MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 18 de janeiro de 2014

Baixa procura por mão de obra dificulta saída de imigrantes no Acre


Com pouca saída, abrigo sofre com a superlotação.
'A documentação está fluindo normalmente', afirma secretário

Veriana Ribeiro Do G1 AC

Thelot Abelandy está há um mês no abrigo  (Foto: Veriana Ribeiro/G1)Thelot Abelandy está há um mês no abrigo (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
Há um mês o haitiano Thelot Abelandy, de 26 anos, chegou ao abrigo de imigrantes, localizado na cidade de Brasiléia, em busca de uma vida melhor e emprego no Brasil. Com o passar dos dias e a falta de empresas a procura de empregados, ele começou a se preocupar. "Não quero ficar aqui [no abrigo], quero conseguir trabalho pra mandar dinheiro pra minha família", diz.
Mesmo com todos os documentos, ele não consegue sair do abrigo. Thelot conta que deixou para trás a esposa e o filho, fez o caminho mais usado pelos imigrantes haitianos que chegam ilegalmente no país. O percurso inicia na capital do Haiti, Porto Príncipe. De lá, os imigrantes vão de ônibus até Santo Domingo, capital da República Dominicana, que fica na mesma ilha. Compram uma passagem de avião e vão até o Panamá. Da Cidade do Panamá, seguem de avião ou de ônibus para Quito, no Equador.
Por terra, vão até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passam por Piura, Lima, Cuzco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com Assis Brasil (AC), por onde passam até chegar à Brasiléia.
"Eu passei por muito problemas, não tinha comida, tiraram meu dinheiro, meus sapatos, me tiraram tudo no caminho. Eu tive que pedi para o meu pai por mais dinheiro, para conseguir chegar até o Brasil", lembra Thelot.
O estudante de Ciências Econômicas Saint Victor Frantzno, de 25 anos, também abandou o Haiti. Ele diz, emocionado, que espera encontrar a irmã, que já mora no Brasil. "Não sei o nome do estado, mas falei com ela por telefone. Todo o resto da minha família ficou no Haiti. Minha mãe já faleceu, mas meu pai e meus irmãos estão lá", conta.
Ele espera conseguir um emprego e retornar os estudos. "Trabalho no Haiti não é impossível, mas é muito difícil. Meu pai me ajudou a pagar meus estudos, a comer, pagou tudo. Eu quero ajudar a mim mesmo e meu irmão", diz
Saint explica que decidiu ir pelo caminho ilegal porque, mesmo com as dificuldades do percurso, é mais rápido do que pela embaixada, mas até agora não sabe se tomou a decisão mais sábia. "Eu paguei o dinheiro e vim. É difícil conseguir o visto no Haiti, é muito difícil. Eu escolhi esse caminho porque é mais fácil. Não sei se foi a melhor decisão, viver aqui é muito difícil, dormir, comer, é tudo difícil", afirma.
Haitianos fazem cadastro e recebem documentos normalmente (Foto: Veriana Ribeiro/G1)Haitianos fazem cadastro e recebem documentos normalmente (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
Falta de empresas
O secretário de Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, explica que a crise enfrentada neste início de ano é diferente do que ocorreu em 2013. A falta de empresas em busca da mão de obra dos imigrantes estaria diminuindo o fluxo de saída, enquanto um número alto de pessoas estão entrando pelas fronteiras.
"No ano passado, os imigrantes se acumularam porque a Polícia Federal, a Receita e o Ministério do Trabalho não davam conta de documentá-los. Agora a documentação está fluindo normalmente, o problema são as instalações e o contingente de imigrantes que estão chegando em um número assustador. Não temos como abrigá-los, a não ser que passemos a edificar, readaptar dois ou três novos abrigos", explica.
O secretário conta ainda que as empresas que procuram contratar imigrantes diminuem a procura de contratações nesta época do ano, o que dificulta a saída dos imigrantes para outras partes do país. "As empresas param de contratar no final do ano, é período de férias, planejamento, tradicionalmente elas começas a trabalhar de forma continuada a partir de março", diz.
Damião Borges é coordenador do abrigo de imigrantes em Brasiléia. Há anos ele trabalho no abrigo e explica que muitas empresas desistiram de contratar imigrantes durante, principalmente na área de construção. Ele acredita que muitas empresas não estão vendo mais vantagens nesse tipo de contratação.
"As empresas também dizem que de 10 que eles levam, cinco desistem do trabalho com 30 ou 60 dias. Aí elas ficam retraídas. Diminuiu por esse fator. Mas ainda tem procura, essa semana embarquei 150 trabalhadores para uma empresa do Rio Grande do Sul. Nos últimos dois anos, mais de 300 empresas já vieram buscar imigrantes. Ultimamente vem mais na área industrial, abatedores de carnes bovinas, aves e suínas. A construção parou de vir buscar", diz
Com capacidade para 300 pessoas, abrigo aloja cerca de 1200 imigrantes (Foto: Veriana Ribeiro/G1)Com capacidade para 300 pessoas, abrigo aloja cerca de 1200 imigrantes (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
Abrigo
Atualmente, encontra-se no abrigo cerca de 1200 pessoas, sendo que o local só tem capacidade para alojar 300. A estrutura é precária, com banheiros sujos, colchões velhos jogados pelo chão e pouco espaço. De acordo com o secretário de Direitos Humanos, o local passa por uma crise.
"Estamos vendo que a parte física do abrigo está deteriorada. Os colchões todos precisam ser trocados. A empresa tem dificuldade de servir mais de 3 mil pratos por dia, para uma empresa pequena aqui de Brasiléia. Já estamos em uma situação sem saber exatamente como conduzir tudo isso", diz.
Mourão, afirma no entanto, que algumas medidas já foram tomadas para melhorar a situação. "Determinamos uma limpeza geral no abrigo. Para evitar a propagação de doenças, estamos trazendo uma equipe da Secretaria Estadual de Saúde para o abrigo e evitar doenças contagiosas. Estamos providenciando a troca de colchões, reforçar o tablado, ampliar os nossos serviços. Mas a médio prazo isso é insustentável", afirma.
Apesar de ter feito o pedido de fechar as fronteiras, o secretário não acredita que essa possibilidade será aceita."Eu não vou mais insistir nessa ideia, o governador me fez perceber que o Brasil não tem essa tradição de fechar a fronteira e não vai se empenhar nessa ação. Ele está preferindo um dialogo mais intenso com o governo federal, para buscar alternativa", diz.
Para Mourão, uma possibilidade é a criação de outros abrigos para separar o contingente de pessoas. "Talvez [a construção de] dois abrigos, um exclusivo para mulheres e crianças, outro pra dividir esse contingente. Mas poderemos continuar fazendo abrigos , porque eles continuam chegando. Ou que seja feito um esforço grande de contratações, para que eles possam ir para seus destinos", afirma o secretario estadual.

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