde disse que vai comprar e nunca compra. Com isso apelamos para laboratórios em São Paulo, e às vezes o resultado demora mais de 30 dias para sair. É perdido um tempo hábil e necessário, já que a biopsia é esclarecedora. Mas não é possível fazer isso aqui em Aracaju”, relata o médico.
José Domingos Leite tem uma rotina definida pelos dias de tratamento (Foto: Marina Fontenele/G1)José Domingos Leite tem rotina definida
por tratamento (Foto: Marina Fontenele/G1)
Luta dirária
José Domingos Leite, 42 anos, sai de Itaporanga D’Ajuda três vezes por semana para fazer hemodiálise na capital. A rotina é a mesma há 13 anos, e continua sem previsão para que o problema do paciente seja resolvido. Com a interrupção das cirurgias de transplante de rim em Sergipe, ele luta para não perder a esperança. “A gente está se acabando na doença e o estado não ajuda a gente. Se o transplante tivesse sendo feito aqui e se as pessoas se conscientizassem e autorizassem a doação dos órgãos dos seus entes queridos a nossa dor seria menor”, desabafa José Domingos.
De acordo com o presidente da Acrese, Edijunior Vieira da Silva, que também faz hemodíalise, desde 2011 existe uma verba na Caixa Econômica no valor de R$ 1 milhão para a construção de um Hospital de Transplantes. “O estado precisa entrar apenas com R$ 300 mil. Com esse valor seria possível construir até um laboratório de DNA, interessante para o Instituto Médico Legal (IML). Mas o Estado não tem interesse”, afirma Edijunior que participou do projeto.
André Fonseca, Gerente de Manutenção do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), informou que existe o projeto, mas não há recurso destinado para a construção. “Estamos aguardando uma fonte para iniciar as obras”, contesta.
Para coordenador ausência de verbas é um dos problemas (Foto: G1)Para coordenador ausência de verbas é um
dos problemas (Foto: G1)
Transplantes por heroísmo
A equipe de Bragança realizou 70 transplantes de 1985 até 2011. Em São Paulo, somente em janeiro e fevereiro de 2012 foram realizados 226 transplantes, segundo os dados da Central de Transplantes do estado. “O nosso resultado é baixo. Poderia ser melhor, mas o estado é omisso. Não há laboratório, biopsia, nada. O que fizemos foi transplante por heroísmo”, declara Bragança.
“Nós não temos a condição ideal, mas temos condições de fazer”, responde o coordenador da Central de Transplantes, Benito Oliveira Fernandez. Para ele, a ausência de logística favorável, divulgação de campanhas publicitárias e parceria com todos os segmentos da sociedade são um dos principais problemas.

“A demanda em todo o estado é muito grande. São mais de mil pessoas que perderam a função renal. Desse total 50%, em média, podem necessitar de um transplante”, disse ele.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Saúde informou que não há desassistência em casos de cirurgias que não são realizadas no estado. Em 2012, 377 usuários foram encaminhados via Tratamento Fora de Domicílio (TFD), para a realização de algum tipo de transplante em outros estados. O Governo de Sergipe investiu mais de R$ 5 milhões. Já até julho de 2013, 277 sergipanos que precisavam de algum tipo de transplante foram encaminhados pelo TFD.

Nenhum comentário:

Postar um comentário